terça-feira, dezembro 30, 2008


Inferno

Somos nós quem levantamos os muros de nosso próprio inferno. Esse muro é feito de um cimento brilhante e desejavel, que continuamos a venerar mesmo depois da parede erguida, e enquanto gritamos contra nosso tormento não percebemos que boa parte de sua estrutura é composta do mesmo material que alimenta nossos sonhos. Queremos atingir nossas metas, mas não queremos assumir a consequência de nossas metas. Queremos uma mulher peituda e bunduda mas não queremos uma mulher superficial e chata. Queremos um(a) parceiro(a) fiel e dedicado(a) mas não queremos ser objeto da possesividade de alguém. Queremos alguém que não tenha ciúme e não seja possesivo e não queremos que essa pessoa sinta-se livre para desejar outras pessoas. Absurdo. Como se os sentimentos humanos pudessem brotar da magia, do milagre, da rendição incondicional a nossos encantos. Como se todos os atos humanos não se originassem de uma mesma postura a respeito da vida. Queremos o alcool sem a ressaca, o sexo sem o cansaço, dinheiro sem trabalho, inteligência sem desgastante estudo, fidelidade sem possesividade...em sintese, a vida sem consequências. E quando as consequências se apresentam, como grandes crianças mimadas que somos, batemos o pé, damos chilique ou até ameaçamos suicidio. Queremos que a vida seja gratuita e que nossas escolhas não tenham um preço. E que as coisas que elegemos como as mais desejaveis não venham com algum tipo dissabor. Deve-se isso a nossa educação religiosa, pois a religiosidade estimula a irresponsabilidade. Estamos lançados ao mundo e a ele reagindo e quer aceitemos isso ou não, o que consideramos bom ou mal é a nossa resposta para a pergunta fundamental: "o que queremos nos tornar?"Penso que é impossivel responder a essa pergunta sem ter que pagar por ela de alguma maneira. E somos nós mesmos que iremos cobrar. Ainda não encontrei sobre a terra um só individúo que não tivesse queixas sobre seu modo de vida, e no entanto, quem mais poderia ser responsavel pela vida que levamos senão nós mesmos?

sábado, dezembro 27, 2008

Stirner

Seculos de cristianismo sedimentaram entre os individuos uma forma bem caracteristica de lidar com o mundo. A canonização dos própositos humanos em valores "transcendentais" é um dos traços dessa herança cristã. Apesar de constituir uma aréa bem especifica da filosofia, a critica dessa herança pretende ultrapassar a divisão classica entre filosofia e senso comum por questionar todas as hierarquias valorativas baseadas no que seria o valor intríseco da verdade. Para autores como o jovem Hegeliano Max Stirner o único critério para julgar o valor de uma ideia seria o interesse de quem a defende, pois as ideias assim como as demais ações humanas são modos de obter o gozo em relação ao mundo, para através desse obtermos a nossa ataraxia, nossa auto-fruição. A verdade, segundo essa descrição, seria apenas um fantasma, que veneramos quando esqueçemos que a origem das ideias é o nosso interesse. Em breve irei publicar outros pequenos artigos sobre o Stirner. Segue abaixo o link para baixar alguns livros dele.


http://www.4shared.com/network/search.jsp?searchName=stirner&searchExtention=&searchmode=2

sábado, dezembro 20, 2008

Os termos nos quais colocamos a coisas que consideramos uteis são os mais diversos. Ser pragmatico em um certo sentido não exlui o idealismo, pois há problemas para os quais a solução pode depender de uma certa atitude de desdém em relação ao mundo. Entre as literaturas do "ressentimento" a que considero mais bem sucedida é a de Albino Forjaz, "Palavras cinicas" a segunda é a de Matias Aires, " Reflexão sobre a vaidade dos homens" e Omar Khaiam " O Rubayat" os 3 dão os mesmos choques elétricos do cristianismo sen o ônus da falta de inteligência e da fé. Seguem os inks para baixa-los.

Matias aires

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=38089

Albino Forjaz

http://recantodasletras.uol.com.br/arquivos/770482.pdf

Omar Khayam

http://www.4shared.com/file/18375091/b1019df/rubayat.html
A proxima cerveja
o proximo amor
e a morte....
expectativas razoaveis.

quinta-feira, dezembro 18, 2008


Condição severa.

O sopro está no centro de si
tem sua parte de espaço
e o movimento cego que corta.
A carne do tempo é opaca,
Assinalada pelo laço
inevitavel das perseguições,
dos diabos confusos,
da peste isolada,
a carcumência celebrando
em meio a castelos deserdados e setas anteriores fendendo
nossos dias de trabalho
planejamento
e sede.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Buterfly

Não escrevam.
Coletem as impressões gerais
e reguem as paginas das dor
com gestos.
Não escrevam
principalmente poesia
se não encontrarem na estrada
para a confiança
desespero, dor, loucura, fome
e uma borboleta transparente
assobiando ao sol nascente.
Poupem-se das horas gastas
sob pensamentos vastos.
Ganhem dinheiro, casem,vão aos estadios lotados, as igrejas lotadas
as praças lotadas
pela ampla estrada do sucesso a qualquer custo.
Mas não escrevam...
Preservem a unica dignidadeque lhes é possivel.

domingo, dezembro 14, 2008

Talvez ela considere ofensivo, mas tinha uma linda xota. Alta, popuda e deliciosa quando sorvida. Conquistada sem muitos esforços, mantida sem muitas crises, cumplice das transgressões e do "deliriuns canabiens". Gostava de meter e depois fumar um ouvindo essas coisas ultrapassadas que rapazes carcumidos como eu veneram. Um Dylan (one more cup, oh sister) e aquela fome partilhada no embate corajoso do ataque quente e da recepção macia. Sim, sim e sim.Sexo é simples. Carne é simples. E as nossas almas precisam de pouco mais do que espaço e coragem. Eramos dois univeros isolados se mesclando em meios a uma tempestade de metidas, gemidos, chupões, catarses e...repouso. Repouso necessário para seguir em frente, repouso indispensavel para ter clareza e vislumbrar a face radiante...do vazio

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Flama

Quero-te devastadamamente
com um sopro inflamado
e um mel de estrelas.
Quero-te com a ingenuidade da hortelã
pisada pelas geadas
e pelo temor do amanhã.
Quero-te errado
vagabundo,
cético
e totalmente dobrado
pela tua disciplina,
pela tua dobra de corpo,
pelo teu reino de dor.Quero-te incerto,
sem um amanhã
para a louca tempestade que arrasta os meus cansaços
em direção aos teus desejos.

post scrap cancel

segunda-feira, dezembro 08, 2008

A fofoca e a filosofia

Ainda mantemos como herança de nossos avós o hábito de comparar nossos destinos. Isso deve-se, creio, ao fato de algumas pessoas só conseguirem levar a vida adiante se acreditarem de alguma maneira que são melhores que as outras. Ainda que o que aqui eu chamo de "melhor" possa ter diversas aplicações, é no entanto um fato notório presente tanto nas fofocas das velhas comadres, na auto-promoção dos playboys através das suas façanhas sexuais ou mesmo no orgulho daqueles que acreditam-se mais fortes ou mais "realistas"que os outros. Não creio também que esse tipo de hábito seja um "mal" por si mesmo, é apenas mais uma opção entre tantas, mas que sempre vem recoberta de uma aura de superioridade que envolve quem o assume. Pode ser caricato visto de perto, ou pode ser muito útil quando se é um completo fracassado diante das próprias metas que sem essa crênça já teria estourado os próprios miólos(ou os alheios). Algumas religiões tem o mesmo efeito. Eu prefiro optar pelo que Richard Rorty chama de uma concepção Darwiniana do conhecimento. PAra tal concepção qualquer ideia ou postura visa unica e exclusivamente o bem estar de quem a sustenta. Logo, não existem ideias ou comportamentos melhores uns que os outros, todos atendem a necessidades pessoais que variam de um individúo para o outro. Nessse sentido, a "fofoca existencial" essa que tenta impor aos outros as próprias preferências seria apenas uma "hiperbole", um desejo de anular a vida privada alheia, submetendo-a a uma concepção pessoal de como o mundo deveria ser. Portanto, você que perdeu seu tempo lendo essas linhas, poupe-se de chamar o que eu escrevo de "ressentimento" ou "apologia do fracasso", há muito tempo parei de dar ouvido as comadres.

