tag:blogger.com,1999:blog-329042942024-02-06T22:09:08.209-08:00o campo dos girassoisPalavras acidentais, produzidas em gesto espontâneo para desaparecer em seguida no turbilhão do nada.Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.comBlogger564125tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-54189644302103318102022-09-04T14:43:00.004-07:002022-09-04T14:43:37.906-07:00Felizes?<p> Ninguém que se sente alegre pergunta se a alegria é possível. Pela mesma razão ninguém se perguntaria se é possível ser feliz se feliz já fosse. Porém se é verdade que só quem não possui a felicidade pergunta por ela o contrário nem sempre é verdade. Há muitos infelizes esperançosos que sequer se atrevem a duvidar da possível ausência de significado intrínseco na palavra felicidade. Talvez esses sejam os maiores sofredores pois, se são infelizes, não chegam também a cogitar que tal infelicidade está bem distribuída por toda espécie humana embora habilmente escondida. Os sofredores autoconscientes, portanto, encontram-se duplamente abandonados e, frequentemente, sob duplo ataque: o ataque dos (supostos) felizes que consideram a felicidade obviamente possível e os infelizes esperançosos que receiam desesperar-se. Árdua solidão e escuro caminho o daqueles que precisam retirar das entranhas a capacidade de acreditar na possibilidade de alcançar um estado de espírito que nunca conheceram! Não seria tal esforço melhor empregado na tentativa de compreender melhor a natureza humana e saber se esses que se dizem felizes (e por isso nós causam inveja) na verdade nem sabem do que estão falando ao se manifestarem sobre o assunto. Afinal, quem se observa dia após dia, nas pequenas inquietações da rotina e rancores entorpecidos, o próprio estado de espírito no decorrer, digamos, de dez ou vinte anos? </p><p>A Felicidade, assim penso eu, é uma palavra que, embora pareça referir-se a um estado de ânimo, faz parte do vocabulário moral que usamos, assim como a palavra Honestidade. Dizer-se feliz é o mínimo que se espera de alguém que ainda quer se fazer respeitar perante os outros. Diante da pergunta: você ama seus pais? Quase ninguém titubeia. Antes de qualquer "porém" todos afirmam de maneira automática: claro que amo! No mínimo se optará por um dos pais ou por alguma outra pessoa que exerceu esse papel. Imagine qual seria a atitude da audiência caso a resposta fosse um sumário e absoluto 'Não'? Amor, gratidão, felicidade são palavras que compõem nosso vocabulário de autorespeito. A incapacidade de incorporar essas palavras a nossa história pessoal representa, aos olhos alheios, um motivo para crítica, depreciação ou, no melhor dos casos, piedade. O infeliz, o não grato, é tomado por lamuriento, narcisista e ingrato quando não coisa pior e não há nada que se possa fazer a esse respeito. Tal é a natureza da moral; premia os hipócritas e castigada os incapazes e sem forças para a hipocrisia. </p><p>Afinal, se de fato as pessoas são assim tão felizes o que explica a constante e reforçada multiplicação dos esforços para obter satisfação? Viagens, popularidade, likes em redes sociais, comprometimento político, peso adequado, coachs, igrejas etc, etc? Se os sofredores nada podem contra a exigência universal de felicidade então sua única alternativa é juntar-se aos que os criticam ou deitar abaixo suas ilusões. Esse último caminho é o que desejo explorar.</p><p><br /></p>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-52869412662664210562022-08-20T17:12:00.001-07:002022-08-20T17:12:26.300-07:00<p> </p><p>Me pergunto as vezes porque continuo vivendo, porque não desisto de tudo já que quase nada me proporciona alegria. As mulheres me atraem mas não me causam estímulo para paixões ou sentimentos mais fortes que simples lampejos de breve desejo. Lugares a visitar tampouco me estimulam a imaginação. Até minha curiosidade se entorpeceu. Há alguns momentos de alegria; quando passeio na praia, quando levo a passear os cachorros. Conversar com minha filha e imaginar que lhe asseguro um futuro melhor que o meu também dá-me algum sentido de propósito. Será que essas poucas alegrias bastam para justificar os cansaços, ocupações, temores e angustias que me obrigam a tomar remédios para dormir, para não deprimir, para não perder o controle sobre meus sentimentos? Será que, além das razões que listei há outros motivos escondidos para explicar minha resignada e organizada disciplina que me mantém funcional? Será que são necessários motivos ou simplesmente vivemos ou morremos de acordo com forças que escapam a qualquer justificativa ou explicação? Voltando do trabalho me perco nessas divagações sem propósito.</p><p>Talvez viver seja apenas um hábito e a maneira como vivemos é a forma que esse hábito assume. Podemos contar uma história sobre o hábito, suas vantagens e consequências, mas um hábito é um hábito e nada mais. As vezes chamamos a um hábito vício; quando nós causa mal e não conseguimos abandonà-lo. O mesmo talvez possa ser dito da forma como se vive; no meu caso creio que me habituei a uma vida sem propósito. Esqueci, ou nunca aprendi, como se sonha e se ama. </p>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-74044733226404126272021-01-13T14:42:00.001-08:002021-01-13T14:42:08.399-08:00Apocalipse 3:16<p> Existe alguém agora </p><p>Sentado em um quarto </p><p>Sozinha ou sozinho </p><p>Ouvindo músicas tristes </p><p>Bebendo, fumando...</p><p>talvez as duas coisas ou nenhuma.</p><p>Quem se importa?</p><p>Estão por si mesmos </p><p>E até contra si mesmos </p><p>São aqueles que voam </p><p>Ou que caem no abismo.</p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-64157624950337904742019-11-04T06:53:00.002-08:002019-11-04T06:53:49.418-08:00Um dia Ruim<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Agora eu estou
tentando ir por cima, na posição do missionário. Focalizando os peitos. Os
peitos sempre funcionam. Uma, duas, três, quatro, cinco....nada. O pau ainda
estava teso, mas o tesão não estava mais lá. Nada de gozada à vista. O folego
estava indo embora. Então ela pediu para ficar por cima e eu sabia que aquilo
não poderia funcionar de jeito nenhum. Não é uma posição confortável quando já
se está meia-bomba. Ela insistiu e veio por cima, estava empolgada. Cavalgou e
cavalgou, a concentração estava indo embora junto com o folego. Comecei a
escapulir pelas beirada a cada nova investida dela. Ela não percebia que aquilo
não estava dando certo? Em um último esforço desesperado pedi para ir por
detrás. Ela se virou e eu fui. Uma, duas, três...quase lá. Segurando os peitos.
Mantendo a mente focada naquelas coisas todas que devemos pensar nessas horas.
