domingo, agosto 30, 2009

Sobre a falta que faz.

Conflito contraditório no ser
de amar, de não poder
apertar o ser amado entre os braços.
A ansia de se dar é vencida
pelos fluxos antigos da vida
pelos muros que separam os espaços.

E o lábio, a pele a o peito
inquietos se agitam sozinhos
buscando o suave carinho
de quem conduz o desejo.

O desejo de se dar, é etermo
ultrpassa a finitude do tempo
nas asas da sua imagem, menina
é que voa o meu pensamento

quinta-feira, agosto 27, 2009

Bolero da suspeita.

Ontem eu dancei com uma linda aurora,
hoje eu me debruço sobre uma tormenta
escura
e por isso os céus se fecham como um punho ensandecido,
por isso as folhas se despedem com os lábios ressecados.
Ontem eu ouvi uma canção, hoje minhas camisas estão
amarrotadas
estão enlameadas por boatos, por resinas, por propósitos
suspeitos
e eu ainda não consegui me redimir perante o olho da plateia.
Pela estrada arrastei outros comigo,
foi uma tentativa vã e eu aboli as cercas
que separavam os girassois das contradições
insuperaveis.
Uma moeda para a caixa, um silêncio para o breve sucumbir
sem saudações para contornar rancores,
sem palavras para confirmar presságios.

quinta-feira, agosto 20, 2009

As possibilidades de Soraia.

Soraia refletia sozinha enquanto saia do trabalho cansada em direção a sua casa. O celular tocava insistente em sua bolsa e ela ignorava o som irritante porque mais irritante ainda seria atendê-lo. Ela sabia, que do outro lado da linha lhe aguardava a voz outrora tão agradável de Rafael, voz essa que agora lhe lembrava o sabor caracteristico de um purgante. Porque os homens eram tão previsíveis era algo que ela não conseguia entender. Primeiro apresentá-la aos amigos, depois pedi-la em casamento e finalmente planejar as crianças. Isso quando não tentavam através de algum estúpido artificio engravidá-la pedindo para não usar camisinha. A rua não estava muito movimentada e o trânsito relativamente tranquilo lhe permitia refletir enquanto dirigia, fumava um cigarro e ouvia Marvin Gave. Pior que essa sede de família do Rafael era a fissura dele e de todos os outros homens pela fidelidade. Talvez saudades do colo materno, ou sentimento de culpa por não terem sido cristãos como seus pais e avós, ela não sabia. Achava muito estúpida a exigência da exclusividade corporéa como condição sine qua non da virtude feminina. Soraia, todavia, não se importava muito com isso. Se eles a obrigavam a mentir exigindo-lhe uma renuncia que ela julgava particularmente estúpida, tudo bem. Havia um preço a pagar, ela sabia disso, via em suas amigas padronizadas e homogêneamente fieis um tipo de estabilidade que ela não tinha, e as vez invejava. Mas sua sua vida era breve, sua juventude também. Logo tornaria-se uma anciã a realizar-se com bazares beneficentes, causas sociais e roupas de tricor para os netos, se os tivesse, claro. Não, ela não iria desperdiçar os seus anos depositando-os aos pés de um homem erigido em divindade. Queria fruir os momentos , sorver a polpa das horas, talvez até por um tempo relativamente longo com um único homem, mas não gostaria de fechar-se para outras oportunidades. Ela parou no sinal. A rua ladeava a praia e o final da tarde parecia-lhe muito bonito. Resolveu estacionar e toamar uma cerveja. No bar voltado para o poente um rapaz muito bonito parecia muito concentrado lendo um livro. Ela sentou-se na mesa em sua frente. A tarde oferecia interessantes possibilidades.