domingo, dezembro 07, 2008

Eu nasci nisto

Eles não poderão
alcançar.
Os seus dedos famintos e cansados
e o olhar de medo impedirão aquele gesto.,
Eles só terão explicações..
como foram fortes,
como resolveram tudo aquilo,
qual a medida exata,
E cada polegada de sucesso
ou heroismo.
E então
No tempo certo toda merda acumulada
irá jorrar dos abismos qual imensa tempestade.
Nesse exato instante
e a partir desse momento
Haverá espaço entre as trincheiras
para a vida plena.
O pequeno gesto que eles não irão lograr
é o aceno diário,
e o cumprimento leve
que lançamos ao horror.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Natalícia de Aragorn

Ficando mais velho. O cancro dos dias cada vez mais exposto, as chances cada vez menores, a corda apertando em torno do pescoço. Os momentos doces ficando cada vez mais caros. Talvez existam redenções e fugas, sucessos e vitórias, reconhecimento e admissão...mas ainda não descobri como. Sempre um mal entendido, uma nova prestação a pagar um esbarrão com o incerto. Ficando mais velho. Sem o atenuante do aproveitamento do passado nem a compensação da vitória a qulaquer custo. Mas, de uma coisa tenho certeza...a escuridão não me levará a rastejar. Não irei pedir clemência diante dos tribunais, nem implorar por misericórdia. A armadilha foi muito bem montada, reconheço, mas não vou cair com preces ou salmos entre os lábios. QUe venha a escuridão, que venha o desespero, não cheguei até aqui para desistir do estandarte vermelho que carrego. Eles estão em maior numero, eles tem o gado, os pastos, rios, mulheres e a força. Eu tenho a mim. Essa clareira há de sustentar o meu conflito.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Um dia nada bom..

Não sei o que é bom nem ruim para os outros, mas apenas para mim. Todavia, gosto de especular. Naõ sei os motivos das ações dos outros. Não sei o que leva um sujeito que nunca cortou definitavemente o cordão umbilical a se achar o "FODÃO". Também não sei o que leva uma senhora a acreditar que tem direitos de propriedade sobre alguém somente porque lhe cedeu alguns doces momentos de partilha corporal. Não sei...Mas gosto de especular, e isso me parece muitas vezes perigoso, porque não sei o motivo pelo qual eu o faço. Mas especulo que a minha especulação pretende me fazer sentir superior a quem não o faz. Mais uma estrategia sórdida entre tantas. Cada um se defende com o que tem. A verdade é o canivete mais usado para roubar a simpatia que não conseguimos conquistar. Cada um está só. As pessoas são frageis e envelheçem, a morte é o de menos. Temos mêdo uns dos outros e de não termos uns aos outros para termos mêdo. Queremos uns aos outros e não queremos que nos queiram de determinada forma. Complicado. É, hoje de fato não foi um dia bom.....

domingo, novembro 30, 2008

O passo e o abismo.

A diferença entre nós dois
não é uma questão de escolha.
A diferença entre nós dois é a diferença
entre o expurgo e a chegada,
entre o acolhimento
e a rotulação de estorvo sobre a testa.
Um cortina rasgada de esperança
em berço maculado de desdém,
a absoluta desertificaçãodo afeto...
Um laço claro entre a consumação da vida
e a procura do caminho a seguir.
Uma certa dose de tolice...
A diferença entre nós,
é a diferença entre ter se perdido
caminhando as cegas
e não conseguir impor o padrão herdado
ao mundo.
A diferença entre nós é a diferença
entre a absoluta falta de laços
com as pessoas
e o ninho confuso e quente que gerou
teus pesadelos.
A diferença entre um nada livremente atormentado
e as correntes que arrastas e lhe fazem sentir
a segurança.
Um vazio imenso aos domingos....
A necessidade de fingir que tem amigos...

sábado, novembro 29, 2008

quarta-feira, novembro 26, 2008

Memorial dos redimidos ( para Orlando)

Todo fracassado sonha em sair da lama
e teme retornar para lá.
Uma casa bem grande,
Um quarto arejado,
"Porra onde estão meus óculos especiais?"
"Hoje iremos com a ferrari, mercedes é para perdedores !"
Uma mulherzinha doce e sensata
Para ouvir juan baez
enquanto ele lê Henry Miller
e acha que se deu bem.
Todo fracassado tem Brio
e memória,
e sabe que as coisas ruins
não tem redenção,
e sabe que as coisas boas
tem que ser disputadas a tapa
tiro,
sangue,
e dor...
Flores indescritiveis
em meio a devastação.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Bosque secreto.

Amo quando vens para mim,
sem nada pedir, inteira dada.
Teu corpo rijo e sincero,
sedento e fresco,
oculto e meu.
Querendo o que me destroi
Ansiando pela visita severa
que entra e se vai como um sopro
inflamado.
Levo teu nome na lingua
Carrego na boca teu gosto
Sou filho dessa floresta
marcado por essa chaga
Bosque secreto da agua da vida
descemos ao poço,
meu bem,
para encontrar a saida.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Ramo

Guardo muitas coisas no quintal

Cacos estilhaçados e noites irrefletidas

Fotos de nossa senhora com saltos altos

e alguns comprimidos velhos de

voluntário desperdicio.

Todavia separo semafóros e sentenças

das pontas imberbes de grama sedenta,

acalentando com irresponsavel cuidado

um amor que se sustenta

de dores.

Mas percebi uma nuvem...

todavia, me afligiu um preságio...

e vi no olhar que me vê

um brilho despedaçado.

Ela não crê no alto

Ela não eleva uma preçe

Ela não comunga do esquecimento comum

que sustenta a multidão

Ela tem a pele brilhante como a petala

banhada no orvalho da imensidão

E tece seus dias desfiando questões e projetos

enquanto ergue os ramos para sustentar

a palavra.


contabilizando as sensações,

Eu diria que ela está do um outro lado

e que merece a felicidade

sem as pessoas no caminho.

Deni, esse poema é para você.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Considerções sobre o Boxe e a verdade.