Ela já havia gozado, acho, mas esperava algo mais de mim. Não era possível
fingir nem escapar. Eu ia conseguir. Quase lá....<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Não consegui.
Arfando como um cavalo no final de uma corrida u virei para o lado limpando o
suor da testa com o antebraço. Ela me olhava com a cara de uma debutante que
ninguém tirou para dançar nos seus quinze anos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
-Porque você
está assim comigo ultimamente? Ela perguntou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
-Assim como?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
-Assim,
diferente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
-Ora essa. Não
tem nada de diferente. Eu brochei. Acontece.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
-Não, não é só
isso. Tem algo mais. A magia acabou não foi?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Não havia um
jeito de sair daquela situação sem transtornos. Tudo que eu dizia estava
errado. Uma brochada tinha mesmo tanto significado? Eu pensava que tinha sido
apenas falta de sorte, um dia ruim. As vezes os dias ruins se repetem, é
verdade. Mas ficar procurando um padrão em tudo não é uma coisa saudável. Eu só
queria escapar daquela situação, mas toda resposta que eu dava ia na direção
equivocada. De um momento para o outro uma ereção e uma ejaculação haviam se
transformado em um problema metafísico com profundas implicações morais. Em uma
certa altura não falei mais nada. Tudo era insano demais. Ela virou-se pro
lado, começou a chorar, a última fagulha de tesão que se escondia sobre as
cinzas do cansaço se apagou. Tudo que eu não queria era ter novamente uma
mulher molhando de lágrimas o meu colchão. O choro, a mera possibilidade do
choro, de uma mulher me faziam pensar as vezes no celibato definitivo. Depois
de algum tempo o assunto se esvaiu, ela levantou, se vestiu e foi embora. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Eu levante bem
depois, liguei o rádio; felizmente tocavam os noturnos de Chopin. Fui para o
banheiro. Liguei o chuveiro com água quente. Até os trinta tomei sempre banho
frio, não tinha chuveiro elétrico. Engraçado, até os trinta também não tinha
transado de modo regular. As metidas sempre eram muito raras. Também eram
mágicas, talvez por isso. Nada arruína mais a magia do que a obrigação. Pensei
em algumas metidas antes dos trinta. O pau voltou a subir.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com aquela espuma toda ali por perto não deu
outra: soquei uma.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Depois de terminar
fiquei pensando em que problema eu estaria metido se não tivesse mãos. <o:p></o:p></div>
<br />Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-86594121590233960452016-10-31T05:40:00.004-07:002016-10-31T05:40:50.064-07:00Na Terapia. <div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Agora os piores
dias já passaram, não há porque falar de tudo aquilo novamente. Não seria
honesto da sua parte. Seus problemas agora se parecem cada vez mais com os
problemas de todas as pessoas. Você ouviu a voz do bom senso, tentou ser justo
para com suas próprias necessidades e com as necessidades alheias. Evitou os
caminhos tortuosos, manteve sua palavra, deu escolha às pessoas e foi prático.
Sim. Você fez tudo desse modo não fez? Foi a um psiquiatra, fez Yoga, terapia e
quando o peso foi muito grande você não se embebedou como fazem essas pessoas
de pouca visão; você tomou os comprimidos receitados para a ansiedade, para a
culpa, para a dificuldade de dormir. Você tentou ajudar quando pôde, se
esforçou para fazer um bom trabalho. Agora quase tudo parece certo em sua vida.
Você está melhor a cada dia. Vive em uma casa ampla e iluminada e não em um
subsolo escuro; repleto de livros e poeira. É verdade que há muito tempo você
não escreve nada autêntico com mais de dez linhas. É verdade que você hoje teve
uma noite péssima porque sua médica começou a diminuir a dosagem de seus
comprimidos. ´Também precisamos encarar o fato de que você parece quase incapaz
de sentir tesão por qualquer pessoa, atividade ou pensamento. Mas esses são
estágios intermediários em seu processo. Afinal, você não está completamente
anestesiado não é? Você desfruta, eventualmente, de alguns momentos de carinho
e ternura na companhia de sua namorada, correto? Você também fica feliz com a
alegria de suas filhas e sofre quando sabe que elas estão sofrendo. Você também
não é completamente indiferente às lutas de seus irmãos. É tudo uma questão de
tempo e as coisas irão gradativamente se acomodar em um padrão mais
equilibrado, sem tanta intensidade, sem tanta frieza.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Sei, você acha
que não vai acontecer desse modo. Acredita que algo aí por dentro ficou
terrivelmente comprometido por suas escolhas ou por seu destino. É natural
pensar assim, já que você não se acha merecedor de nada de bom. Sabe, as vezes
nós nos defendemos da alegria. Como assim? Bem, é relativamente simples. Para
acreditar que merecemos coisas boas nós precisamos acreditar, em primeiro
lugar, que essas coisas boas existem ao nosso redor e que elas também estão
disponíveis para outras pessoas. Se a criança, visando defender-se das
frustrações, desvalorizar os bens do
mundo que a cercam ela também irá desvalorizar a si mesma; o sentimento que a criança tem de si mesma
depende em grande medida das experiências produzidas por sua relação com o
mundo que a cerca. Quando desertificamos
nosso mundo lhe tiramos o poder que ele tem de nos decepcionar, mas também lhe
tiramos a capacidade de nos alimentar. Muito poético? Apenas mais uma
explicação? O que você acha que pode conseguir além de explicações? Há, você
gostaria que eu conseguisse compreender, descrever, exatamente como você se
sente. Você acha que assim se sentiria menos só, menos perdido? Sei. Todos
pensamos isso. Mas, se minha explicação anterior estiver correta, há um obstáculo
que inviabiliza a realização desse seu desejo. Se de fato você desvaloriza tudo
que lhe cerca, como eu disse antes, você também irá desvalorizar todas as
minhas tentativas de descrever sua experiência pessoal. Por sentir-se
permanentemente ameaçado você sistematicamente evita e rejeita todos os
movimentos do mundo em sua direção. Como um rei que sofre da ilusão de governar
apenas uma população de miseráveis esqueletos você é ao mesmo tempo o homem
mais poderoso e o mais miserável do reino. Não há cura, pois pouco ou muito
todos sofremos de algum tipo de delírio. Contudo, existem possibilidades de
alívio se quisermos abrir mão de nossa posição segura em nosso trono e ir aos
poucos travando contato com as coisas reais, que não são nem esqueléticas nem
divinas. O mundo real da ambígua condição humana. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 11.0pt; line-height: 107%;">Bem, acho que nosso tempo acabou. </span>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-51873972998209485332014-04-20T07:31:00.004-07:002014-04-20T07:31:26.249-07:00Aos pedaços<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.142857551574707px; line-height: 18px;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 18px;">Então você vai dormir, exausto e desgastado, e acredita que terá um noite de sono profundo; no entanto sonha. Você está sendo fatiado, eviscerado, mas não sente dor. Seus pedaços deslizam por uma esteira onde milhares de outros pedaços também estão deslizando. Seu braço agora está na altura de sua cabeça, do lado direito, e do lado esquerdo sua coxa mutilada também desliza e você pensa "eu até que</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 18px;"> tinha pernas bonitas." </span></div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline;"><div style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 18px; text-align: justify;">
Então alguém pega sua coxa direita - só agora você percebe como seus pedaços são pequenos - e a coloca em uma lata de sardinhas ao lado do seu braço esquerdo. Você vê o cuidado da pessoa que faz isso e fica agradecido pensando " como seria ruim se ela deixasse um dos meus dedos de fora da lata." </div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 18px;"><br /></span></div>
