sexta-feira, setembro 28, 2007

versos para minha mulher que ficou. (para deni, com admiração)

Amor dos espaços vazios e dos silencios
diurnos, corpo quente.
força das coisas singelas como a frangância
das horas plenas no bosque.
taça de afeto quente servida no vinho
dos beijos do tempo
te amo, e é pouco dizer isso assim.
Amo o olhar do teu olhar que vem do nada
em minha direção,
e o espirito das coisas sem centro nem queda
que gravitam no labio
de sua sinceridade profunda,
apesar de tão triste, ou justamente por isso.
compreendes a finalidade da dúvida?
tens a medida exata do mêdo?
amas o desconhecido que se esgueira nas convulsões
de desdém que padeces?
com a forma esguia de teu corpo construo a ponte
de vidro e de sonho
para atravessar os abismos
meu bem.
que bom que ficaste e essas não são as minhas ultimas palavras
sobre teu misterio
negra mulher dos meus gozos e filosofias
em vão.
amo-te imcompleto e sem certezas
para te ofertar o meu ser e não as minhas promessas.
ne guerra de cada dia e no repouso noturno
após nossos nirvanas a dois.

minha garota morta (ou a mentira requintada)

Minha garota morta foi uma manhã de sol e chuva quando meus dias eram áridos. As gotas de sua presença regaram a secura do solo possibilitando o germinar de flores amenas, eu que já não cria em jardins assisti ao milagre colorido de amar por inteiro sentindo a dor sagrada de ser surpreendido.
A garota foi um acidente de luz em uma larga jornada nas trevas, e como toda luz não podia ser assimilada aos momentos escuros, não permitiu o determinismo intrínseco dos fatos que ela fizesse parte dessa minha jornada. A luz que ela trouxe unida à brisa fresca e serena de alturas que não alcanço ficou guardada nos umbrais da minha memória sem voz. Não há paralelos entre isso que sou e que fui e o que ela trouxe para mim.
Um dia ela chegou e um dia ela partiu como um êxtase que vem sem causa e como um sonho que termina sem aviso. Tentei acreditar que eu pertencia aquele mundo enquanto durou a embriagues de seu contato, mas desisti ao olhar minhas mãos de sombra e ver meus passos dados no caminho que até ali me levou. De que valeria meu pranto? Quanta ignorância ele representaria; descontrai e deixei o curso do rio correr de acordo com seu fluxo, e minha garota morreu. Morreu para mim e para minha vida, muito embora esteja viva para sua própria vida. Em meu presente ela é uma dolorosa lembrança e uma tentação de crença que evito. Não posso ceder ao esquecimento do que sou, muito embora isso seja incompleto por demais.
Hoje minha garota morta é uma metáfora da queda, uma síntese de minha desistência.
Seu contorno me toca o olhar cerro os punhos para não ceder aos apelos da luz em mim que a procura, sufoco esse grito com escuridão e realidade...mas a cada dia essa luz se esgota e meu mundo torna-se então o único mundo que conheço. Minha garota morta era um espelho da esperança que eu tinha, esperança de ser diferente de mim. E de que as pessoas fossem algo mais, além delas mesmas.

segunda-feira, setembro 24, 2007

consideração sobre o outro

ALgumas vezes falo o que não creio
por não crer
nas pessoas com quem falo.
e eu creio tão poucoem tão poucas pessoas...
(entre as quais me incluo algumas vezes)
que a fala fica reduzida a um brinquedo interessante.
Só existe sinceridade no interesse partilhado
que brota da dor comum,
somente na trincheira é possivel o entendimento.
todo o resto é poeira brilhante
soprada pela bôca do mêdo.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Lugar algum

Eu esperava pelo vento fresco das manhãs
antes do meio dia do trabalho interminavel
e não considerei todas as advertncias do bom senso.
Sedento que estava da alegria imensa de teu corpo
do beijo alegre de tua alma incandescente
da tristeza sutil de teu silencio enamorado...
fiquei sozinho.
atravessando o rio lethes em direção a outro eu
que eu não queria ser, pois não sabia o que seria.
E era a cura.
era a tempestade redentora para arrancar as raizes
do ressentimento
para espalhar sementes de outros pensamentos mais suaves
e felizes
talvez sem ti, minha delicada flor do vale mais profundo
sem minhas pernas entre as tuas no gozo desesperado
do ultimo nirvana...
sem a violencia de tua voz descontrolada
entoando a canção da liberdade,
com os meus papeis e os meus passos na alvorada
para lugar algum sem ti.