quinta-feira, dezembro 30, 2010

Wings of silence

Do not let me leave,
do not let me set boundaries
to defend me from emptiness.
Do not open the glass windows,
not light up the room lights
something is moving in the time
a fragment of pain in the dream
shining.
We will be there with open arms
will be together and unarmed
the uneasy silence of our wings
in fully understanding our limits.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Não-ser(sei)

Seria tudo mais fácil se a dor não enlouquecesse as pessoas,
Se a memória dos dias ruins fossem apenas imagens e sons
Acumulados na caixa óssea de nossas cabeças.
Seria tudo mais leve,
se na essência não fossemos nós todos
passado.
Se os choques e hematomas, os hábitos e comparações
Não compusessem um redemoinho imenso
Contra o qual é inútil nadar.
O medo e a perspectiva do medo, da queda
Da morte, da fome
Vergonha ódio e amor.
Na ciranda louca que nos faz o que somos,
Para sempre
e é inútil tentar escapar.
A única saída é olhar nos olhos da besta
Que avança sobre nossos jardins
E caminhar na direção de seus braços, sem pânico.
Para além de resultados e danos
Mesmo que isso destrua a quem amas
Mesmo que isso te torne um Deus.

terça-feira, dezembro 28, 2010

Feliz ano novo para vocês também.

Subi no ônibus lá pelas 21:00 do dia 31 de dezembro de 2010. Os fogos de artifício estouravam no céu de Salvador e o Paripe-Barra estava lotado. Algumas garotas conversavam sobre a festa, sempre bem baixinho, e sobre as expectativas do ano novo. Um grupo de rapazes agitados cantarolavam candidamente refrões suaves,e conversavam de modo educado uns com os outros. Todos estavam sentados e o motorista dirigia com cautela e muito satisfeito. Mas infelizmente acordei: um sujeito de dois metros esfregava sua virilha no meu ombro e alguém ouvia um pagode no ultimo volume no seu celular, um grupo de piriguetes gritava palavrões enquanto relatava detalhes de suas experiências sexuais. O ônibus sacolejava como um epiléptico conduzido por um motorista que parecia uma besta-fera. Tudo muito novo mesmo.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Verbete "natal" do códice tibetano. Especie de Wikipédia do Nepal.

Natal: festa desenvolvida pela religião cristã para substituir o culto de Apolo, divindade pré cristã, que era feito na mesma data. Não tem nenhuma relação com os prinicpais aspectos da religião cristã, cujos ensinamentos de seu fundador, um anarquista de nome Jesus Cristo, pregam a renúncia a vida social, a busca de riqueza, à familia e as tradições culturais. A maioria das autoridades budistas são unanimes em afirmar que o Natal é uma festa crucial para a cultura ocidental por alimentar o espiríto de concorrência. É esse espiríto baseado na inveja e na comparação como outras pessoas que irá desdobrar-se na festa seguinte, o Ano novo quando os ociedentais fazem planos para conquistar tudo aquilo que seus vizinhos exibiram no natal. (Ver verbete Ano Novo)

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Tudo sempre pode melhorar.