<span style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
Você vê um óleo sendo derramado sobre seus fragmentos, em seguida a lata é fechada. Chega a hora de sua cabeça. Os dedos imensos te pegam e colocam na lata. Você até que sente um alívio. "pior era ficar sendo arrastado e mutilado na esteira." Depois vem o óleo e a escuridão. </div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
Você acorda. Tenta se levantar: não consegue. Seu pescoço doí quando você tenta virar. Está ali, de barriga para cima como uma tartaruga estúpida que foi vítima da brincadeira de um garoto mais estúpido ainda. Você gostaria de se lamentar, de pedir ajuda, mas se limita a suspirar e sorrir com sarcasmo dizendo para si mesmo:</div>
</span></span><br />
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.142857551574707px; line-height: 18px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 18px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 18px;">- Está ficando cada dia mais engraçado</span>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-1945893255136779522014-01-20T10:58:00.002-08:002014-01-20T11:16:24.020-08:00Como vencer Sendo um Perdedor. <div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #444444; font-family: "Arial","sans-serif";">Nunca
me senti muito a vontade entre outras pessoas. O pouco de
sociabilidade que tenho hoje foi resultado de um longo e penoso esforço para
direcionar minha misantropia incontornável. As salas de aula foram meu
primeiro contato com o inferno. Simplesmente detestava a escola. Não
gostava, principalmente, do permanente clima de competição entre as
pessoas; aquilo me cansava, me moia por dentro, e me fazia detestar ainda
mais os espaços públicos. Mas era inevitável que eu acabasse participando
de algum modo daqueles jogos, era isso ou o ostracismo, o subsolo do inferno.
Não preciso dizer que sempre me dei mal nessa tentativa, e não era o
único. Havia um outro garoto, acho que o nome dele era Gilmar. Era um
garoto magrela, de grandes orelhas, e um nariz que sempre era alvo das maiores
gozações. No futebol sempre levava rasteiras, ou pior, ninguém o escolhia
e ele ficava no canto comigo em silêncio. Não havia dúvida, Gilmar
era, assim como eu, um grande perdedor. Mas havia uma diferença
importante entre nós dois. Enquanto eu me lamentava ou escrevia poesias
Gilmar nunca dava a impressão de que estava na lona. Se alguém fazia uma piada
sobre seu imenso nariz ele fazia outra ainda maior sobre o mesmo
assunto. Se alguém falasse de sua magreza ele, com toda certeza,
tinha algo bem escroto para falar sobre isso. Gilmar não perdia tempo se
lamentando ou tentando impressionar. A atitude dele deixava todo
mundo atônito. Não disputava as garotas mais bonitas, ia sempre
certeiro naquela que ninguém queria chamar para dançar e a tratava como uma
princesa, de modo que as bonitas acabavam ficando com inveja. Gilmar
tinha estilo. Sempre estava no chão, mas aprendeu a fazer dali um
lugar bonito, digno, honrado. Com aquele garoto eu aprendi uma das
grandes lições de minha vida. Nunca o vi falando mal dos garotos que se davam
bem, nem das garotas lindas que não lhe davam condição. Seguia em frente, se
virava como o que aparecia, e se em algum momento ele chorou ou ficou
desesperado, nem eu nem ninguém jamais soube nada sobre isso. </span><span style="background: white; color: #37404e; font-family: "Arial","sans-serif";">Aprendi
a respeitar aquele sujeito. Ele de fato sabia como ser um perdedor com a maior
elegância. Com ele aprendi a fazer dos meus fracassos
excelentes exercícios para o meu estilo.</span><span style="background: white; color: #444444; font-family: "Arial","sans-serif";">Nesse
exato instante em que lembro das lições de Gilmar eu estou entornando a minha
terceira garrafa de vinho, sozinho e destruído. Há algumas horas atrás,
quando uma garota me disse que não queria mais me encontrar, eu não
lancei nada de triste ou dramático sobre ela; apenas falei coisas leves
sobre a necessidade de viver novas experiências e sobre o quanto queria
que ela ficasse bem. Acho que até comentei algo sobre um livro fantástico
que ela deveria ler e também sobre a minha necessidade de fazer uma longa
viagem - que não iria acontecer, claro - em breve, de modo que a
separação iria ocorrer de um jeito ou de outro. Ela desligou o telefone
sentindo-se uma boa pessoa, com certeza, mas eu fiz isso sentindo-me um velho
fracasso, mas é claro que ela não soube nem vai saber nada disso. Meu antigo
amigo sentiria orgulho de mim se pudesse me ver agora. Quase consigo ouvir ele
me dizendo: </span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #444444; font-family: "Arial","sans-serif";">"Nada
de dramas irmão, esses filhos da puta não merecem o banquete de ver os
deuses rastejando."</span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #444444; font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #444444; font-family: "Arial","sans-serif";"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="background: white; color: #444444; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ele sabia que as pessoas não tinham nada a ver
com esses cancros. Sabia manter as coisas leves e deixar que seguissem
como pudessem ser. Com toda certeza ele sabia que mundo era inocente e que,
se não podemos evitar a dor, pelo menos podemos ter o pudor de mastigá-la e
digeri-la sozinhos, ou apenas com algumas garrafas de vinho. E isso não me parece pouca coisa, pelo contrário, me parece que é a única coisa coisa digna a ser feita, a ação decisiva. </span><br />
<span style="background: white; color: #444444; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span>
<span style="background: white; color: #444444; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E lá vou eu para a próxima garrafa. </span></div>
</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background: white; color: #444444; font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-24758913099989476262013-12-28T06:19:00.001-08:002013-12-28T06:33:10.462-08:00EU OBSERVO<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 9pt;">Há noites que eu não posso dormir<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 9pt;"> de remorso por tudo o que eu deixei de
cometer.<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<i><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: blue;"><a href="http://pensador.uol.com.br/autor/mario_quintana/">Mario Quintana</a></span></span></i><span style="font-size: 9.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<i><span style="background: white; color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">As piores noites são aquelas em que
só se ouve o miado dos gatos no telhado. Talvez essas noites sejam tão
ruins porque o barulho que vem do
desespero dos vizinhos pelo menos serve para me
preencher com uma imensa sensação de que ainda sou humano; quando me faltam
esse ruídos sinto-me meio oco. Eu sei que dizer isso assim pode parecer um
pouco cruel. De fato, é cruel sim, mas fazer o que? Dizem que o nosso prazer
sempre depende do desespero de outra pessoa. Contudo, eu não posso ser responsabilizado pelo desespero
deles. Sim, disso eu não tenho nenhuma dúvida. Eu apenas moro no mesmo prédio
que eles. A culpa das suas aflições devia ser creditada a inúmeras e complexas
outras causas entrelaçadas, vícios e fraquezas,
vaidades e ilusões...enfim à várias formas de pequenas limitações que eram
potencializadas pelo acaso e pelo azar. Eu apenas sentia prazer em perceber-me
em cada uma dessas aflições. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Por exemplo, no apartamento do meu
lado esquerdo mora um casal. Ele trabalha em uma oficina mecânica, ela queria
ser dançarina quando era mais jovem. Ambos se conheceram em função do circulo
que frequentavam no ensino médio. Eles não escolheram se encontrar, o encontro
aconteceu por acaso. Da mesma maneira foi por acaso – por pequenos acidentes e
variações afetivas - que os dois se mantiveram
juntos por quase 10 anos (sei disso por causa das discussões, porque só moro
nesse prédio a 10 meses). Ela vive triste, com a sensação de que sua vida se
esvai e se esgota sem nunca culminar na realização de seus sonhos. Ele bebe
muito com os amigos do trabalho. Acho que também não gosta da vida que leva.