Uma das frases mais razoaveis que já vi alguém pronunciar não foi dita por um filosófo nem por um santo, foi dita por um Boxeador com psicose maniaco depressiva e campeão do mundo: Mike Tyson. Questionado sobre a melhor estratégia para ganhar uma luta ele respondeu "quando sobe no ringue todo homem acha que tem um plano, até receber o primeiro soco".
Acho essa frase fenomenal, e apesar do velho Mike ter sido arrastado pelos próprios dêmonios, ela mostra quantas lições uma vida dificil pode ensinar. O motivo do meu apreço por tal sentença é simples: todo mundo tem suas certezas, e acha que não vai modoficá-las de forma alguma! certezas sobre o que é bom e mal, verdadeiro e falso, desejavel e odioso, até tomar o primeiro soco.
A única forma de manter-se toda vida com as mesma convicções, estratégias de como se sair bem de um jogo ruim, é ser preservado do ringue, coisa que muitas pessoas conseguem através da proteção conferida pela familia, pela sorte ou pela doença. Quem está vivo e fora dos muros erguidos pelo passado inevitavelmente tomará alguns socos e terá que rever seus planos, ou então beijar a lona e esperar o paraiso.
Veja, as ruas estão cheias de caras que acreditam poder enfrentar o mundo inteiro apenas com a sua revolta. Tendo nascido nas periferias e se alimentado do caldo do ressentimento que ensina que somente a "atitude" e a esperteza são suficientes para um homem se dar bem na vida esse caras terminam estampados nas paginas policiais ou se acomodando entre a escravidão, a igreja e o futebol.
Tem os religiosos , mas essses basta olha-los um pouco para rapidamente darmo-nos conta da verdadeira natureza dessa opção.
Mas no final das contas uma coisa é razoavel pontuar, também não existe nenhuma certeza de que não ter estratégias é a melhor politica.
A única coisa que se pode saber é que nossas crênças são tecidas com a teia da história de cada um, e podem e devem ser mudadas quando não satisfazem aquilo para que se destinam: a capacidade de esquivar-se dos socos da vida.

sábado, novembro 01, 2008

Advertência aos que tem brio

Max stirner me ligou
ontem a noite,
cansado e com sono
foi um dia difícil na zeladoriado hospício.
Sua voz estava cansada e caia
uma chuva de cachorros mortos
na rua.
“Acho que uma mosca me picou”
Ele falou
“Elas vivem me mordendo também”
Respondi
“Não consegui pagar minhas dividas,
Fui em cana,
minha mulher me deixou,
E como falei tudo aquilo,
também não encontro trabalho”
Ficamos os dois em silêncio.
A linha clara da convicção já havia ligado
os caminhos,
não podia ser diferente,
não tínhamos essa certeza também
“É isso ai”
Eu falei “
É isso ai”
Ele respondeu
Disse ainda qualquer coisa sobre um copo de vinho algum dia
e se despediu.
Eu voltei para meus cigarros psicotrópicos,
Meu site pornô,
Meu blues e meu country...
E antes de apagar minhas luzes
uma pétala de flor colorida pousou
sobre minha credencial para a vida.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Notas sobre a valentia

Tudo se resume para alguns
A estar indignado.
E para outros
A ter um membro entre as pernas.
Mas indignação, membro, herança
Ou qualquer outro predicado
passivo
Não constituem mérito algum.
E fique claro,
Flores que crescem no vale
Não erguem barricadas de chumbo
O porco esfolado que grita
E a rasa virilidade que fere
Estão de mãos dadas na sombra.

Uma audiência

A entrevista foi marcada para as oito, porém chego mais cedo, com o específico propósito de impressionar pela pontualidade. Tolice, ninguém percebe nem mesmo a secretária loura de óculos e decote violento, gostosa demais para ser interessante, do tipo que não goza, pede o extrato bancário para saber o que dizer depois da transa.Alguns caras chegam depois de mim para o teste, uns dez e todos com caras horríveis e gestos de exagerado cuidado ou descontração forçada. Cada vez que meu olhar se cruza com o de algum deles procuro desviar rápido, evito assim uma interlocução indesejada feita de representação e senso comum. O que teria eu para falar com esses caras? Devem ter esposa chata que reclama por causa do copo fora do lugar e pede separação todo domingo à noite, amigos que os convidam para a pelada de final de tarde e cervejinha barulhenta em pocilga de esquina ou pastor evangélico para vender paz de espírito e auto - estima. Não, conheço bem esses mal entendidos sociais, além de muito desagradáveis não acrescentam nada nem a eles nem a mim “ cada macaco no seu galho” filosofa a sabedoria popular com muita propriedade.É curioso perceber como essas pessoas facilmente se aproximam uma das outras, após alguns minutos várias linhas de conversação foram estabelecidas. Depois de uma hora parecem grandes amigos, se ficassem mais uma hora acabariam marcando um churrasco entre suas famílias e apenas eu e a loura gostosa não seríamos convidados, ela pelo orgulho de seus dotes físicos e eu pela minha chatice silenciosa. A porta se abre e uma outra mulher, também linda, sai e fala algo com a loura tão baixo que não consigo ouvir. Todos se calam e ficam esperando começar o chamado para a entrevista. Eu sou o primeiro e ao ouvir meu nome levanto-me e tenho a impressão de que todos os olhares estão sobre mim, caminho até a porta e antes de empurrá-la respiro fundo quase chego a desejar que Deus me ajude. Meu desespero, todavia não chega a esse ponto.A sala é sobriamente decorada e sentada na mesa a linda (por que só existem mulheres bonitas em agências de emprego?) de cabelo preso em rabo- de- cavalo escreve algo, ou finge que escreve:- Com licença.- Entre e sente-se, Sr. Leon.Com todo cuidado eu puxo a cadeira e sento, tentando demonstrar tranqüilidade e esconder o que sinto a respeito de toda sua fingida cordialidade.- Você é casado?- Separado.- Tem filhos?- uma filha de quatro anos – A cada pergunta respondida ela baixa a cabeça e escreve algo; como adivinhar o que ela quer ouvir? Afinal de contas ninguém está interessado em verdades, numa agência de empregos, aqui o que importa é ser aceito ou rejeitado para o jogo de ratos, e eles fazem as regras.- O que você espera desse emprego, Sr. Leon?Que raio de pergunta é essa? Espero conseguir me alimentar dar a despesa de minha filha, pagar o aluguel e talvez tomar um vinho e fumar uns cigarros. Sei porém o que ela quer ouvir.- Ora, o que todo mundo quer, um salário.- Disso nós sabemos Sr. Leon, o que não sabemos é o que você espera que a empresa faça por você: ela sorri complacente e gesticula num gesto amplo como se espalhasse pétalas de flores, nesse exato momento minha cabeça começa a rodar. Preciso do maldito trabalho, a pequena precisa, mas preciso também não perder a noção de quem sou, se isso acontecer já era sanidade... Tenho que encontrar um meio termo.- Olhe senhorita, sou experiente em diversas ocupações, domino bem a linguagem e não tenho medo de trabalho pesado, isso é o que tenho a oferecer, agora acredito que o que a empresa pode fazer por mim é me pagar pelo meu trabalho.- Mas e seu desenvolvimento pessoal, crescimento profissional, promoções, carreira. A respeito de sua realização, você acha que a empresa pode ajudá-lo a atingir isso? – Ela me olha nos olhos sorrindo, eu levanto a cabeça respiro fundo e digo:- Acho que não senhora, essas coisas pretendo atingir sozinho, isto é, na suposição de que sejam atingíveis.A entrevista continua, ela faz outras perguntas e continua fazendo suas misteriosas anotações, mas o tom de sua voz muda e eu percebo que já não sou mais uma possibilidade. Ela emite alguns comentários sobre a vaga e o salário, com um certo desdém, e no final repete o conhecido adágio “não se preocupe, nós lhe ligamos” e me manda porta afora. Fim de jogo, não sou aproveitável por não estar dobrado o bastante para caber no bolso do patrão. Sem ganchos(será?) nas costas e sem dinheiro para o aluguel e para a desepesa da pequena. Na áfrica nesse exato momento crianças são devoradas por abutres, alguém está descendo de um helicóptero que custa alguns milhares de dólares em Malibu ao LADO DE UMA LOIRA PEITUDA, e tudo parece muito estúpido. Um imenso acidente, sem importância mesmo. Do outro lado da rua um sujeito em trapos caga de´spreocupadamente sob o olhar estupefato de respeitaveis cidadões. Arvores secas e sem gritos, ereções involuntarias e sem gesto, Minha hemorroida que começa a doer...onde estão os brigadeiros? sorrisos inefaveis? solidões desconhecidas pela minha rota errada? pelo meu bastão de fogo? As crianças sendo torturadas? maniácos na condução das coisas? e tudo andando como deveria desde o inicio especulado e o controle imovel que não há. Aumento minha compreensão dos mecanismos, acendo aquele cigarro já citado, entro no ônibus e a vida me refuta.

domingo, outubro 26, 2008

Armadilha para Jonas.

