quinta-feira, novembro 26, 2009

Para completar tudo aquilo
ele estava de pé.
Com um senso de honra e um brio
diante do que ocorria.
Diante do dia-a-dia,
dos casos em que falta a grana,
em que é preciso rastejar por comida
como eles faziam
com um imenso sorriso nos dentes.
Seria mais simples absolutamente
rendido
sem oferecer resistência,
cair aos pés da demência
trepar com a covardia.

quinta-feira, novembro 19, 2009

O pensamento é uma atividade muito tola. A autoridade é apenas um derivado dessa tolice. um subproduto que cultivamos cuidadosamente e que termina por nos esmagar dentro de um universo de tolice, loucura e rídiculo. Abrimos as comportas do poder. Inventamos a internet, a democracia, a bomba atômica e o triptanol 25. O mundo parece mais seguro e talvez seja mesmo. Longe de mim critica-lo. Todos temos agora nossa cota de poder. Um blog para cada feudo, uma musica para cada maldito mal-amado perseguido pela imagem de um pai ou uma mãe a quem precisa exigir amor, mesmo que essa carência esteja nas sombras. Ninguém pode fracassar, pois as raízes da vida encontram-se enterradas no lodo de um passado onde só existe fúria e pressão. A autoridade é a porta de saída que todos estão procurando. O poder é um dos nomes dessa autoridade. Não podemos nos dar ao luxo de baixar as armas, de olhar atônitos para o breve intervalo indizível que chamamos de momento.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Sobre o poeta

"A voz do poeta necessita ser não meramente o registro e testemunho do homem, ela pode ser uma das escoras, o pilar para ajudá-lo a subsistir e prevalecer.”

William Faulkner

Sob uma colina olhando a cidade

Do interior de nossos dias no tempo
não sairemos inteiros.
Tocados pela garra do evento
não sairemos inteiros.
Amarrotados pela pressão externa do encontro
não sairemos inteiros.
Ninguém haverá de escapar
ninguém poderá exclamar
não existirão escolhidos
nada escapará ao ocaso
e a penumbra nos envolverá as pupilas
como um sopro de escuridão e tristeza.
O orvalho pendente nos ramos,
o brando descanso das pedras
e a terra finalmente deserta
coberta por um silêncio que lembrará um sorriso.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Olhar

Talvez seja vão
como vãs são todas as coisas
para apreciar o seu corpo
para me saciar do seu olhar
nas indas e vindas incertas de um pulso
que lhe envolve a cintura para sussurar
eu te amo.
Para me afligir na distância
e iluminar-me na santa loucura
de encontros e despedidas
no espaço breve de nossas vidas.
que na verdade se chocam
famintas do que temos a dar
um ao outro em siêncio
no breve espaço de amar.

domingo, novembro 08, 2009

Crepúsculo afetivo.

Quando ela escorre para outros abraços
é quando desesperado
me deparo comigo.
Me deparo com as coisas desarrumadas
com maus presságios e sombras nas mãos.
Entrar novamente nos cobertores sem ela
abandonar-me aos impulsos destrutivos
da poesia arrogante
que não cessa de me charfudar no remorso.
Quando a luz do olhar que ela me dá se esvai
e entra na noite
eu me esgueiro para o leito herdado
onde cultivo cuidadoso o meu fim.

terça-feira, novembro 03, 2009

Wu

O beijo da vida virá a mim
na forma imponderável de uma manhã
lilaz.
Eu me levantarei sobre os calcanhares para ver
os estádios esvaziados e a multidão silenciosa
a força do infinito e o punho do momento
a gritaria do pensar no salão do pensamento.

Enquanto estupefata você estará admirando
o sorriso inútil de um malmequer
cansado.

quando eu não mais temer a morte.
quando eu já não ambicionar a vida
quando o amor brotar do cume dos meus olhos
como uma super nova sem destruição
eu irei tomar a sua mão
e finalmente estar contigo inteiro.

domingo, novembro 01, 2009

Calendário

Para passar nossos dias aqui estamos,
Espalhando palavras que não se juntam em frases;
falamos,
Erguendo super-mercados, ostentando igrejas, lavando carros
e nos unindo em cópulas cegas
para ensurdecer o vazio.
Para darmos origem ao tempo
Para que funcione um mecanismo de força
E uma lógica de intenções.
Faces enrijecidas e precoces vidas breves
Condenadas pelo ataque geral das coisas.
Na argila maleável que preenche os intervalos,
no limbo da vontade da qual emerge nossa dor,
no tateio resoluto através do qual me oponho;
Com uma proposição sentida no peito devastado
E com o pássaro que agoniza e se transmuda em
Gente
Eu firmo meu estado em meio a multidão.