Ambos tem medo da vida lá fora, de não encontrar outra pessoa, de não conseguir
seguir em frente. Eles tem 03 filhos. O salário dele é muito baixo, e eu ouço quase
toda noite os dois se golpearem com palavras, como coelhos dentro de uma
armadilha, se machucando contra uma
situação da qual não existe saída. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">No apartamento da minha esquerda mora
um aposentado, um homem relativamente velho, embora ainda em forma. Recluso e
pouco sociável, ouvi dizer que era um professor aposentado e escritor. Nunca
nos falamos. Às vezes eu podia ouvir o barulho de sua
máquina de escrever. Às vezes o barulho de uma garrafa sendo jogada na parede
ou da música “A Cavalgada das Valquírias” podia ser ouvido no começo da
madrugada, mas essa não era a melhor diversão. Minha parte preferida do show
começava quando ele ligava para uma de suas namoradas. Geralmente ele namorava
garotas bem mais jovens, e, como seria de se esperar, muitas delas simplesmente
não o levavam a sério. Aquelas que eram bacanas com ele acabavam sendo punidas
pelo comportamento de suas antecessoras cruéis. Quando ele ligava para uma
dessas namoradas sempre era possível ouvir os seus gritos na noite:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">-Porque não atendeu o telefone? Onde
passou a tarde toda? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">As vezes as brigas eram em seu
apartamento mesmo. Podíamos ouvir seus xingamentos através da madrugada<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">-Maldita puta! Está me dando corno
não é? Eu sei que está! Quem é aquele maldito bombado com o qual vi você ontem?
Seu primo? Acha que sou idiota?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Essas discussões alimentavam a
imaginação dos outros moradores do prédio. Eles especulavam os motivos das
brigas e a maioria concordava que as meninas só procuravam o velho por causa de
seu dinheiro. Eu nunca aceitei essa tese. Para mim o velho tinha uma certa
magia, um ar de mistério e força que atraia as garotas como a luz atrai as
mariposas. O problema é que o efeito da atração não era grande o bastante para
sobrepujar o efeito de outras forças muito mais fascinantes, como a juventude,
as festas e a beleza: elementos que faltavam na vida do velho. Enfim, penso que
algumas delas gostavam mesmo dele, mas só por alguns breves momentos, logo elas
percebiam que a vida tem atrativos maiores que o misterioso fascínio daquelas
paredes cobertas de livros e de antigas batalhas. <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">Em noites como essa de hoje eu às
vezes posso ver o velho na varanda fumando um cigarro e olhando para o vazio.
Sua solidão dentro da noite se parece muito com a própria noite, os poucos sons
de gatos que preenchem o silêncio só ampliam de um modo absurdo o imenso vazio
do espaço. Hoje ele não está lá. Talvez esteja dormindo com uma nova namorada
e, momentaneamente, esquecido desse silêncio horrendo que cerca sua pequena
ilha de luz. Ambos sabemos que trata-se apenas de um intervalo, de uma breve
trégua, e que o caos logo irá brotar novamente em seu coração fazendo romper-se
as antigas cicatrizes. Mas por ora, pelo menos, tudo está bem para ele, mas não
para mim. De fora das suas amarguras, das amarguras de todos, eu sou aquele que
observa essa e muitas outras formas de oscilação lenta e constante. Variações
previsíveis, ciclos intermináveis de luta e paz, que eu observo de fora e por
isso mesmo não me surpreendo com nada. Nenhuma dor me surpreende, nenhuma
decepção me atormenta, pois eu já as vivi na vida daqueles que observo vivendo
ao meu redor. Por isso é que a dor deles me dá uma sensação de humanidade e na
ausência de um novo drama só me resta meu próprio drama incompreensível para
preencher a noite. </span><span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></div>
Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-44280213602958319712013-12-22T13:20:00.001-08:002013-12-22T13:38:17.854-08:00Para falar de Laura.<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">Porque
estou sentado em frente a esse computador frio escrevendo sobre Laura? Talvez
porque minha vida atualmente esteja tão sem graça como quando a conheci. Eu me
lembro daquela garota como quem se lembra da primeira visão do oceano depois de
cumprir anos de prisão. Lembro-me de cada pedaço de seu olhar infinito, de cada
misterioso balançar de cabelo; garota cheia de vida que queria descobrir um
pouco mais de cada coisa. Quando a conheci
eu era um sujeito de 40 anos, dando cursos de filosofia para jovens estudantes
de direito, envolvido em um casamento que mais parecia uma insípida e
complicada armadilha. Eu já havia entregado as pontas, desistido de sonhar os poucos sonhos que haviam sobrevivido aos
dias de penúria e ressurreição. A turma da qual Laura fazia parte não era das
melhores, nem ela era uma aluna particularmente exemplar. Na verdade, eu tinha
essa impressão, ela detestava filosofia e eu adorava saber disso. Pensar que
aquela linda garota, enigmática e doce estava se aproximando de um quarentão
decadente sem se impressionar com os milhares de livros que ele havia lido me
deixava fascinado. Laura e eu conversávamos horas e horas sobre coisas
absolutamente leves e sem profundidade. Tinha menos da metade de minha idade e
era linda... Sim, mais bonita que qualquer outra garota com a qual eu poderia
ter estado, mesmo em meus sonhos. <span style="background-color: white; color: #444444;">Não nos prometíamos nada, não
falávamos de amor, de paixão ou de futuro. Também não nos perguntávamos
um ao outro sobre os detalhes de nossas vidas. Eu me sentia leve e mais vivo falando sobre
coisas engraçadas ao invés de dissertar longa e cansativamente sobre o
significado de tudo, como costumava fazer com as outras pessoas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">-Eu
preciso de um dicionário para falar com você. – Uma vez ela me disse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">-E