Uma segunda doce e tranqüila. João Paulo estacionou o carro na garagem da clínica, lá fora o calor litorâneo de Salvador começava a elevar-se; dentro do automóvel o ar condicionado conjugado a uma suave melodia de soul fazia tudo parecer muito fácil. Desceu do carro, cumprimentou Jonas, o vigia, que já suava sob o uniforme azul anil e o boné. João Paulo subiu o elevador da clínica "Amor e Cuidado" com o mesmo sorriso satisfeito de sempre. Passou pela secretária que lhe entregou uma pasta com a ficha dos atendimentos daquela manhã.
-Quantos hoje? perguntou.
-Apenas quatro doutor Paulo.
-Hum, nada mal. Reserve mesa para mim no restaurante Van Gogh. Avise que vou chegar antes das 12:00.
-Perfeitamente doutor.
Deixou a valise sob a mesa, vestiu o jaleco, acomodou-se confortavelmente e se pôs a ler os prontuários. Fez algumas anotações em cada um deles e após tê-los lido respirou fundo, apertando o botão do interfone em seguida.
-Pode mandar a primeira paciente entrar.
A porta abriu-se após alguns segundos e uma mulher beirando os 30 anos e vestindo jeans e camiseta estampada entrou pela porta.
-Bom dia doutor Paulo, com licença.
-A vontade Cristina.
Não tinha grandes atrativos. Os peitos eram bem caídos, mais que a média nacional. Os olhos estavam emoldurados em duas grandes olheiras e as pernas também eram bem finas. Parecia acuada e com vergonha de existir. Era como tudo que fizesse fosse passível de penalização. Após todo preâmbulo de praxe ela deu continuidade a história que tinha começado na outra sessão. Cuidava do pai doente, seus irmãos homens estavam todos presos e a única irmã mulher era prostituta. Não conseguia arranjar um namorado e também era atormentada por pesadelos nada divertidos. Paulo acompanhava todo o relato em silêncio. Ele era atencioso, disso não resta dúvida. Imterrompia apenas para pedir mais detalhes disso ou daquilo. Era a 2º sessão da terapia. Muito cedo para um diagnóstico. Mas haveria um, claro. Tinha que haver um. As coisas podem ser melhoradas, sempre. Mas naquele dia Paulo não chegaria a descobrir exatamente como; ele iria pedir simplesmente que cristina continuasse prestando atenção em si mesma e etc.
Na garagem o vigia que cumprimentou o Paulo pela manhã se angustiava com a perspectiva do desemprego. Era como se tivessem implantado um roedor em suas entranhas e o bicho estivesse com muita fome. A empresa de segurança para a qual trabalhava tinha perdido o contrato com a clínica de Paulo. Jonas já passava dos 50 aos e sabia como era quase impossível conseguir um emprego nessa área com a sua idade. Além disso sua mulher tinha dado o fora com um sujeito mais novo e que ganhava bem mais. É difícil tirar a razão dela, Jonas era feio como um susto. As pessoas da clínica não conseguiam encará-lo quando ele estava sem boné. Uma acne selvagem havia devastado seu rosto durante a adolescência e o bruxismo tinha tornado os seus dentes parecidos com um serrote quebrado. Separado, com aquela idade e com aquela cara Jonas só conseguia sexo pagando. A noticia da demissão serviu como catalisador dessas e de muitas outras frustrações. Coisas dolorosas para as quais seu limitadissimo vocabulário não possuía imagens o bastante. Talvez Paulo pudesse tê-lo consertado, como certamente fará com Cristina (claro que fará!), se tivesse chance para isso. Mas ao final daquele dia o estopim aceso pela noticia da demissão chegou ao fim. Ás 17:30 de uma tarde quente em Salvador às pregações dos pastores não serviam, a esperança não servia, a cachaça vagabunda com os outros fracassados não servia e Jonas já estava muito cansado para tentar alguma coisa nova. Cansado...Cansado dos puteiros, das igrejas, das piadas com a sua aparência, do mal humor dos bacaninhas e sua maldita vida perfeita planejada na buceta de suas mães branquelas. Mas de que adiantaria atirar-se contra eles? No essencial ele continuaria Jonas...e por isso pela primeira vez ele utilizou a arma do plantão.

