quarta-feira, outubro 21, 2009

Seda

Eu conheço uma garota da seda
com asas de bruma arrastada nos ventos
um fardo de dor e uma canção
composta em noites de lamento e cansaço.
Ela possui um olhar orvalhado
uma chaga divina e um passado confuso
de fendas a farpas fincadas na fé.
Ela se levanta e apanha uma flor
seu dedo envolve o caule do espinho
deixando a magia tombar na poeira
de um drama sem centro onde a plateia evadiu.

domingo, outubro 11, 2009

Tragicomédia em dois atos.

porque será que não fiquei surpreso quando ela me contou que teria que partir? Foi numa noite de segunda feira quando eu tinha acabado de chegar do trabalho, moído e cansado como sempre.
A fumaça do cigarro voava pelo ar e a musica do Hank Wiliams procurava me lembrar sobre o funcionamento das coisas. As vezes ela aparecia do nada, entrava pela porta da minha vida, ficava uns dois dias e sumia novamente, um estrondo de mulher. Linda como a aurora, doce, inteligente e (coisa rara) com senso de humor. Era casada. Seu marido era um intelectual menor, escritor de contos enfadonhos, filho de papai, liberal e pouco atencioso. Ela dizia que tinha sede de descobertas. Queria se permitir alguma coisa intensa como o que eu a fazia viver. Sabe, talvez você não entenda, mas sou um garoto da favela e quem vem de lá, se não morre cedo, aprende que nada de bom dura muito ou é dado de graça. Por isso quando me era dado o milagre de estar ao seu lado eu procurava dar-lhe o melhor de mim. É claro que uma hora a coisa ia desfazer-se como uma gota de orvalho exposta ao sol. A família, não sei exatamente como, a pressionava de muitas formas e talvez os sentimentos dela em relação ao casamento não fossem muito claros; uma mulher sem contradições não é uma mulher. As coisas vem e vão e depois de um bom número de perdas o sujeito já não tem energia para gritar contra o universo. quem perdeu pouco durante a vida ainda se queixa por muito tempo de um fracasso novo. Ela desapareceu na curva do horizonte deixando em seu lugar uma tristeza seca e sem recursos. Uma velha garrafa de vinho barato, há muito tempo na estante me olhou e eu retribuí aquele olhar. Retirei a tampa, dei uma golada direto no gargalo e a embriaguês foi se aproximando esguia e sedutora. aos poucos fui me convencendo que tinha sido apenas um delirio e comecei a rir compulsivamente. Realmente era bem patético um decadente como eu achar que aquela mulher poderia instalar-se entre minhas traças, meus delírios e demônios. Eu ri e gargalhei enquanto o vinho ia se esvaziando, mas não foi com o riso que meus lábios bebâdos adormeceram.

quarta-feira, outubro 07, 2009

A suspeita Parte I

Luciana debatia-se com a tarefas do seu lar. Tinha acordado cedo, levado os flhos para a escola, a preparado o almoço. Todavia, todo seu esforço para manter a casa em ordem até a chegada do seu marido tinha sido em vão; mais uma vez ele iria almoçar na rua. Seu coração premeditava alguma traição do Arnaldo, embora durante todos os anos de convivência ele sempre tenha se mostrado atencioso, afável e companheiro. "Afavel até demais". Ela pensou. Não seria isso também um sinal de traição? Essa dúvida lhe corroia as entranhas há meses. Como saber? Já revirara seus bolsos, carteira e até havia conseguido a senha do email de Arnaldo, mas nada de conclusivo. Apenas combustível para novas suspeitas. Perdia-se assim nessa diagações quando alguém lhe bateu a porta. Lavava os produtos do almoço e imaginou tratar-se de mais um vendedor que vinha lhe oferecer algum produto inutil para os seus propósitos. Qual foi sua supresa ao deparar-se com um sujeito muito elegante, vestido em um terno preto, de óculos escuros e com o cabelo penteado para trás.

-Boa tarde- Ele disse.
-Boa tarde- Ela respondeu desconfiada.
-Sou um prepresentante, e vim fazer-lhe uma irrecúsável proposta.
-Olha moço não estou interessada em comprar nada.
-Nem eu em vender senhora. Trata-se de algo muito mais sério e interessante- Falou isso como um tom jocoso, com um sorriso dissimulado que deixou a dona de casa apreensiva.
- Se o senhor é da policia....
-Nada disso - O homem de terno a imterrompeu continuou- Venho lhe fazer uma proposta. Trago comigo dois envelopes. Em um deles a senhora terá a resposta para todas as perguntas que for capaz de formular antes de abri-lo. No outro a senhora irá descobrir como ser feliz e ter uma vida tranquila. Todavia, devo lhe lembrar: ao abrir o envelope das respostas e outro automaticamente terá seu conteúdo convertido em uma página em branco.
-Olha se isso é algum tipo de brincadeira....
-Não é brincadeira alguma, nem lhe custará nada. Aqui estão os envelopes.

Estendeu os dois envelopes pardos na direção de Luciana que ainda atônita os segurou com incerteza. Em seguida o homem deu-lhe as costas e saiu. Luciana continuou parada olhando-o sumir-se na esquina. Ao se recobrar do susto o sistema corretivo de seu entendimento rapidamente a convenceu de que se tratava de uma brincadeira. Certamente uma piada de algum amigo ou parente. Isso não evitou que ela sentisse uma súbita compulsão para abrir os envelopes. Mas...E se ele estivesse falando a verdade? Seria Terrivel se ela perdesse a maior chance de sua vida. Mas, qual seria essa chance? Saber a verdade ou ser feliz?

A onda

No transportar-me de mim para o outro,
muito me perco a custo tão alto.
Perco a memória dos dias sem pão,
as noites imensas em que sustentei o combate
o silencioso valor da solidão cultivada.
As ruas ensinam lições
que as familias não podem ensinar.
As ruas ensinam que existem perigos
as ruas ensinam que existem sentenças
para cada aceno de afeto e auxilio
para cada deleite e encontro entre os corpos.
Uma vida de fardos, as cores da noite
e os vários amigos que foram esmagados
pela loucura.
Como dizer isso a elas?
como sintetizar na palavra a mudez
egoista de quem se vê diante de uma onda gigante
que descerá o seu punho sobre nossas cabeças.
Não haverão avisos...
Não existirão presságios...
E quem presenciou o processo não pode fazer conçessões.

sábado, outubro 03, 2009

Diagnóstico.

Noites e noites para beber
E pouco tempo para aprender a jogar
Para saber que um homem precisa
Poupar os punhos, esquivar.

Noites e noites para beber
E pouco tempo para aprender a amar
Para devorar o desespero e a angustia
E conservar o brilho no olhar.

Noites e noites para beber
nenhuma placa para indicar
O caminho para os defuntos da praça
O ópio para os viciados do altar.

Noites e noites para beber
E quase nada para cobrir o luar
Para anestesiar a mordida dos fracos
O ressentimento dos que não sabem lutar.

Noites e noites para beber,
E apenas uma chama a queimar
A vontade faminta de vida
O desejo insano de estar.