eu de um escudo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">-Porque
um escudo? – ela perguntou fazendo uma linda cara espantada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">-Porque
esses olhos podem de abater como uma metralhadora antiaérea.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">Ela
ria de minhas piadas de homem velho. Dávamos longos passeios pela praia e uma
vez, apenas uma vez, passamos uma quente tarde chuvosa juntos. Aquela tarde foi um milagre. Em algum lugar do
universo, eu imagino, um velho e furioso engenheiro estava revendo seus
projetos e gritando para os seus subordinados:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">-O
que deu errado nessa maldita engrenagem? Como é que vocês deixaram um velho
patético e derrotado conquistar o lindo e virtuoso coração de uma garota como
essa? Vamos, vamos consertar isso, senão todo mundo perde o emprego!<span style="background: white; color: #444444;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #37404e; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">Mas apesar de todas as leis da física afirmarem
a impossibilidade de um encontro entre nós dois, foi naquela tarde de
trabalho e de chuva que, inesperadamente, ela deslizou para mim. Silenciosa e
com um milhão de astros a pulsar por detrás do olhar ela me presentou com um
raríssimo vislumbre do que deve ser a felicidade; misteriosa, esquiva e
imensamente corajosa nos gestos...o relato que agora lhes vou contar é o
testemunho de uma aurora no céu de um homem feliz só por poder recordar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #444444; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">Nossas agendas estavam apertadas e aquela era a
única oportunidade que iria surgir para nos encontrarmos em condições
apropriadas. Marcamos na esquina de uma rua onde morava um amigo que me havia
cedido o apartamento para nosso encontro. Não sei por que um motel não me parecia
adequado para aquela ocasião. Achei que
ela estaria nervosa ou envergonhada, mas não estava. Se alguma ansiedade
inquietava seu peito ela conseguia disfarçar muito bem. Subimos para o
apartamento, mostrei-lhe a casa e o quarto. Sentamo-nos na cama e nos beijamos
de um modo suave. Já experimentei
diversas variedades de mulheres e com essas mulheres um infinita diversidade de
formas de entrega; modos relutantes de chegar ao coito, jeitos violentos
de pedir pela posse, rituais complexos para chegar ao sexo.
Contudo, nada do que vivi se assemelhou ao modo como ela se deu pra
mim. <span class="apple-converted-space"> </span>Foi incrível a ternura com a qual lhe abri botão por botão
a leve blusa que lhe cobria os lindos seios enquanto sorrindo ela me observava,
como se cada gesto fosse decisivo. Depois de abrir a sua blusa eu a olhei nos seus olhos e
vi que reluziam, mas ela estava insondavelmente tranquila.
Não sentia medo do macho supostamente voraz, não estava insegura diante do
homem com o dobro de sua idade do qual sabia tão pouco. A sua beleza
frágil criava um desnorteante contraste
com aquele rosto tranquilo de quem estava no controle de tudo. Eu estava
fascinado! O restante de sua roupa e da minha desprendeu-se de nossos corpos
como as folhas no outono caem das árvores. Complemente nus fomos ao
encontro um do outro mesclando em cada gesto fome e ternura, cuidado e
violência; ela sabia me sugar como ninguém antes já o tinha feito. Eu lhe
retribui o carinho beijando cada centímetro de seu corpo moreno, de seus seios
bem modelados, passando minha língua em torno do bico e em seguida abrindo
minha boca molhada sobre eles Vi que ela gostava daquilo. Os sinais de sua
excitação estavam em seus suspiros, em seus olhos levemente abertos e na ponta
dos meus dedos que começaram a passear levemente por suas coxas até atingir o
meio de suas pernas. Alisei-a enquanto sugava os seus seios deixando-a se
contorcer um pouco mais com tudo aquilo. Não havia como ficar mais excitado,
algo em mim queria invadir aquele corpo esguio e suave como um bárbaro invade
um templo; por outro lado um apetite de beleza me dizia para prolongar tudo
aquilo. Milagres não costumam se repetir e era preciso marcar com o fogo da
beleza todas as imagens daquela inusitada aurora, por isso prologuei um pouco
mais a exploração de seu corpo levando a minha boca do caminho de sua coxas até
o centro quente e molhado do seu prazer. Suguei Laura durante bastante tempo.
Deixei que ela se contorcesse alisando os seios enquanto apertava sua bunda e
afundava meu rosto mais e mais entre as suas pernas. Deixei que ela se
contorcesse mais um pouco e então subi docemente, beijando-a, e coloquei a
ponta do meu pênis bem de mansinho na entrada de sua vagina. Senti que ela
tremeu e suspirou. Fui penetrando-a aos poucos, aumentando o ritmo com o tempo,
enquanto coladas nossas bocas se confundiam em um interminável beijo quente.
Perdi a noção do tempo em que durou essa maravilha, bem como das formas
diferentes que usamos para conectar nossos corpos. Foi doce, foi terno, foi
violento e safado como devem ser as coisas honestas entre um homem e uma mulher
sadios. Seu corpo se contorceu, enroscando-se no meu e eu finalmente, com um
espantoso urro primitivo gozei entre as suas pernas como se tudo em mim
estivesse se desfazendo no vácuo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #444444; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">Cai de lado exausto, pleno, satisfeito.
Jovialmente Laura se virou para mim, sorriu, e me disse: “tenho que ir”. Mais
uma vez ela me surpreendia. Que garota
era aquela, livre e segura que fazia amor e ia embora como se cada coisa
tivesse seu tempo e sua hora para começar e para terminar? Nunca soube responder essa pergunta. Ela se
levantou, foi ao banheiro, tomou banho e vestiu-se. Levei-a até a porta e me
ofereci para lhe pagar um táxi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #444444; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">- Não. Não quero que você pague nada para mim.