domingo, dezembro 19, 2010

Contornando o domingo

Acordou mas demorou-se bastante na cama antes de se levantar. Era manhã de domingo e um samba entrava pela janela do quarto junto com os primeiros raios do sol. Na letra da música, assim como no resto do mundo, nada de novo. Uma pessoa falando de outra pessoa que a primeira gostaria que agisse menos como pessoa e mais como objeto. Estavam todos separados irremediavelmente mas essas doces palavras sopradas com entonações tristes davam a impressão que tratava-se apenas de uma decisão pontual, de uma “ingratidão”. Algo mexeu-se e se revolveu na cabeça dele impedindo-o de permanecer deitado a apartado de tudo como bem gostaria. Foi até a cozinha e esquentou um café. Passou manteiga em um pão francês e misturou o liquido negro e quente com uma gota de leite e algumas colheres de açúcar. Foi até o computador e colocou Schubert. Sim, você tem motivos para ficar espantado, os tempos são mesmos muito loucos. Hoje em dia um fracassado como esse não só ainda está vivo como ainda tem um computador. Que civilização doentia, que espécie degradada permite que um membro tão apartado e inadequado prossiga com esse grau de sarcasmo? Bom mas ele está aí, e tenho que falar dele também, afinal os demais já tem os seus Paulo Coelhos e Zibias Gasparetos para lhes narrar a existência.
Contudo, embora existindo, esse elemento não iria durar muito. A civilização não está tão degradada assim. Muitas mulheres alimentadas no leite sadio dos bons costumes e muitos patrões devidamente nutridos de bom senso iriam no tempo certo garantir que a inanição de afeto ou de dinheiro dessem cabo do aborto tardio. No entanto enquanto esse dia não chega ele prossegue colocando suas aspas em quase tudo que lhe aparece. Terminou de tomar seu café abrindo alguns email’s e dando-lhes a resposta que deveria dar, e não a que gostaria de dar. Colocou a roupa suja na máquina de lavar e acendeu um cigarro enquanto o aparato mecânico fazia o seu trabalho. Não tinha vontade de fazer quase nada que pudesse de fato fazer. Seus poderes ficavam aquém do desejo lhe sobrava. O sol estava muito quente e as praias certamente estavam lotadas. As praças estavam cheias de velhos querendo ser sociáveis e religiosos querendo ser salvadores metidos a besta. A televisão estava cheia de coisas inomináveis que produzem terríveis formas de enlouquecimento massivo. Os documentários intelectualóides eram panfletos para jovens a procura de alguma causa pela qual se empolgar. Restavam as mulheres. Sim. Isso era certo, ele pensou. Olhou os eletrônicos classificados a procura de alguma coisa pela qual pudesse pagar. Leu o 1º anuncio:
“Gostosinha manhosa. Faço tudo. Danço para você uma sensual dança exótica. Massagens também...”
Pulou para o próximo. Não gostava dessa coisa de dança. “Que diabos – ele pensava- tem a ver dança com trepada?” Não entendia todas essas músicas com alusões a caralhos e vaginas. Trepar é coisa que começa e termina. Como lavar roupa, ou cagar. Toda essa coisa de envolver sexo com arte lhe parecia coisa de quem tinha problemas com a transa. E esse, pelo menos, era um problema que ele não tinha; ou achava que não tinha.
“Universitária, alto nível, alta linda de peitos volumosos e bumbum empinado. 120 a hora.”
-Universitária? Arrgh – Pensou - As experiências com elas não tinham sido das melhores. Podia imaginar o olharzinho arrogante de quem diz: “Logo, logo vou ter um diploma e vou escarrar em perdedores como você.” Não precisava disso, não, realmente ele não precisava disso.
Depois de algumas dezenas de anúncios percebeu que não havia um jeito 100% seguro ou agradável de fazer aquilo. Foi para o banheiro tomar um banho e o pau subiu enquanto pensava em coisas que já tinha feito há algum tempo atrás, quando aconteceram milagres doces e acidentais trepadas . Deixou a mão trabalhar e o fluxo de consciência entrou no compasso da ânsia por submergir no nada; respirou fundo e chegou lá. É verdade que o domingo não tinha acabado, mas ele ainda tinha alguns truques na manga.

sábado, dezembro 18, 2010

Beto da mula.