Viveu o velho Jonatas uma vida veneravel. Criou os seus filhos da melhor maneira que lhe foi possivel, o que não evitou que um entrasse para ocrime e que a filha mais nova engravidasse de um adolescente malandro e preguiçoso, como muitos que se pode encontrar pelas periferias. O velho Jonatas, ao contrário da maioria dos homens nascidos e criados na favela, nunca procurou ostentar as suas parcas conquistas aos olhos dos vizinhos, e ao contrário de sua mulher nunca se importou muito com o estes pensavam sobre a sua vida. Foi seguindo seu curso de vida muito mais por inercia do que por qualquer tipo de “virtude” (se é que isso existe”) e se viu aos sessenta anos completamente enroscado em uma constragedora situação. A questão é que sua filha precocemente “amaziada” com o vagabundo do seu genro sempre trazia algumas amigas para assitir televisão em sua casa, e como não quizessem criar confronto Jonas e a Mulher não colocaram objeção. Ora, tinha Jonas a impecavel reputação de grande pai de familia, cuja renuncia a uma vida de festas e aventuras teria garantido, por exemplo, que o filho mais velho se formasse Médico e que sua mulher fosse uma especie de simbolo da realização feminina
-olha a constância
diziam os vizinhos ao ver a mulher de Jonas passar com a sacola do pão, altiva e segura
- Isso é que é uma mulher feliz
Foi nesse contexto que Jonas se viu um dia bolinando a amiga da filha por debaixo da mesa onde tomavam café. Era uma Negra linda a clariça. Peitos arrebitados, bunda rechonchuda e um pé de umbigo que provocava dores fortes no peito carcumido do velho Jonas, e ele não segurou a onda. A menina gostou do joguinho. É claro que Jonas sabia que aquilo não era certo. A garota além de ser menor de idade poderia ser sua filha, ou neta. Mas nada disso alterou o curso dos fatos e uma noite, após todos terem ido dormir Jonas foi pé ante pé, ofegante como um porco prestes a ser abatido até chegar ao quarto de hospedes onde dormia a Clariça. A menina bancou que estava dormindo e Jonas sabia que aquilo era parte do jogo não se fazendo de rogado. Levantou a coberta e viu na meia luz aquela bundinha arrebitada desenhada pelo minúsculo short. Tirou a camisa dela e viu os peitos. Duros, com os bicos amarronzados em posição de alerta. Jonas ofegava quase perdendo o folêgo, e ainda nem tinha metido. Tirou o Short da menina , que ainda fingia dormir, e em seguida liberou a pica latejante com a enorme cabeçorra vermelha. A garota tremeu de olhos fechados como se soubesse o que iria acontecer. Jonas colocou a ponta na entrada e foi metendo devagar. A menina convulsionava e tremia, Jonas aumentou o ritmo e enfiou tudo. Ainda de olhos fechados clariça gemeu baixinho:
- Ai ! seu Jonas

Jonas continuou indo bem fundo, na hora exata de gozar tentou tirar a ferramenta para não correr o risco de engravida-la, mais clariça nesse exato momento abriu os olhos e com um risinho satânico exclamou:
- Acha que vai fugir de dentro de mim assim “seu Jonas”.
Naquele instante Jonas compreendeu tudo, e descobriu que estava perdido.


Afeto Romântico e Afeto Reacionário

Era muito comum no século XIX que os filósofos, literatos e sociólogos se debruçassem sobre os hábitos e idiossincrasias sociais de seu tempo com o propósito (implícito ou explicito) de exercer sobre as peculiaridades do comportamento de seus contemporâneos alguma influência. O tipo de sociedade que sucedeu a do século XIX condenou ao ostracismo das tribunas das igrejas e a marginalidade dos folhetins sensacionalistas o tipo de juízo que moveu a política e a vida privada de nossos antepassados. Pessoas como Nelson Rodrigues, profundamente comprometidas com o projeto de “descaracterizar” a moralidade burguesa, ou escritores de auto-ajuda como o Roberto Shiashiki, muito mais bem sucedidos nas vendas, que reproduzem narrativas medievalescas de afetividade fundada na fidelidade, casamento, renúncia e etc. fundam-se nessa tradição demasiado recente para nós Brasileiros. Em um determinado momento senti a necessidade de escrever sobre a polaridade ambígua desses dois partidos, o dos conservadores, que procuram adaptar o ritmo frenético do nosso modo de vida as velhas e não tão bem sucedidas expectativas sobre como se deve ou não se deve amar, e o partido dos românticos que há mais de um século seguem gritando que o prazer imediato e contingente deve necessariamente submeter à estabilidade da vida familiar.
No sentido de realizar o experimento pós moderno de submeter alguns dos nossos há bitos e costumes a uma forma de atitude comunicativa semelhante a que intelectuais dos dois partidos realizaram, irei dividir essas “inquirições sobre a cultura” em dois grupos: Investigações Românticas e investigações Reacionárias. As investigações românticas partem de um pressuposto comum, que é: A singularidade, a espontaneidade das supostas “pulsões” e “instintos” são melhores que o calculo e a certeza “burguesa” e constituem, ambas, o fundamento do valor dos indivíduos. As investigações (ou melhor, dizendo, as afirmações) reacionárias por outro lado se baseiam-se no pressuposto Cristão de que o indivíduo possui uma “essência” estável a qual nós nos afeiçoamos, portanto, se ocorrem mudanças no comportamento dessas pessoas que comprometem nossos pressupostos afetivos isso constituiria conseqüentemente um dolo, não só para nós que somos “traídos” por alguém que nos mostrou uma “falsa essência”, mas principalmente para o próprio traidor que será inevitavelmente “castigado pelo futuro”.
Essas duas posições, inseridas ambas em nossa cultura e componentes presentes em qualquer diálogo sobre afeto, felicidade e relação constituem heranças e paradigmas que norteiam a forma como as pessoas se descrevem a si mesmas e aos outros indivíduos. Ambas as descrições advogam a posse da “verdade” sobre as “reais necessidades” de homens e mulheres, e são, via de regra, nexos onde a vida publica e a vida privada se encontram muito próximas. O vocabulário que utilizamos para nortear nossas ações, mantendo algum grau de coesão e eficiência, na relação com outras pessoas e o vocabulário que utilizamos para firmar nessa relação os critérios para nossa satisfação ou insatisfação estão estranhamente próximos em questões afetivas e sexuais. Kafka disse certa vez que “A mulher é a ponte para o mundo”, ignorando o conteúdo relativamente machista dessa afirmação, podemos dizer que ela reflete exatamente a compreensão Nelson Rodriaguiana do ciúme e da moralidade como meros reflexos de nosso adestramento social. O outro, segundo essas duas visões, nos conduz ao mundo social e público, a felicidade comunal (diriam os reacionários) e a suas cobranças por adequação (diriam os românticos) e sua conseqüente contradição com nossos instintos “verdadeiros”.

