quarta-feira, março 31, 2010

Conhecer um homem é mapear seus pesadelos

Juan Leon

Roteiro para uma interrogação calada.

Somente sem olhar para os lados
Sobrevive o meu manto de fogo.
Sobrevive minha substância confusa
De heresia e luto.
Sigo e mantenho intocável o prumo,
Impassível delírio de cálculos
Que deságuam silenciosos no rio
Sem nome e remoto da dor.
A dor
e a vida se enroscam vestidas de nomes
Água, plexo, corantes, serpentes, plataforma
Dedos, palácio, acaso, Nirvana
E algumas vezes
Paixão.
Alameda oficial dos instantes
Plenilúnio ostensivo nos céus
Que sangra a sós em meu mundo
Locupleto, deserdado e breve.

segunda-feira, março 29, 2010

Tardes e distâncias

Quando a tarde é muito longa
E que lhe chega é opaco,
Quando as vozes são foices ou quando
As pessoas lhe parecem amontoados de acasos
errados.
Quando não lhe basta estar
Quando nada lhe recobre as nervuras
Quando a brisa fere tanto que gostarias de estar
degredado.
O domingo desfeito dos laços, a mão do encanto
Arrancada
O beijo gelado das horas em que precisarias
De algo
mais forte.
Uma dose mais forte,
Uma vida intensa,
Uma loucura qualquer diluída nas notas
De um blues arrasado.
Você sabe que está cada dia mais velho
e com certeza
ficou preso em alguma armadilha
invisível
que não vai perceber
até o terror exibir-se
para reinvindicar
sua alma.

Quando a tarde é um manto,
Quando o amor é um risco,
Quando tudo que se tem é a sorte,
a pura substância de força
cultivada nas horas de insânia,
a partir do abismo que te foi dado
por leito.
Quando já não tens mais desculpas,
Estás pasmo imóvel e infâme
Esperando auroras
Impossíveis para ti.

sábado, março 27, 2010

Irmãos e tios.

Um colapso silencioso abateu
Nosso sorriso,
Com a mão das horas em que ficamos
congelados
olhando e contornando
Insuficiências na superfície
da pobreza.
Como isso nos aconteceu?
Como fomos nos deixar ali?
Eu sei que você ainda abre esgotos
E não possui um único centavo
Um único aparato
Uma capa luminosa para guiá-lo na dor.
Uma esclerose recobre sua visão,
Armadura de temor travestida de
Orgulho,
Você que não se arrisca, que não sabe de ternuras
Que não enche a cara como qualquer sujeito
Com bom senso
Você, o sem amantes
O homem derrotado, o reflexivo
O sujeito que não ouviu a voz de si e permanece
Amarrotado.
Sustentado pela irmã, dominado pela esposa,
Incapaz de olhar-se no espelho e dizer quem é
No entanto eu me lembro de você
Animado e altivo
Caçando passarinhos, pescando, desenhando
Lutando e sorrindo com fizemos todos nós.
Mas algo em você caiu, naufragou no choque
Contra as coisas inevitáveis desta vida.
Partilho contigo desse espasmo,
Como tu também sou filho daquela ribanceira
Por isso invoco a ultima centelha de batalha
Soterrada nos escombros de vossa identidade
Arremessa teu escarro nesta imagem encanecida
Desdenha deste oráculo culpado e cego
Levanta assume tua trincheira
Eu te darei a mão,
A bandeira
O sim.

domingo, março 21, 2010

Faca de prata.

Com uma afiada faca de prata

Fatiei a parte bonita da minha vida

Atirando-a em seguida aos ratos.

A chuva molhando o jardim

Ainda existem nascimentos e mortes

Mulheres com flores e janelas

De brilhante metal fabricado.

Mas minhas raizes hoje

estão tocando algo profundo

Um solo de mangue que nutre e sufoca

Uma maré e casas de dor

Flutuando sobre pedaços de sonho.

Meu girassol se corrompendo

Meu pobre girassol que brilhou

Nas noites de meu desespero

E hoje se confunde com as chagas

E hoje se parece com a treva.

Fui eu mesmo quem fatiei minha vida

Fui eu mesmo quem a atirou aos ratos

Em um gesto de covardia

E pudor.

Arrasto comigo esse selo

De errante judeu desgarrado

E isso não é poesia.