– Foi sua resposta. <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: x-large;"><br />
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; color: #444444; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: x-large; line-height: 150%;">Laura partiu. Eu ainda fiquei naquela sala por
vários minutos, sentindo sua presença, fantasiando que algo de sua essência
permanecia pairando sobre aquele lugar. Depois fui embora, retornei para minha
vida previsível de professor e nunca mais um milagre daquele se repetiu. Não
nos vimos mais, exceto nos corredores da faculdade e nunca mais ela tocou no
assunto. Também não fiz isso. Não queria estragar momentos tão mágicos ao
forçar a barra para tentar repeti-los. Laura seguiu seu caminho. Não sei se os
outros homens que ela teve sentiram-se tão maravilhados quanto eu me senti. Não
sei se eles se consideraram felizardos, como eu me considerei. Acredito que
não, mas posso estar enganado. Hoje me contento em lembrar daquilo tudo como um
tipo experiência que nos faz seguir em frente, que serve como uma espécie de
“sim” gritado pela boca da vida. Onde quer que Laura esteja, espero que ela
tenha a mesma alegria com a qual me presenteou. </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-78293681689734776692013-12-01T05:29:00.000-08:002013-12-01T05:29:39.594-08:00Tenha o medo. <div style="text-align: justify;">
- O pior que pode acontecer a um homem é parar de ter medo, ou não ser corajoso o bastante. - ele começou a falar enquanto dividíamos um cigarro em um banco de praça. - Mas coragem é de nascimento, o medo não. Por isso é que digo que o pior que pode te acontecer, irmão, é você parar de ter medo. Veja o meu caso, fui casado 8 vezes. Em toda ocasião, quando terminava um relacionamento, corria para os braços de outra mulher. Quando a merda toda explodia novamente eu pensava "não quero mais saber disso tudo, foda-se! De agora em diante vou ficar somente com as putas!" Mas logo em seguida vinha o medo, vinham os domingos de cachaça e depressão. Eu me via envelhecendo sozinho, sem uma mulher para aparar os cabelos do meu ouvido, para me avisar sobre o cheiro de urina na roupa. E o que eu fazia então? Corria para um desses bares descolados, desses bailes imbecis e arranjava outra mulher. Poucos meses depois todo o ciclo se repetia, vinham as brigas por eu não me dobrar à certas convenções, vinha o tesão esporádico por alguma dona que me cruzava o caminho, enfim, toda essa coisa natural que a humanidade inventou que era pecado. O resultado? Eu estava na rua de novo. Eu não tinha medo o bastante para me dobrar a ponto de caber na cela e não era corajoso o bastante para ficar fora dela, mas essa coragem não se aconselha. Ou você tem ou você não tem. Por isso eu prefiro sugerir o medo. Aprender a ter medo é mais fácil. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O cigarro acabou, nos despedimos e eu fui embora. Ele continuou lá sentado. Quando passei pela praça de novo, horas depois, ele ainda estava sentado lá. Não esperava ninguém. Não contava com nada. Não morava na rua. Apenas estava sentado lá. Tudo o mais ao redor dele também estava apenas lá. Não se importava mais. O mundo, aparentemente, tinha caído sobre ele como uma tempestade de cachorros mortos e ele decidiu parar de lutar. Vasculhei os bolsos e contei os trocados. Eu tinha dinheiro suficiente para uma puta. </div>
Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-43928603510985103882013-11-25T02:22:00.001-08:002013-11-25T02:22:11.805-08:00serenata da insônia. As pessoas me encontram<br />
forças do acaso e tratados<br />
e me solicitam uma senha<br />
que não posso escrever sobre a pele.<br />
Ando muitas vezes quilômetros<br />
Procurando por água potável,<br />
abrigo para nossos fantasmas,<br />
Arrancando questões como quem tem um filho.<br />
Como posso conciliar minha sede<br />
Com o desejo de um bosque de cedros?<br />
E, no entanto, sou pútrido<br />
Por ainda voar?<br />
Nascido da morte, que esperam de mim esses nomes?<br />
Alguém está de pé entre os vãos?<br />
Ela fica me olhando com seus olhos perdidos<br />
Suplicando por uma vértebra, um meio, <br />
Mergulhada em assombro e agonia.<br />
Ao redor da noite correm<br />
Silêncios<br />
Temporais golpeiam as portas da frente<br />
E tudo que eu tenho é a estrada:<br />
A poeira e os sussurros do tempo<br />
As coisas que aprendo da morte. Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-76533784264975887752013-11-03T11:36:00.001-08:002013-11-03T11:36:51.850-08:00InstantesComo amantes hesitantes, no começo<br />
como cruéis inimigos, no durante<br />
a vida como a guerra tem seu preço<br />
na morte inevitável dos instantes.Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-13382743296605815782013-10-25T04:47:00.001-07:002013-10-25T04:47:11.291-07:00Chuva.<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Lá fora chove</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">isso me traz poesia</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">mas o verso fica preso</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">num desabamento</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">junto com 07 famílias</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">que agora não tem</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">moradia.</span>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-82763448558800743172013-10-25T04:32:00.002-07:002013-10-25T04:32:42.233-07:00Indra<span class="userContent" data-ft="{"tn":"K"}" style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">-Essa é sua filha?<br />-Não. É a essência do meu coração que se emancipou.</span><span class="userContentSecondary fcg" style="background-color: white; color: #89919c; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"> </span>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-37994801695636472972013-10-25T04:27:00.002-07:002013-10-25T04:27:42.220-07:00Sexo Oral<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
Uma mulher estava há anos em estado vegetativo e demonstrou atividade cerebral incomum quando uma enfermeira lhe dava banho e, sem querer, tocou nas suas partes íntimas. Percebendo isso o médico chamou o marido da paciente e lhe relatou o fato, sugerindo em seguida que este, através de sexo oral, tentasse reanimá-la. O marido aceitou e foi deixado à sós com a paciente. Vários minutos se passaram e então o marido saiu do quarto todo suado e com a fisionomia visivelmente transtornada. O médico então perguntou:</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
- O que aconteceu? </div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
Gaguejando o marido respondeu:</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
-Fiz o que o senhor mandou, sexo oral nela, mas ela morreu.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
-Morreu? Mas como?</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
-Engasgada.</div>
Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-70762498696935114092013-10-25T04:24:00.002-07:002013-10-25T04:24:49.168-07:00Inveja<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">A inveja ainda é, mesmo nesses dias de relatividade moral, o mais tenaz adversário do auto respeito. O invejoso é atormentado pela sombra de quem ele detesta e admira simultaneamente e pelas mesmas razões. Quão grande deve ser o sofrimento desse indivíduo que carrega em sua pessoa um desejo inatingível de ser o outro, de destruí-lo, de lhe ser indiferente e de ser por ele reconhecido. O invejoso é a contradição em carne viva!</span>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-8511526500121070382013-10-25T04:07:00.001-07:002013-10-25T04:07:01.034-07:00Argumentos e comichões. <span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">-Você não vai convencê-los, não importa o quanto tente.</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">-Nem quero, trata-se apenas de perturbá-los. A calma complacente dos que tem certezas me incomoda, estou apenas retribuindo o favor. Sou um sujeito dado a reciprocidades.</span>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-38148830982481662362013-10-25T04:06:00.000-07:002013-10-25T04:06:00.592-07:00Projeções e quedas<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">O nosso futuro é como um elástico invisível que a imaginação pinta e que o tempo dilata até o ponto em que se rompe, deixando tantas cores flutuando no vazio</span>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-26243325565351993702013-10-25T04:05:00.001-07:002013-10-25T04:05:01.445-07:00Sobre revoltosos. <span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Uma vida em relativa segurança e com alimentação farta facilitam - mas não garantem - o germinar de pensamentos elevados, criando inclusive as condições para o heroísmo abnegado e a renúncia eloquente.</span>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-60915956723515269412013-10-20T13:57:00.001-07:002013-10-20T14:01:14.234-07:00Pelo Canto dos olhos<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sair de casa, a partir de uma
certa época, tornou-se um grande desconforto para mim. Não gostava de ver o
rosto das pessoas na rua; pior ainda, detestava ter que, incidentalmente, falar
com elas. Não sei explicar muito bem o motivo dessa minha aversão. Sempre fui
muito falador, relativamente sociável, e até certo ponto muito bem humorado.