Como habitante de uma cidade grande da America do sul profundamente inclinado, pela minha educação catolico-cristã, a monogamia e ao mesmo tempo como intelectual que aprecia a contribuição da história e tende a achar que a fidelidade, ainda que ocorrendo em um lugar ou outro, nunca chegou a constituir a regra do comportamento sexual humano eu sugeriria que sua exigência a priori e sagrada representa uma forma inadequada de sincronizar o comportamento privado e o publico. Em contrapartida a essas duas partes de minha formação eu ofereceria uma postura não fundamentalista em relação ao afeto, como tenho sugerido em relação a outras questões. Por fidelidade eu substituiria a palavra “regularidade afetiva” e por infidelidade eu colocaria e expressão “variação de comportamento sexual”, tal substituição permitiria algum ganho no campo da liberação de “enemas” afetivos da mesma forma que a palavra “erro” representa um extraordinário ganho em relação à palavra que a antecedeu “pecado”, um ganho que aumenta incomensuravelmente quando substituímos ambas pela palavra “diferença”.
Com essas mudanças poderíamos, quiçá, eliminar tanto a intolerância romântica quanto a reacionária, assumindo em relação ao afeto uma postura democrática e falibilista que não inviabilizaria a consumação nem das relações estaveis nem dos projetos afetivos que priorizam as experiências contingentes. Se a cultura prosseguir no movimento que tem adotado nos últimos três séculos creio ser inevitável que algum arranho semelhante ao que sugeri ocorra. As pessoas tem se inclinado, em minha opinião a descreverem-se de forma cada vez menos vinculada a juízos morais religiosos e homogeneizantes e a sociedade tem prosseguido desde o século XVII afrouxando cada vez mais os laços que costumavam ligar as opções privadas e a aceitação publica. Esvaziado o conteúdo religioso das uniões sexo-afetivas o que restaria do vocabulário no interior do qual a palavra fidelidade tem algum sentido? Veríamos então os sentimentos com estados contingentes e a convivência com um (a) parceiro (a) como algo não menos contingente, resultado das diversas forças, escolhas, atividades e opiniões que compõe a individualidade de cada um e não como uma escolha refletida por um “alguém” em detrimento de outros.

terça-feira, outubro 21, 2008

Trabalho !

Depois
de 14 horas de trabalho
raizes de amargura,
chuva de detritos,
um horizonte em chamas,
já não há mais nada para o amanhã
exeto talvez,
mais trabalho
e algum sintoma de patologia
inesperada.
Um grande
imenso
inominavel
tonel de merda me parece
tudo isso.
Mas a mente escorre para o final do
mês,
um condenado a prisão perpétua
esperando o
proximo prato
de sopa fria.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Residência

Moro em um quarto pequeno
com alguns livros
muita baratas
e uma senhora um
tanto melancólica
que tem sido boa para mim
na maioria das vezes.


Minha janela abre-se para um mundo
em crise
Papeis cheios de poesias possiveis
fogem das minhas mãos
sujas e ocupadas.
Meus amigos,
quase todos,
se debatem
também contra o destino.
Já carreguei fardos de farelo
limpei latrinas nas madrugadas
de um mundo cada vez mais rico
e mais feliz.
Chorei em domingos ensolarados
e fiquei muitos contente durante
algumas hecatombes.
Agora eu quero apenas uma trégua,
vou exibir minhas credenciais
diante do acaso
e exigir
e que minhas tristezas possam abrir as suas asas
cinzas sobre o mundo
livremente.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Overall

Não sei o que diria Neruda
Nem como cantaria isso o dylan.
A dificuldade em erguer-se da bruma
para verter nosso sangue em vão.
Emergir do escuro,
da redenção vazia do nada,
Para comtemplar a face do horror
por 12 horas seguidas.
Golpeando com o desespero
psicopatas sem diagnóstico,
Cristos sem rebanho,
Santos sem céu,
Sabios sem adoradores.
E no final de tudo...
Abrir a porta de casa,
tirar o sapato,
sorvendo
sabendo ,
e desejando,
.....
a paz
...
Para descobrir
em seguida
que não
terminou.
Por um motivo ou
outro.
......

ver as coisas
se impondo
e ficar
oservando...
Eu
aceito.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Conciliação

Eles estão parados no meio
Com a sua cota de ódio,
Eles estão afastando o incerto
Com socos, gritos, exigências ou julgamentos.
Eles são muitos...
Milhares sobre a face da terra.
Entulhando as estradas com verbos, adjetivos e marcas.
Eles estão parados no meio,
E precisam estar certos.
Exigem estar certos.
Matariam Bebezinhos e comeriam seus figados
Para estar
Certos
Pode-se olha-los e conhecê-los com facilidade
Não oferecem mistérios
Não oferecem perguntas
Não nos acenam com as mãos
Só possuem o ódio
O mêdo
E o imenso e inexoravel desejo
De estar
Certos
Ó miseraveis....
Meus irmãos.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Cantar

Alguém irá cantar para mim quando eu partir
E as mãos do tempo irão tocar o dia.
Minha dor voará por sobre as casas
Gritando
um sim.
Alguém irá cantar
para mim quando eu partir
E minha semente
seguirá com o fardo da batalha
e da esperança louca,
O vento acusará os vermes
que sugaram minha medula,
os seres pobres
que ficaram no caminho.
Alguém irá cantar quando eu partir
sem saber se partir tem algum propósito
ou se é somente o proximo engano.
irei me despindo aos poucos
diante do olhar mesquinho
de quase todo mundo
até ficar inteiro novamente
como sempre foi
enquanto consegui cantar.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Ela

Será que ela sabe o quanto?
Terrtórios inexplorados e imensos
esperando o olhar dela para existir.
Mas talvez nunca existam,
leis inesgotaveis,
regras gigantescas,
e uma cara hedionda me olhando
no espelho....
Será que ela sabe o quanto?

quarta-feira, setembro 17, 2008

Cerveja no domingo.

Existem pessoas importantes nas ruas e avenidas,
motivações santificadas florindo ao sol nascente,
Escolhas cruciais sendo tomadas nas latrinas.
Nas arquibancadas dos açougues
sangue jorra cantando aleluias a locomotiva do amanhã
e enquanto a importância arranca a pele fresca do momento,
Eu bebo cerveja aos domingos.
Sei que existem fracassados e heróis
bandeiras, bundas, paraisos valentia e talvez
alguma
esperança.
Mas quando me permito esqueçer
a guerra,
quando a furia da metralha e o desejo louco de existir se calam
eu sento,
talvez com algum blues
fico em paz com tudo
e bebo cerveja
no domingo.

terça-feira, setembro 16, 2008

Ao Deus Desconhecido.

O vale é mais perigoso quando
a chuva ameaça e não vem
Pó na gola de nossas camisas,
o gado sedento sem agua
E os filhos do patrão devorando toda comida
Os mais velhos sussuram escuros segredos
Loucos, os jovens bebem como servos dementes.
A cabeça de meu cavalo tombou com um baque
e minha mulher estremece se tardo.
Mas precisamos atravessar esses dias
e seus maus presságios
tributos sem resposta a um deus
que já não serve.

Doce e amargo...B.J Thomas legendado !

sábado, agosto 30, 2008

quinta-feira, agosto 28, 2008

Balada do desespero e da batalha.

Buracos na estrada, meu amor.



Guardemos as migalhas e os resquicios



do que temos



para um amanhã incerto.



A garra e o pavor se esgueiram



a peçonha da maldade



nos persegue,



Edificios no horizonte,



avaliações e prazos,



Numeros, papeis, trovões, morte



desespero.