quarta-feira, agosto 19, 2009

êxtases

A labareda das horas consumia os granitos. Eu tive o corpo dela se contorcendo em meus braços e hoje é até dificil de acreditar. O momento é fugaz, o prazer nos escapa, mas subimos as escadas do hotel em uma tarde linda de transgressão e poesia onde tudo seguia com naturalidade. Existem pessoas que não acreditam, existem aquelas que só apostam em seus temores retraindo-se ao quarto cinzento para desfrutar da calmaria opaca, recoberta pela poeira dourada de uma velha virtude. Nós não éramos assim.
Dois animais de fogo voando no céu perigoso da entrega sem certezas. Almoçamos com naturalidade. Ela me falou um pouco da marca cega do passado que lançava uma sombra cinza em seu olho de oceano. Eu lhe retribui falando também um pouco do meu trajeto escuro pela sombra e pela luz. Rimos de outras coisas menos sérias. Nossas mãos deslizaram magnétizadas até convergir. A onda louca começou a erguer-se do meu peito como um grito ancestral que bramia na furia de um milhão de ondas. Eu a despi com gestos e lhe beijei os lábios com minha boca sedenta. A luminosidade das nossas sensações irrompeu através da fibra de nossos corpos que vibravam de eletricidade em uma violenta dança na busca da redenção. Tomei os seus seios nos lábios, suas coxas me envolveram os quadris, suas mãos apertaram as minhas e eu vi sua pupila em faiscas enquanto invadíamos as fronteiras da eternidade.
Ela tinha o corpo quente e um jeito sutil de entrega. Ela arfava tão frágil sob minhas penetrações invasoras e no entanto sua força enchia o quarto do extâse das tempestades. Meu suor ao dela se misturou, minha mente rememorava outros mundos onde juntos atravessamos desertos imensos, onde a asa da dor nos atingiu abraçados, onde partilhamos estradas que as palavras não ousam submeter. A musica dos movimentos cresceu elevando-se do fundo silencioso de nosso espírito até a corrente de luz romper-se em gozo...O gozo implosivo das constelações em um eterno momento onde tudo era paz.
Tomamos banho felizes e a tarde findou com o ruido do vento nas folhas das amendoeiras e o burburinho da tarde em direção ao crepúsculo. A distância esgueirou-se por entre as dobras do tempo carregando nos ombros a fuligem das convenções que terminaram por sepultar aquela nossa magia. O granito indiferente digeriu nossa chama e o óbvio consumou-se novamente.
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J Krishnamurti - Uma outra visão sobre o amor.

Mas, se desejais continuar a descobrir, vereis que o medo, não é amor, a dependência não é amor, o ciúme não é amor, a posse e o domínio não são amor, responsabilidade e dever não são amor, autocompaixão não é amor, a agonia de não ser amado não é amor, que o amor não é o oposto do ódio, como também a humildade não é o oposto da vaidade. Dessarte, se fordes capaz de eliminar tudo isso, não à força, porém lavando-o assim como a chuva fina lava a poeira de muitos dias depositada numa folha, então, talvez, encontrareis aquela flor peregrina que o homem sempre buscou sequiosamente.
J. Krishnamurti

Apenas porque tu me faltas

Talvez a paixão seja um engano,
talvez não tenhamos um norte
e a mão da alegria carregue apenas poeira.
Talvez as flores se lamentem
e noites escuras me aguardem para
o arrependimento vergonhoso.
Mas apenas cogito isso tudo
porque me falta a alada presença
e seu corpo infinito para redimir minha chaga.
O perfil inexato e a trama confusa do anseio
que brota do meu coração e morre
nas mãos de femininos caprichos.
Talvez recuar para a segurança
e renunciar aos pomares suspeitos
onde soberana passeias sem mim
até que humilde eu receba teu riso.
Talvez destruir e seguir,
talvez gozar e sentir
arrancando asas de um beija-flor
para saciar essa nossa sede de vida.

terça-feira, agosto 11, 2009

Guilhotina das estrelas.

Mulher,
Agora certamente me detestas
Certamente a poeira de fogo que recebo no meu peito
vem do teu lábio ferido pelas minhas asas de falcão
estraçalhado.
Certamente te responderão as coisas imóveis,
certamente os padres te responderão
na época da chuva
e terás o caminho atapetado pela chaga pulsante
e escondida que sussurrará volúpia
aos ouvidos da vossa aflição
e Justificada estarás pela memória suave dos seus mortos.
Mulher,
Certamente há algum tempo desejarias um outro EU
amarias os meus animais e acalentarias um cacto florido
não fosse a gravidade obscura da estrada que nutriu essas mãos
gordurosas de assassino.
Tua dor encontra-se redimida
pois a florida lâmina da lua
também guilhotinou o meu coração
de mentiroso.
Vejo entretanto para além dessas mazelas
um dia em que não haverão trincheiras
um dia em que talvez inteiros não exigiremos
passaportes nem registros
e envolveremos nossas mãos e as mãos de outros
na compreensão imediata de um cristalino afeto.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Silêncio noturno.

Eu procurei em vão a proposição mais firme
e urrei na noite por uma realidade diferente
eu era a proa do naufrágio e o timoneiro da ultima nave
estelar,
que se destinava a teus olhos femininos e a sede da ressureição
e do contato.
Era o corpo e a fome do encontro,
era a vida nova que me reclamava das entranhas
eram os lugares verdejantes,
as pradarias do infinito,
e os poemas não escritos para uma nova raça que viria.
O vôo inconstante de uma borboleta
sob brilho matutino de um rapaz apaixonado.
Eram as raízes tenras do determinismo
contra uma multidão de espaços e silêncios frios
como tumbas de concreto que engoliam poesias.
E as poesias eram engolidas por tumbas de silêncio frio.
No entanto haviam ainda os nossos corpos,
que lutaram na batalha vespertina contra as certezas
e as conspirações.
Havia o teu segredo silencioso,
tuas fantasias e aventuras,
teu gozo afirmativo que se rebelava contra qualquer forma
de poder,
havia o bosque esvoaçante,
o jardim dos cantos,
e o fruto eventual que brota do momento
Para adoçar meus lábios de poeta com a ultima palavra
e enternecer a minha alma alada para a dolorosa espera.