Mas de uns tempos pra cá, não sei precisar quando, eu passei a evitar sistematicamente
as pessoas e ficava furioso toda vez que um compromisso familiar, os cuidados
com a saúde ou o qualquer outra ocupação me obrigava a deixa minha caverna. Eu,
e mesmo assim a contragosto, achava que só deveria sair de casa para ir
trabalhar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na época em que vivi a estranha
experiência que vou agora relatar eu morava em um velho edifício inacabado e
com escadas assustadoras próximo ao centro de Salvador. O senhorio do prédio
era um ex-policial civil que tinha uma irmã louca que vivia gritando pelos
corredores. Gritava a plenos pulmões coisas desconexas sobre Deus ter fodido com a vida dela, sobre Jesus ser
uma cara legal, sobre os choques que levou na cabeça e muitas outras coisas bem
menos razoáveis que essas das quais me lembro. Me lembro também que naquele dia ela foi a
primeira pessoa que tratei de evitar ao descer as escadas. Eu tinha que ir ao
proctologista para que ele me examinasse as malditas hemorroidas. É, essas
coisas me impediam de ficar sentado muito tempo e atrapalhavam o meu trabalho
criativo. Eram como serras sendo enfiadas em meu traseiro nos dias difíceis. A saída
seria a cirurgia, mas eu estava relutante em ser cortado nas partes baixas como
se fosse um boneco de pano cujo enchimento tinha que ser trocado. O médico era
um sujeito bacana, gostava de contar piadas machistas enquanto enfiava o dedo
lá no fundo com uma mão e escrevia o diagnóstico com a outra. O escritório dele
ficava na periferia e, como não tenho carro, peguei o ônibus no terminal
central e me sentei em um dos bancos mais ao fundo como meus fones de ouvido
para evitar que o “lixo local”, como dizia Nabokov, me invadisse os ouvidos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há dias que são estranhos e há esses
outros em que enlouquecemos. Não lembro onde foi que ouvi essa frase, mas ela
se ajustava perfeitamente ao que estava prestes a acontecer. Assim que sentei
no banco percebi, pelo canto do olho, que o sujeito do meu lado me olhava com
um sorriso um tanto estúpido na cara. Fingi não ter percebido e foquei meu
olhar no vazio através da janela. Senti uma mão em meu ombro e pensei comigo “fodeu”.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Juan Leon! Há quanto tempo!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Olhei o sujeito bem nos olhos,
ainda assustado, estampei uma expressão plástica de riso amigável, como sempre
faço nas situações sociais constrangedoras. O sujeito que sabia meu nome era
moreno, baixinho, cabelos encaracolados
e uma barba mal-feita e pretenciosa, dessas que os estudantes de
ciências-sociais costumam usar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Não se lembra de mim? Sou o Hernano.
Trabalhamos juntos na W &A Uniformes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Repentinamente uma torrente de
lembranças reprimidas começou a jorrar do passado para minha cabeça. Lembrei do
meu tempo de Continuo, das humilhações por causa das minhas roupas geralmente
sujas e amassadas, da maldade fria e gratuita de D. Norma, D. Carmen e os
outros chefes, todos muitos cristãos e benevolentes para quem não os conhecia,
mas verdadeiros monstros de crueldades para os rapazes pobres que vinham vender
sua mão obra a preço de banana. O Hernano havia trabalhado comigo, claro,
lembro dele. Era um sujeito bonito, meio estúpido, mas as garotas não pareciam
se importar com isso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-E então Juan? O que tem feito da
vida?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Um pouco de casa coisa. Vendi
armas no Zimbabwe, Trafiquei cocaína na Colômbia. Tentei entrar com revistas
pornô no Irã, fui chicoteado, mas me liberaram depois que eu jurei que era fã
do Bin Laden. E você?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Irônico como sempre, hein
sujeito – detestava quando ele me chamava de “sujeito” – Eu continuo na W &
A. Casei com a Norma. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por aquela eu não esperava. Ele
havia se casado com a sua carrasca? Um caso de “síndrome de Estocolmo”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Casou? Que bacana! Olha, vou
descer no próximo ponto. Foi bom te ver, um abraço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Vai descer no próximo, ah ótimo!