Então eu passava as tardes subindo e descendo pelas ruas do bairro pobre procurando um propósito. O velho estava cada vez menos sensato e meu irmão pequeno que ele também criava lhe dava muita dor de cabeça. Eu tinha entre 15 e 17 e nada do que eu conto deve ser enquadrado em um período maior que um ou dois anos. Minha vida sempre deu giros muito rápidos; dentro de um espaço muito restrito é bem verdade, mas largo o bastante para tornar meu entendimento de mim um caos de figuras sem continuidade. Eu andava e andava. Passava algumas horas na porta de um amigo, ia para a porta de outro; até que as mães os chamassem para os afazeres que mães e pais costumam cobrar de seus filhos. Eu não tinha esse problema. Ninguém, desde os 10 anos, me cobrava nada. Exceto dinheiro. Minha mãe por exemplo já havia sugerido que seria melhor que eu tivesse me capacitado nas artes do furto. Não com tanta sutileza, claro. Eu me revezava entre a casa dela e a de meu avô. Não pertencia a nenhuma das duas. Não sentia que tinha direitos sobre espaço algum. Apenas ficava por lá até que um deles me enxotasse. Aí eu ia para a casa do outro. Eu não trabalhava, apesar de já ter 17, e minha mãe nunca deixou de frisar esse fato. Dinheiro era muito importante e mais tarde quando se casou novamente ficou muito claro que filho era um adjetivo de pouca relevância para ela. O velho nunca dava dinheiro a crianças, e sempre garantia comida e remédio. Enquanto esteve são, pelo menos disso ele cuidou perfeitamente. Eu o chamei durante um bom tempo, de pai. Mas acho que nossa relação não foi muito parecida com nada do que tenho visto ao meu redor. Talvez meus tios, os filhos dele, tenham pensado em coisas parecidas algumas vezes. O velho era meio frio para essas coisas de família, e a velhice progressiva colabora com toda indiferença . Eu vivi num limbo boa parte de minha juventude. Sem metas, sem estímulos e entregue a devaneios e pulsões irregulares que poderiam ter me lançado na perdição. Pensando bem e uma baita crueldade dizer essas coisas de alguém. Dá a entender que se trata de um julgamento sumário e condenatório. Nada disso. As coisas são o que são, e as possibilidades só existem como pensamento. Possível foi o que aconteceu. O que não acontece demonstra ser impossível. Logo, condenar um conjunto de comportamentos ou fatos é estúpido.
Bom, as coisas eram assim. Meus sapatos furados que eu evitava tirar do chão quando sentava e minhas pernas fechadas na cadeira para não exibir os remendos em meus fundilhos. Não usava cuecas e a maioria das minhas roupas eram doações de parentes um pouco mais ricos que também estavam sempre muito pequenas. Aos 16 eu não havia ainda sentido o calor de uma vagina enquanto todos os outros amigos com seus escalpos femininos eram festejados em verso e prosa. Eu tentava me convencer de que possuía algo mais elevado que simples apetites carnais. Um poeta. Suave e gentil demais para um mundo feito de violência e conquista. Mas me masturbava até ferir a pele do pênis, tudo em nome da inocência e da virtude. Ás vezes traficávamos revista pornográficas com um rapaz mais velho. Dávamos o dinheiro e ele as trazia para nós. Quando o velho as encontrava em meu quarto dava grandes surtos de moralismo indignado. Todavia, as mulheres das minhas revistas eram sempre muito sem graça em relação às mulheres peitudas de seus calendários. Aquilo sim era coisa boa.
Às vezes eu me apaixonava. E sempre era muito triste. Talvez me divertisse com toda aquela tristeza... Será? Não, acho que não. Teria adorado se as coisas fossem mais fáceis, mas elas não eram. Algumas vezes eu atravessa toda a avenida suburbana para tentar dar uns amassos. Qualquer remota possibilidade de contato feminino era suficiente para me fazer andar quilômetros. Mas com a condição dos meus sapatos e de mim como um todo frustrava todas as expectativas. Um dia consegui através de alguns piedosos amigos, e eu sempre tive bastante deles, um contato mais intimo com a ninfeta mais linda de toda a empobrecida avenida suburbana. Era linda em tudo. Doce, com os cabelos compridos e sedosos como uma noite bem dormida e sem sonhos. Eu a amava com um amor casto, mas me masturbava terrivelmente fantasiando enterrar-me em suas carnes. Os amigos advertiam-me de que eu deveria fazer apenas isso, a cair fora. Ah, mas como é difícil ouvir a voz da razão quando se tem 17 e nunca se teve um corpo gemendo entre os braços. Uma tarde fui encontrar a garota sem avisar. Ao dobrar uma das esquinas próximas a sua casa a vi sendo levada pela mão por um sujeito de aspecto mesquinho que levava uma mula pelo cabresto na outra mão. Era um tal de Beto da mula, como fiquei sabendo depois. O cara tinha uma mula, e eu não tinha nada. Me lembro que na época foi uma barra. Hoje até me parece bem engraçado. Mas você não tem o direito de rir.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

MInhas casas nada engraçadas.