Divagando.

Não sei onde as sensações me conduzem, também não sei responder a pergunta do Tiago sobre a diferença entre o conto e o verso livre. Creio que existem pessoas convictas para as quais falar algo com segurança, traçar a linha e saber para onde se vai é fundamental. Eu já falei com convicção. Já afirmei certezas sobre o Tao-Te-King, Os vedas, kardec e Nietszche. Minhas convicções hoje tem uma vida curta e instável como o nivel da marés. Acredito que naturalizei-me terrestre mas ainda visito a minha patria materna das frases convictas. Mesmo minha filha disse-me outro dia achar a vida parecida com um sonho. Esses brilhos da infância que as reinvidicações do corpo se ocuparão de substituir pela diversidade das pulsões sensiveis. Surgimos na vida como no meio de um oceano imenso no qual navegam diversas embarcações. As pessoas se ocupam de procurar aquelas que julgam melhor equipadas para sobreviver as ondas que vêem, as que suspeitam, e as que viveram. Algumas outras mais sensiveis à variedade das barcaças e ao ritmo inconstante do oceano recusam-se a vincular-se definitivamente a qualquer tripulação. Estes são os "nômades" do pensamento, os naturalizados do oceano. Apesar das turbulências das marés estes piratas aprenderam a encontrar beleza por trás da destruição geral das ondas. Recusam-se a promessa daquilo que não compreendem. "Reino dos céus" que nome vago "Evolução" que má compreensão do tempo, "Fidelidade" Que peversão do sentido livre da palavra amor.
Também não concordo com o Guerra em dividir as apreciações em ambitos duais, e estabelecer fronteiras rigidas em relação às possibilidades de nossas relações. Ele entenderá. Quero estar imcompleto em tudo, em quase tudo ou melhor: Quero sorver com doçura cada gota de experiência de minha finitude.

domingo, agosto 09, 2009

Sincronicidade

Da estrutura casual dos fazeres
brotou uma clareira de luz
Um espaço arbitrário de paz
entrelaçado a coincidências eternas.
Percebeste meu gesto de queda?
Amparaste meu desejo inflamado?
Ou as nuvens do esquecido conduziram
caminhos e nos levaram
um ao outro?
do De onde vieste?
De que substância és feita?
porque teu semblante me perturba os sonhos
e me torna incapaz de esquecer?
Me arrasta como uma torrente,
como uma onda de sensações
Que saem da boca cândida da poesia
para o coração incontrolável do amor.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Momento azul.


Minhas mãos soltas e
Alucinadas
Os Beijos transversais na mão da tempestade e afago acidental,
na guerra inevitável de nossas sensações.
Furioso eu lhe abraço
do nervo inquieto até
a substância desejante
até a aspiração dos ramos destroçados
na seiva de sua fome natural.
e expiro minha alma pelos poros
com a ponderação corpórea que.
expõe-te em pele para revoltar
a sua timidez.
E teu olhar infinito...
E tua pulsão inquieta de fêmea originária
Que traz no ventre a estrela.
Lamina de minha língua
Fogo da ansiedade sazonal
A verdade de tua vontade invadindo meu rumo
Com a força das chuvas de junho
E a selvageria louca de um milhão de vulcões.
sempre, sempre e sempre
ir ao fundo do fundo
de seu lugar mais profundo
Penetrando com minhas palavras
o lar de sonho e tristeza que
tens guardado no teu coração
flor acalentada e seu prisioneiro
Acidental que canta da janela,
Talvez eu pudesse ser a torre
E o príncipe das veredas
Embutido no passado e no banquete de infinito e de estrela
Que denominamos
E que nos domina no silêncio de nosso cansaço.

terça-feira, agosto 04, 2009

Horizontes

Quem procura por horizontes não poderá evitar tempestades. Não clamo por calmarias, conheço a fado da minha angustia e o signo precoce daquela vontade. Sei que estracalhei muitas roseiras e fui ferido por milhões de flagelos. Os passaros que navegam nos dedos do vento devem possuir, assim penso eu, as suas angustias também. Não vou reduzir-me ao cálculo oportuno nem atirar-em em ímpeto romântico nos braços da destruição. Desejo fruir com alegria e clareza. Se minto é para preservar uma verdade maior, uma verdade que destroçaria os muros de covardias que não me cabe apontar. Permaneço inteiro e de pé. Sedento da seiva do gesto e aberto ao fogo incinerador do acaso. Sou um residente na terra, olhando um horizonte que se desdobra em mistério.