As portas entreabertas e os



olhares,



terriveis arvores secas e locomotivas mortas



em meio ao caminho que não nos leva a parte alguma.



que não nos levam



a parte



alguma.



Corre minha pequena,



carrega minha arma



prepara nossa mala,



Essa noite fugiremos



antes que a onda se levante e engula nossos sonhos



se eles não tiverem sido estraçalhados



por nossas proprias mãos



covardes .

quarta-feira, agosto 20, 2008

Cortinas

Nós não sabemos onde chegar
e na verdade puco importa.
As cortinas cobrem os viadutos a as auto-estradas
e o experimento geral do mêdo não termina.
Estamos todos em acordo com relação a esse ponto:
Que permaneçam os dedos costurados
e que as palavras não digam coisa alguma
para que cheguemos satisfeitosa terra cinza do sucesso
do êxito
e da frustração final
Esse é o unico fundamento
dos pedidos de desculpa
e das privações
do amor abnegado e do grito indignado
sucesso êxitoe a frustração final.
PAra exaurirmos satisfeitos nosso sopro breve
felizes de que descemos abraçados
em trincheiras diferentes
de uma batalha universal.

domingo, agosto 10, 2008

Um longo caminho

Ninguém sabe como começa. Quando cada um de nós se dá conta já é tarde demais, só resta seguir em frente. Não é um passeio, nem uma escola. Trata-se de uma expectação constante, uma observação sem conclusões ou uma guerra infindavel. Não podemos nos esquivar. Cada um de nós está sozinho. Tentando obter êxito a qualquer custo, cada um dispõe a principio só de si mesmo e do que faz disso depende todo resto. Há tantas estratégias quanto pessoas no mundo e ninguém é inocente, isso nos irmana e nos afasta. Gostariamos de legitimar nossas pretensões de êxito, mas não existe nada de ilegitmo ou de legitimo. Tudo que há é a luta e a tentativa de dela evadir-se, que também é luta, e a consciência que nada mais é que o risco que essa luta acarreta.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Sueno con serpientes-Silvio Rodrigues

Uma peróla do genuino romantismo latino.

Finitude.

Como um náufrago me encontro diante dos teus olhos
E dos teus desejos.
Quase sem recursos, sem palavras luminosas e sem a fúria necessária
Para ser acreditado.
As nuvens não respondem, elas apenas carregam a água e os trovões
E o sol não nos ajuda, ele apenas traz a sede e a consciência de nossa caminhada
Por isso estou diante de teus olhos sem palavras e sem gestos
Sem querer subtrair uma vírgula ao texto inacabado
Nem erguer-me mais que o indispensável para conseguir sobreviver.
Meu bem, estou diante dos teus olhos.
Será que voçê pode suportar e sustentar-se
Sem reduzir nem macular
O copo de café e a sentença que define
O beijo de amor e a ferida que nos acompanha?
Ah querida, silencia enquanto o tempo escorre
Pelas nossas rugas e pelos nossos devaneios
Silenciosas confissões de nossa finitude.

Jesus numa moto-Zé rodrix

terça-feira, julho 15, 2008

O anzol e o sonho.

Elas esperam por voçê...
E o anzol parado reluzindo na sombra
de nossas noites errantes
de vagabundagem e solidão.
Uma cama quentinha,
comida decente,
e com sorte
algumas belas e regulares trepadas
sem camisinha.
Na chama dos ciúmes partilhados
e na guerra inevitavel de ser gente.
Um Deus cativo no altar do afeto.
Sem nenhum espaço
para SER SOZINHO.
Ou então...
Uma pustula etlíca se arrastando nas esquinas da miséria.
Elas esperam por voçê.
Para dar sentido ao movimento equivocado
da vida dividida,
sugar-lhe a seiva a pretexto de cuidado,
secar-lhe o brio a pretexto de virtude
fazendo de voçê um cidadão decente.
Dividido em vidas paralelas para não abraçar espinhos.
Elas esperam por voçê.
E voçê espera pela exceção.

quinta-feira, julho 03, 2008

Velhice e amor

A tarde começava a cair quando isaac levantou-se da poltrona ainda sonolento. Os remédios para reumatismo costumavam lhe deixar com o corpo mole e cabeça pesada. Pegou o livro de contos em cima de mesinha da sala e arrastou as sandalias até o sanitário. era o único lugar apropriado para se fazer uma leitura sossegado.Era um bom livro aquele, mas o autor levava muito a sério coisas banais como a existência de Deus ou a escrotidão feminina. "Todavia parece ser um bom sujeito esse tal de Enzo De marco" Pensou Issac. Terminou as suas necessidades elementares, se limpou e deu a descarga. Na sala a sua senhora também já tinha despertado do cochilo vespertino e preparava o café, a janta ou qualquer outra merda que a fizesse acreditar que era importante enquanto resmungava, reclamava e cantava musicas evangelicas . "Ficar velho é de fato uma das piores drogas que acontecem com o individuo quando ele ainda não resolveu dissolver-se dentro de algum tipo de misticismo". Isaac pensava coisas desse tipo, pois sua cabeça doia e sua senhora tinha acabado de retomar a cantiga sobre as infidelidades da juventude de isaac. Toda tarde, precisamente entre as 15:00 e as 19:00 quando a casa voltava a ser ocupada por outras pessoas, a senhora de isaac retomava a mesma narrativa. Eram traições atrás de traições. Umas reais (mas e daí se ela aceitou e não deu o fora?) outras pura invenção, estas por sua vez, frutos de sua sensação de rejeição, derrota, putrefação, incapacidade e dependência.Essa torrente de lama esculpida e costurada com pedaços de eventos reais tranformava-se miraculosamente em uma aura magnifica de brilho e superioridade moral ao tocar a esposa de isaac. Na dor de sua condição ela elevava-se acima do comum dos mortais, não era somente mais uma fracassada, tornava-se uma martir.
Isaac sabia disso tudo e justamente por isso tinha aprendido a não se ofender. Na verdade não deixava de admitir sua parcela de culpa. Continuar casado com cecilia foi uma escolha reiterada durante anos. Reconhecia também que tinha sido um contrato vantajoso para ambas as partes. Para ele o casamento foi garantia de uma casa sem baratas, comida não apodrecida e sexo de qualidade e para ela... bom se foi mal para ela, foda-se! ela é quem deveria saber se virar e dar um jeito na coisa toda. Cecilia Já tinha sido uma bela mulher. Não linda, é verdade, mas era gostosa. Trepava bem também. E apesar de não ser um gênio não implicava com as loucuras literário-filosóficas dele. Era um tanto ôca, mas dava lugar ao eco da voz narcisista do isaac e ele gostava disso. O único problema é que ela era uma mulher e também queria sua fatia de veneração, uma veneração que no caso dela tinha de vir de outra pessoa. Isaac nunca tivera esse problema e continuava sem tê-lo. Só queria gozar e viver sua vida, o mundo e as pessoas que fizessem o que lhes parecesse melhor. Agora Isaac pensava na morte e em uma trepada gostosa com beijo de lingua, algo absurdo e impossivel em sua idade.
Entrou na cozinha e pegou uma fatia de pão, passou manteiga e levou a bôca enquanto Cecilia gritava e acusava. Sua filha entrou na cozinha beijou seu rosto depois beijou a mãe e saiu. Menina Esperta, ele pensou. Tá cagando e andando para as tramas alheias. "Essa sim vai saber gozar, seguir em frente e ainda se emocionar com o pôr do sol". Depois reconsiderou: "Pai babaca. Tudo é uma merda só."
Isaac foi para o quarto e deitou na cama onde já dera tantas metidas magnificas. Também já gritara de desepero e mêdo em silêncio. Pensou no Buda, no Krishnamurti, grandes sujeitos, tentou meditar. Esvaziou a mente e se sentiu muito bem com isso, dava uma sensação de poder e de força. Os pensamentos voltaram. A imagem de uma mulher que trepara a uns 10 anos flutuou derrepente em sua cabeça. "Cionara, que nome, que Foda". Um beijo tão quente, uma coisa tão triste e tão itensa e... desesperada, mas escapou de suas mãos, como tudo de bom que lhe atravessara o caminho. Isaac se sentiu triste e exitado. Colocou o pau semi ereto para fora e começou a se masturbar. "Ahhh, sim, sim " Ele repetia baixinho fazendo algo de que já se tinha esquecido. A mão se agitou, começou a trabalhar de verdade. Ele voltou ao pasado em uma corrida louca e impossivel. Sentiu o coração doer em uma forte pontada. O pau ficou vermelho e Grande. A dor tornou-se insurpotavel, seu peito estava explodindo. Esporrou como um chafariz, perdendo a consciência junto com o desejo. Caiu de lado sorrindo e morreu.

