sábado, agosto 20, 2022

 

Me pergunto as vezes porque continuo vivendo, porque não desisto de tudo já que quase nada me proporciona alegria. As mulheres me atraem mas não me causam estímulo para paixões ou sentimentos mais fortes que simples lampejos de breve desejo. Lugares a visitar tampouco me estimulam a imaginação. Até minha curiosidade se entorpeceu. Há alguns momentos de alegria; quando passeio na praia, quando levo a passear os cachorros. Conversar com minha filha e imaginar que lhe asseguro um futuro melhor que o meu também dá-me algum sentido de propósito. Será que essas poucas alegrias bastam para justificar os cansaços, ocupações, temores e angustias que me obrigam a tomar remédios para dormir, para não deprimir, para não perder o controle sobre meus sentimentos? Será que, além das razões que listei há outros motivos escondidos para explicar minha resignada e organizada disciplina que me mantém funcional? Será que são necessários motivos ou simplesmente vivemos ou morremos de acordo com forças que escapam a qualquer justificativa ou explicação? Voltando do trabalho me perco nessas divagações sem propósito.

Talvez viver seja apenas um hábito e a maneira como vivemos é a forma que esse hábito assume. Podemos contar uma história sobre o hábito, suas vantagens e consequências, mas um hábito é um hábito e nada mais. As vezes chamamos a um hábito vício; quando nós causa mal e não conseguimos abandonà-lo. O mesmo talvez possa ser dito da forma como se vive; no meu caso creio que me habituei a uma vida sem propósito. Esqueci, ou nunca aprendi, como se sonha e se ama.