Após me separar uma das coisas mais complicadas que encontrei pela frente foi ter que procurar uma casa para alugar. Uma vez que ela, por razões óbvias, não iria dar o passo decisivo para fora da casa própria eu tive que fazer isso, ou permanecer na Geena. Com o salário de fome que eu ganhava logo compreendi que não seria uma tarefa fácil morar com dignidade de aluguel. A primeira casa que aluguei (se é que merecia esse nome) era um fundo de garagem com uma boca de esgoto aberta que supurava bem na minha porta. Apenas uma sala, que funcionava como quarto e cozinha também, e um minúsculo banheiro apertados em um espaço escuro e repleto de baratas. Exagerado? Rs. Estou sendo otimista. Até os pesadelos Lá eram mais horrendos. Fiquei apenas alguns meses, não suportei, comecei a procurar outra coisa. Achei uma casa no subsolo de outra casa. Um pouco melhor. Essa era escura e úmida como uma cripta. Tinha baratas também, mas em menor quantidade. As coisas estavam melhorando aparentemente. Até que era um pouco aconchegante. Dava para ouvir o trepidar dos ônibus que passavam na rua acima de nossas cabeças e o auto-falante da rádio comunitária que tocava música evangélica e Roberto Carlos o dia inteiro.. Ficamos um par de anos nessa cripta. Resolvemos nos mudar para o centro. Queríamos viver com qualidade (Rs). Depois de muita biela encontramos uma Kitnete em um bairro pobre do centro da cidade. Muito Pequena também. Bem menor que a cripta. Quente. Muito, muito quente. O sol castigava por uma janelinha de dois palmos e não havia outra entrada de ar. Era poente e ao meio dia a sensação era de que morávamos em um microondas. Para completar havia uma pequeno antro bem em nossa porta que prezava pela música de bom gosto. Apenas a fina estampa da música popular baiana. Os freqüentadores também eram do mais alto quilate. O apartamento dava para uma série de corredores que nos levavam através de um S até a rua. Parecia-se muito com um Bunker da 2º guerra. Um dos portões dava para uma boca de fumo. O outro para uma avenida conhecida por tiroteios e estupros.
Pressionados por essas características da moradia resolvemos nos mudar novamente. Mais alguns meses batendo perna até achar algo que pudéssemos pagar. Encontramos miraculosamente uma casinha barata, bonita e recém reformada em uma rua tranqüila. Uma reflexo no deserto, um oásis? Nos mudamos. Tudo muito bom. Uma das épocas mais fecundas em produção intelectual para mim. Uma noite, porém, por volta das 3:00 da madrugada ouvimos os vizinhos chorando, gritando e reclamando. Imaginei que era briga de casal e voltei a dormir. Acordei novamente com o barulho do ventilador que caiu. Levei o pé em direção ao chão para me levantar, e qual não foi a minha surpresa AO PERCEBER QUE A CASA ESTAVA INUNDADA DE AGUA. Pulei da cama apavorado. Acordei minha mulher que começou de imediato a gritar também.
Corri para a sala, os móveis boiavam. A televisão, o monitor do P.C tudo boiava placidamente na água barrenta que continuava pressionando a porta da frente. Quando a abri uma nova torrente adentrou o recinto. A rua estava cheia de água. Os vizinhos tentavam desentupir uma boca de lobo. A casa dos meus sonhos era abaixo no nível da rua e a rua era abaixo do nível da rua principal. RS. Nunca havia descido tão baixo. Após o esvaziamento da casa (e da rua) me queixei com a proprietária que alegou não poder pagar os prejuízos. Iria abater parte deles do aluguel. Excelente solução! Isso significava que iríamos ficar presos a uma possível morte por afogamento para reduzir os nossos prejuízos. E depois eu que sou sarcástico.
Começamos a procurar moradia de novo. Andamos muito, muito, muito até enfim acharmos um apartamento que poderíamos alugar. Parecia perfeito. Bem ventilado, bem localizado. Por outro lado eu deveria ter desconfiado de que algo estava errado, mas não notei é claro. Mudamos-nos. No dia do descarrego dos móveis notamos que o proprietário tinha uma irmã louca de pedra. Continuamos sem desconfiar de nada. Um dia ela bateu em nossa porta para pedir dinheiro. Disse que o apartamento era dela e que o irmão não lhe repassava o aluguel. Detesto loucos quase tanto quanto detesto religiosos fanáticos ou até mais. Tive um insight meio bizarro na hora. Pareceu-me que rolava um lance meio incestuoso entre a louca e o irmão. Talvez paranóia minha. Bom, o fato é que isso se repetiu. Bastava perceber que havia alguém em casa que lá vinha ela pedir dinheiro e quando nós não dávamos ela gritava, xingava e ameaçava. Também cortava nossa água. Não conseguimos mais falar com o proprietário. Ele desaparecia nessas horas, e depois também. Em síntese. Desapareceu por completo e não atende o telefone. Sim. Isso aconteceu hoje à noite. Enquanto escrevo agora estou procurando uma casa para me mudar. Algo que seja normal o suficiente par não agregar novas linhas e essas história. Você tem alguma sugestão?