quarta-feira, junho 25, 2008

Entendimento.

Sem saber para que lado olhar
como um bebado a se amparar
nos poucos amigos que persistem
eu sigo.
O chão partido
o frutos que não vingam
A mão, o tato e o olhar já não encantam
e o ferrugem das coisas esquecidas recobre
o campo lindo de girassois que semeei.
O olhos mesquinhos querem ver-me de joelhos
ou olham simplesmente seus reflexos,
mas mantenho o brio.
Não sei quem veio pra ficar
nem quem só quer roubar o que restou do nada.
Não temos,todavia, outra escolha senão semear
estrelas de sangue nos céus da persistência
sem esperar entendimento das pessoas.

segunda-feira, junho 16, 2008

quinta-feira, junho 12, 2008

Uma canção para deni.(delirio de amor cético)

É duro saber o quanto tudo importa tão pouco,
quando nem temos o bastante para prosseguir
nos importando.
Não é nada agradavel sangrar olhando o sol
se pôr,
Nem catar cacos de aurora nos litorais azuis
do desespero.
Mas pelo menos ela está ali...
desfiando também o seu rosário cético,
ciente da separação inevitavel entre nossas consciências
e da linha carnal que une nossas vidas.
É bom ouvir o teu suspiro,
e recostar no teu colo doce
enquanto tudo se desfaz, se renovando eternamente,
e apesar de tudo
e apesar de tudo
ela ainda está ali.

domingo, junho 01, 2008

A filha querida

"Me dei conta de que não podia ser de outra maneira." Respondeu o velho homem coberto pela poeira das andanças ao ser questionado sobre como recebeu a noticia do assasinato da filha única que tinha se tornado prostituta em recife. "A mãe dela adorava a noite, e eu sou somente um pobre e ignorante catador de papelão." Suas mãos encarquilhadas pelo trabalho exaustivo se esfregavam uma na outra, fazendo um ruido seco, que se fazia ouvir nos intervalos de sua confissão. " Muito cedo minha filhinha se afeiçou a mãe que passava os dias ao seu lado enquanto eu rastejava pelas ruas e pelos aterros sanitários em busca do que os doutores não puderam aproveitar. A pequena foi crescendo, eu queria "botar" ela numa escola boa, sabe seu moço, mas a mãe dela achava que devia comprar roupa bonita, sapato de gente chique e vivia me maldizendo por causa da "micharia" que eu ganhava com minhas catações." O homem suspirou fundo e olhou para o céu, seu olho claro e fundo era um espelho do abandono. " Nós brigava muito seu moço, e chegou uma hora em tive que ir morar em outro lugar pois a mãe de minha filhinha vivia me ameaçando de morte. Ah seu moço, só num me pergunte como doi prum homem como eu deixar a coisinha mais linda da vida e ir embora sem saber pra onde. Minha pequeninha estava dormindo quando eu juntei meus pano e fui morar na rua." Nessa altura o olhar de seu manoel tornou-se turvo por uma lagrima, ele levantou o copo deu um gole longo na cachaça, estalando a lingua. "mas se eu fico lá, que seria dessa criança seu moço? " Seu manoel levantou a voz e deu um murro na mesa " "e se eu brigo na justiça e tomo a menina pra mim, já apegada a mãe ela não haveria de me ter desgosto então? Vê seu moço, como tudo tinha que ser? Passou-se o tempo sempre ia ver a menina, a casa da mãe se tornou um antro. Tentei varias vezes tirar a menina dali e levar ela embora, mais a danada não queria. Amava a mãe. è duro perceber que o bezerro ama a mão do açougueiro que o vai matar por causa do costume ao pasto que come todo dia." O homem gasto Agarrou a cabeça com as duas mãos e desabou sobre o balcão, estrangulado pela própria impotência. " Olha seu moço, que me censure quem quiser, mas nem deus nosso senhor faria diferente do que esse cabloco fez. Me afastei do único raio de luz dessa minha vida sem sorte nem estrada. Sim. Se cometi eu algum pecado foi o de coabitar com a mãe dessa menina que morreu assasinada em algum puteiro escuro. Viver é uma coisa estranha seu moço, e a culpa é de nossas esperanças".

terça-feira, maio 27, 2008

O filho querido

Não vá ! ela gritou ao filho que já se afastava com a arma em punho, decidido a se tonar mais um soldado do tráfico. Com o pranto lhe inundando os olhos Marta afogava-se no próprio desespero e a vida lhe parecia uma armadilha cruel...seu único filho. Sentado nos fundos João souza, o pai preparava a guia de café para mais um dia de batente como fazia todo final de tarde. "não te sensibilizas com o destino de teu filho?""" A mulher gritou batendo no peito. " Cada qual decide seu caminho" João respondeu tranquilamente, traindo, todavia, um travo de amargura em sua voz " E não existem garantias em nenhum dos caminhos que se escolhe" Ele virou-se para a mulher convulsando e disse " Antes de ser nosso, nosso filho é dele mesmo e a vida é uma coisa sozinha".

sexta-feira, maio 23, 2008

Cavaleiros e armaduras.

A muito tempo que certas questões deixaram de ter qualquer relevância para mim. A existência ou não de Deus é uma delas, o pensamento como algo desvinculado das nossas inclinações e demandas pessoais é outra. Talvez outras vidas tenham outras coisas a fazer com a existncia de Deus ou com a nessecidade muito humana de uma verdade, mas a minha vida é a única sobre a qual me sinto autorizado a dizer algo. Isso me faz lembrar de ítalo calvino e o seu "cavaleiro inexistente" Alguns precisam da certeza abstrata pois a própria substância concreta é vaga, eles temem perder-se. Outros tem tanta substância concreta que não tem consciência alguma da própria existência abstrata, e rolam soltos no meio das coisas sem conseguir delas apropriar-se. De qualquer maneira essa divisão, como a maioria dos meus pensamentos, é quase arbitraria. A minha vida e o meu caminho se impõem, e se eu desejaria ver as pessoas assumirem um meio termo entre as "taras" do pensamento e os "dogmatismos" da ignorância, isso também tem suas raizes no meu próprio percurso egoista. No entanto gosto de me perguntar: poderia ser diferente?

terça-feira, abril 22, 2008

Campo aberto

Nada mais comum que o homem pense sobre seu próprio tempo dando-lhe um papel especial sobre os demais momentos da história. Isso ocorre tanto nas mais elevadas e pretenciosas formas de pensar como nas mais simples e comuns, e por constituir uma forma tão comum e muitas vezes util de lidar com os fatos não irei condenar esse complexo de épico. Apenas gostaria de apontar parao outro lado, para a contigência especifica de cada momento, para a aventura agônica de viver e atravessar o espaço entre o berço e o tumúlo colhendo perçepções, vivendo do interior da própria vida com o que pomos nela er com o que ela nos põe ( e essas duas coisas não estão separadas). Com isso eu quero muito pouco. Afastar os idólos de pedra ensaguentada, os mitos sobre humanos, e deixar o campo aberto, para semear e partir sem esperar pelos frutos.

segunda-feira, abril 14, 2008

Para proseguir, ensaio de um pragmatismo romantico.