Eu também! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ferrou! Agora vou ter que
conversar com esses fantasmas todos novamente, pensei. Descemos no ponto
seguinte e fomos conversando sobre o passado. A perspectiva dele sobre tudo
aquilo que nos tinha acontecido na W&A havia se modificado bastante. Seu
ponto de vista de marido da ex-patroa não possuía os mesmos matizes horrendos
que eu projetava sobre aqueles dias, portanto eu me calei e deixei que ele se
gabasse das conquistas. Disse que o havia encontrado no ônibus por sorte – para
mim parecia azar – pois seu Honda Civic (sim, ele disse o modelo do carro caro
dele) tinha ficado no mecânico. Descemos a rua em direção ao consultório do
proctologista que, por azar (para mim) era também o caminho para a casa dele. A
casa dele era uma imensa e branca contrução na esquina de um bairro de classe
média-alta. Ele me convidou para entrar e eu recusei. Aleguei que estava
atrasado para a consulta, ele reiterou o convite. No meio dessa luta a esposa
dele veio descendo as escadas ao nosso encontro. Norma era uma mulher imensa,
cheia de sardas e com dois e imensos olhos verdes que a faziam parecer com
alguns tipos de peixes das grandes profundidades do oceano pacífico. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Olha amor quem eu encontrei no
ônibus, o Juan Leon!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Olá Norma...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-Leon, há quanto tempo! Porque
nunca mais foi nos visitar lá na loja? <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pergunta imbecil. Quem é que
retorna com prazer ao abismo onde foi torturado? A conversa continuou. Da parte
dos dois. Eu ficava calado ouvindo e concordando. Vez ou outra eu olhava para o
relógio, tentando demonstrar que logo teria que ir embora. De repente algo
estranho começou a acontecer. Notei que só a Norma falava. No meio de uma frase
dela Hernano as vezes tentava entrar na conversa mas a voz dela de levantava e
ele retornava ao seu silêncio sorridente. Ela falava de como organizava a vida
dos dois, da igreja evangélica que frequentavam, de como ele era desleixado e
de como ela resolvia tudo, o que lhe custava muito trabalho, claro. Em uma
dessas longas exposições da Norma eu olhei para o Hernano pelo canto do olho e
o rosto dele pareceu-me estar deformando-se, como em um dos quadros do Eduard
Munch, mas quando eu o olhava de frente parecia normal (exceto por aquele
sorriso amerelo e aquele par de olhos vazios). Era algo desnorteante. Comecei a
questionar o meu juízo. Experimentei esfregar os olhos e respirar fundo, mas
nada funcionou. A Mulher de Hernano continuava falando, engolindo suas pífias
tentativas de se expressar, enquanto pelo canto dos olhos eu continuava vendo
seu rosto assumir diferentes contornos, cada um mais bizarro que o outro. As
vezes se parecia com uma massa de modelar acinzentada na qual pregaram dois
olhos arregalados daqueles que costumavam pregar nos ursos de pelúcia de má
qualidade. As vezes se parecia com alguns alienígenas de desenho animado.
Aquilo tudo foi me deixando zonzo e a mesma experiência se repetiu várias
vezes, sempre com um padrão diferente. Um calafrio começou a me subir a
espinha. Fiquei tonto e no meio de um dos extensos sermões daquele peixe
horrendo eu me despedi e saí dali olhando o relógio como desculpa. Eles ficaram
parados no portão, sem entender nada. Cheguei ao consultório suando frio e quase
não consegui prestar a atenção nas recomendações do médico. Saí da consulta
atônito. Não era exatamente um alívio saber que existem coisas bem piores que
ter seu traseiro invadido pelo dedo de um médico. <o:p></o:p></div>
Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-49100468321542384422013-10-20T13:49:00.000-07:002013-10-20T13:49:20.354-07:00Texto e contexto.<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.142857551574707px; line-height: 18px;">O que somos, senão uma vã tentativa de não sermos mal interpretados?</span>Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-66120506747756846822013-10-19T08:35:00.000-07:002013-10-19T08:35:24.498-07:00Quando eu era um engano.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgErycj1z6irnJapFIapghTI9eUWDgxiGsPTcLYYTURYYTTMO-iH7o13RJmw2FDCz8iJkP49UUzbEcE6ujfMILC055vFK9Q5cci-wBMhVhFHV1UFCvTfOEcC41wSwq_XApJR7WCHw/s1600/2013-10-19+10.30.02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgErycj1z6irnJapFIapghTI9eUWDgxiGsPTcLYYTURYYTTMO-iH7o13RJmw2FDCz8iJkP49UUzbEcE6ujfMILC055vFK9Q5cci-wBMhVhFHV1UFCvTfOEcC41wSwq_XApJR7WCHw/s320/2013-10-19+10.30.02.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-43520387924658821022013-10-14T15:50:00.002-07:002013-10-14T15:50:52.704-07:00Talvez o fim chegue em breve, então todos estarão enganados.Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-89479299406200781202013-10-14T15:49:00.001-07:002013-10-14T15:49:38.092-07:00LiteraturaPara pessoas como eu, parece perda de tempo ocupar-se de literatura meramente para ver nas páginas do livro, nas peripécias dos personagens, a realização dos meus desejos ou a vitória final de minhas convicções. Para tais propósitos existem as novelas, as ideologias e a religião.Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32904294.post-73063122621733286802013-09-19T11:06:00.000-07:002013-09-19T11:06:32.940-07:00O velho. - Seja doce, mas também tente ser firme. - o velho dizia - Na dúvida sobre ser firme ou doce sempre prefira ser firme.<br />
<br />
Ela me dizia essas coisas entre uma baforada e outra do cachimbo de madeira enquanto apertava e enrolava uma madeixa do cabelo branco cada dia mais ralo.<br />
<br />
Os velhos são maus conselheiros, meu filho. Os pais são suspeitos aos olhos dos filhos. São sombras do passado sobre o futuro, e o passado é sempre muito cruel . A imaginação precisa ignorar um pouco o passado para se lançar em direção ao futuro. Por isso os velhos são maus conselheiros aos olhos dos jovens, por isso os jovens são estúpidos aos olhos do velho. O passado é feito de dores, o futuro é tecido com sonhos. Os velhos aprenderam a ser firmes, os jovens gostam de orgulhar-se de sua doçura. O velho já foi jovem e o jovem vai envelhecer. O passado e o futuro dançam abraçados a todo momento. Tente ser doce, mas seja firme também. Não fraqueje, não oscile, não se abra, mas, mesmo tempo, tente não ser cruel ou indiferente. Simule um outro você que seja sensível e mantenha-se, no entanto, guardado e imaculado para não envelhecer com a morte dos sonhos. Vida a vida dos outros mas não espere muito dessa vida. Deixa sua doçura secreta, imaculada, guardada por dois serafins furiosos, e jamais deixe alguém passar por esses portões. Lá no fundo do vale deixe seu sonho. No mais seja firme e seja doce, mas não confunda nenhuma das suas coisas com o que você é realmente.<br />
<br />
Eu não entendia o que o velho me dizia. Aquilo parecia-me muito complicado e secreto. Eu gostava de conversar com o velho. Os outros meninos não gostavam. Diziam que o velho era chato, dramático ou louco. Eu não achava. Gostava de conversar com o velho. Mas naqueles dia suas palavras me deram medo. Não dormi naquela noite. Soube que o velho tinha morrido alguns dias depois. Não fui ao enterro, mamãe não deixou. Nunca mais encontrei quem falasse comigo como o velho falava. De algum modo que ainda não compreendo sentia que algo nele se parecia comigo. Depois que o velho se foi nunca mais consegui perceber esse tipo de identificação com ninguém.Hiltonhttp://www.blogger.com/profile/09520449600068879849noreply@blogger.com0