Passenger

Não creio senão nos que sobreviveram
nos que cairam, rastejaram, e aprenderam
a rir na face carrancuda da miséria.
Creio nos imaculados, intocáveis, afastados
mesmo perdidos em meio a turba horrenda.
Creio nos que inventaram um modo de ficar de pé
enquanto lançam um riso de desdém
aos convites para um caminho mais seguro.
Sem contar com os conselhos das novelas
Sem observar as precauções dos livros
Sem importar-se com o estupor covarde das familias
Eles dão os passos que sabem necessários
e geralmente estatelam-se nos muros
mas deixam as pegadas para os próximos
arcanjos
que virão como eles para experimentar
uma breve temporada.

sexta-feira, março 12, 2010

Poetas do agora

Qualquer sujeito

Maior de 11 anos de idade

Escrevendo poesia no brasil

Com certeza sabe que não pode viver disso.

O brasil possui muitos poetas

E poucos leitores de poesia.

Vive-se de futebol

De capoeira,

Mas não de poesia.

O mundo está farto da poesia

E pobre de leitores.

Qualquer sujeito que espera suçesso

Com poesia no Brasil,

É Rico, idiota ou

Apenas poeta em excesso.

quarta-feira, março 10, 2010

Velhice

As pessoas envelhecem,
os amores nos esqueçem
o que sobra é apenas a certeza
de que foste fiel
a tua própria residência
nessa terra e suas consequências.

As pessoas envelheçem, é bom não esquecer
nada é pior que ficar amargo
por ter perdido muito tempo
alinhando o medo de ser só
com a solidão infinita de ter perdido a si-mesmo.

As pessoas envelhecem, antes de fruir dos dias
com canções imaculadas e encontros cegos
agarrando-se a breves retalhos de horizonte
acumulando água em peneiras, antes de beber da fonte.

Meu conceito de diversão


sábado, março 06, 2010

Serenata do lilás.

Garota primavera
Vamos voando de olhos dsvendados,
Pois juntos sabemos de estragos
Feitos inevitavelmente
A sua imaculada chama,
Eu só não posso , embora queira, compreender
o sentido de seguires esssa futil oração.
Tecendo esses versos em seu coração frágil e confuso
Garota inacabada
Trevo de tristeza ,
semente debruçada sobre a lua
que não se decidiu pela batalha
E cultiva suas visões e sonhos que
Nem minha loucura entende.
Eu não trago nada em meus bolsos
Nada em minha alma
Apenas breves fragmentos de coisas que
Não são nem poesia
E eu nunca poderia ser algo mais que uma sombra
Para te abrigar por algum tempo.
Apenas seu amor, seu amor contraditório
Permanece como um lago
Envidraçado
Quando todos estão fugindo daquela tempestade.

Mulher de pranto e chuva,
De desejo inconfesso e amargurado
Na infância
Em meio e um mundo furioso que não irá
Oferecer caminhos simples.
O seu olho calmo, sua pele tensa,
E a mágica silenciosa do infinito
De qualquer forma seremos cobertos
Pelo sol
E abençoados no dia seguinte
Com entendimento e luz.

quinta-feira, março 04, 2010

Tratado de rendição incondicional e afeto.

Calar o grito nos lábios
E o impulso de auroras que treme em teu peito
Irá lhe garantir a passagem
Para o mundo estável onde vivem as pessoas.
Irá abrir a senda perdida
Para laços e braços, camas e tetos
Para escadas de farpas fincadas na segurança
E no amor.
Calar a fome que trazes contigo,
essa palavra sincera
Esse anseio sem nome
Te dará um casa,
Uma mulher,
Um trabalho
E alguns amigos hipócritas para repartir a derrota.
Isso te colocará de novo na roda
e se fores assim,
sempre assim
quem sabe,
te será perdoada tua pretensão de estar vivo.

Se calares esta voz em teu peito,
Se estrangulares com ódio tua fé,
Se lançares ao lixo a polpa ingenua
De seu gozo inconstante
Poderás ostentar no teu peito
A divisa de marido e cristão.
Já não terás medo das ruas,
do fracasso,
da solidão,
Dos domingos e
Do suicídio.
E em troca de seu medo
Em troca de sua experiência gozoza
Aberta ao presente
Te darão a certeza
O fim
E a sombra.