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Almoxarife do absurdo.

Sentado sob a pedra do agora,
Eu fumo um cigarro de trégua
Enquanto revejo e escrevo.
Enquanto catalogo esquemas, enquanto mapeio
Conflitos,
Os carros passando na rua,
O sorriso de sobrancelhas erguidas,
As mãos unidas no gesto,
E a alma que quer ir para longe.
Quantas vezes já passei por aqui?
Caminho bifurcado numa alameda sem placas.
Ocorre-me que estamos caindo;
Do nada
Em nenhum lugar.
Agarrando-nos desesperados com lábios e dentes
Nas coisas, nos nomes, nos livros e em toda gente.
As unhas nos servem, nossa dor funciona, os golpes,
As frases, os deuses o ódio e a piedade
Artefatos usados nas praças e irmandades
ganchos e foices
Para agarrarmo-nos em outras coisas que caem.
Mas eu apenas me sento para catalogar reações,
Para prever artimanhas e decifrar essas coisas,
Enquanto você me fala de amor.

terça-feira, dezembro 07, 2010

Manual básico de ressentimento e mal-dizer.

Você é uma tempestade decidida
E eu sou um carvalho determinado e duro,
Encantam tuas luzes no céu a meia noite
Descem minhas raízes até um mundo escuro.

Prestam-te honras os ventos masculinos
Invejam-te os dotes frívolas amigas
Tens um carro, um Ipod, desejas casamento
Minha casca ressequida de uma guerra antiga

Nos temporais quando distribuis encantos
Na minha batalha o sangue empapa o chão
Você não nasceu para esse lado amargo
E eu não comprei entrada para sua aparição.

Você estala os dedos, bate o pé, exige concessão
Eu Quebro pedra com a testa, na espada um grito
Tuas prioridades são cobradas pela multidão
Minha dor se assemelha a um lindo infinito

sábado, dezembro 04, 2010

Pessoas

Pessoas despedaçam,
Pessoas não se esquecem,
Coroas de palavras adornam as avenidas
Por onde desfila a dor.
Pessoas caminhando,
Contemplado outras pessoas,
Gritando enlouquecidas por migalhas
De atenção.
Pessoas não partilham,
Com os punhos entrevados se combatem
Lançando em direção ao torvelinho a pura polpa
De um SI faminto.
Pessoas não desfazem, não retornam, não refazem
Continuam a cada dia uma velha ciranda de despojos:
“elas me deixariam calcinado
se eu ainda possuísse um pássaro”.
Pessoas não carregam girassóis no olhar,
Não rebrilham em distração
Não conhecem a magia de uma rocha nem a
Felicidade de um antigo tronco simples.
Coletânea de repetições leiloadas por leprosos cegos,
Armário das angustias
Caminho triste que trafego.