A vida pode não ser uma perspectiva sombria. No final das contas nos pegamos vivendo um dia de cada vez e percebendo que isso é a melhor coisa que pode acontecer, embora isso não exclua os mais audaciosos planos e projetos. Veja bem: é só uma questão de dimensionar a referência de nossos anseios. Somos homens e caímos na vida sem saber se existe ou não algum projeto inicial, de onde viemos e para onde vamos, e talvez essa dúvida seja a parte mais importante do projeto, ou da falta de um. Somos finitos. Cada segundo de vida é um passo de dança a beira de um abismo no qual se perdem os nossos pensamentos. Mas ainda assim dançamos, pois o abismo é apenas um limite para nossa coreografia e não a determinação de como iremos dançar. É uma coisa puramente formal a morte. Sabemos que ela virá, sem sabermos nada a seu respeito exceto que é um limite. Alguém disse que a morte não afeta em nada nosso ser pois ela vem de fora, de fora das teias de relações no interior das quais existimos. Penso, se isso servir para alguma coisa, que devemos portanto sondar nossos passos de dança na perspectiva desse fato, o de que morremos, sem tentar extrair certezas dele, (isso seria ignorar que além da morte existem outros limites tão intransponíveis quanto aquele.) e que se formos simplesmente seguindo sem perder a consciência acerca desses limites , teremos um vida boa e digna mesmo que isso seja bem diferente para cada pessoa.
Há uma certa fatalidade positiva nisso tudo, sim, porque a fatalidade pode ser boa ou ruim. Há coisas que quando aceitamos se tornam mais simples, nossos desejos tem essa natureza. Lutar contra eles é terrível, aceitá-los– o que implica mais que satisfazê-los- nos alivia de um fardo, e libera energias para ir em frente deixando brotar novos desejos. Aceitar as condições concretas de nossa existência– por mais vago e absurdo que seja isso - tem um certo “quê” de um pragmatismo romântico, pois nos permitiria ultrapassar o que é aceitando-o e nos movimentando em seu interior, deixando exibir-se “o que aparece” como dizem os céticos, deflacionando o ideal e mantendo-se atento a contingência do momento.
Sacudir o pó da inércia e da certeza, ir em frente assumindo risco e abandonando culpas: não seria isso já uma espécie de romantismo? Não estabelecer nenhuma meta descolada do presente, da historia da relação que se estabelece entre nossos interesses atuais e o mundo ao redor: não seria isso uma forma de pragmatismo? Veja meu amigo, eu lhe falo como um homem que também quer continuar, e essas palavras se dirigem muito mais a mim que a você, mas também meu coração tem em ti alimento por isso me realizo duplamente ao ver nos teus olhos o meu reflexo e o mesmo anseio.
Os filósofos, penso, levam demasiado a sério os seus pensamentos, os místicos levam demasiado a sério as suas dores, e nós, que não somos nem filósofos nem místicos, oscilamos entre o medo contingente da dor e as canonizações eventuais do pensamento. Por isso, creio, não podemos nos jactar de uma superioridade em relação a aos filósofos nem aos místicos, pois assumimos ocasionalmente a mesma forma de vida deles, nos alimentando inclusive do que eles produziram, nem podemos nos sentir inferiores, pois é para nós que se dirigem seus trabalhos e é a nós que eles tentam convencer.
Talvez alguns destes grandes homens estivessem certos, talvez um dia venhamos a descobrir que deveríamos ter abandonado as demandas e solicitações do mundo nadado contra a correnteza, mas não vejo como artificialmente transmutar em fato uma hipótese, e viver por suposições e relações entre um pensamento e outro. Por isso irei seguindo, desviando pedras e das dores e incrementando a obviedade da sobrevivência com alguma estética ou mesmo alguma metafísica.

sábado, março 29, 2008

Filosofia da Trincheira ll

Colocar as coisas em termos de certo e de errado, de verdadeiro e falso é uma tara nossa, tanto por parte dos imoralistas como por parte dos senhores defensores do ideal. Pretendo sair dessa esfera "teologica", pretendo descrever cada coisa de uma forma totalmente pessoal, mas ou menos como Max Stirner fez no único e sua propriedade, deixando explicito na narrativa o meu interesse em relação as descrições que ofereço, e não obstante, vinculando esse interesse as minhas relações com o mundo, com as pessoas e tudo o mais. Dessa maneira, creio, minhas esperanças em relação a como as coisas "deveriam ser" não estariam fundadas na nessecidade nem na verdade, mas apenas na finitude e na minha propria experiencia pessoal, no meu desejo de gozo e de criar o mundo "a minha imagem e semelhança". Assim evitaria a critica sebosa dos idealistas contra o egoismo, e a limitação, a falta de criatividade e o ressentimento dos "imoralistas". O mundo é "caotico"? é que as pessoas ainda não aprenderam a tornar suas relações prazerosas e não contraditorias livrando-se do vocabulario metafisico-cristão, apostando na propria auto-suficienciia e exigindo um minimo de certezas praticas. "Romantismo Pragmatico" é assim que José Crisostomo chama essa filosofia, eu prefiro chama-lá "filosofia da trincheira," para acentuar o carater de risco, responsabilidade pessoal e incerteza que envolve uma vida assim, e não obstante, a alegria e o gosto pelas coisas doces e simples que, em geral, só conhece aqueles que provaram o gosto das batalhas .

quarta-feira, março 19, 2008

Diário de guerra blues.

Desperto, mas não curado
me levanto do quarto quente
com o rosto amarrotado.
na cama ela dorme ainda
caida e encantada
o corpo moreno enroscado
na almofada
doi-me o corpo cansado
da hora extra, noite adentro.
Minha mão lateja e meu peito:
Um poço de excremento.
Ela suspira e murmura
sonhando linda
perdida em campos de flores
sonhando ainda.
UM banho, ouvindo cash
na prisão de folson chorando.
Café, pão e a loucura
no canto do fogão espreitando.
A pele dela tão linda
brilha ao sol nascente
A curva convidativa do seio
seu halito tão doce e quente.
A surrada camisa escura
só de preto consigo lutar,
Na imensa loucura da guerra
eu saio para revidar.
Novas instancias da crise
sem pensar em desistir de tentar
eu deixo minha alegria dormindo
espremo o gatilho sentindo
A força que seu sonho me dá.

sábado, março 15, 2008

Filosofia da trincheira

Há uma nessecidade imensa de riso pelas ruas ! E a natureza compensatoria do prazer me leva a suspeita do tragico destino que se move por tras das cortinas da toda essa alegria. Na verdade é irrelevante questionar tudo isso quando viver a propria vida já impõe tantas questões cruciais, o que ocorre do outro lado do muro não interessa senão até certo ponto, e somente em função da minha própria vida e dos propositos que a orientam. Filosofia da trincheira: Cada um que se ocupe dos própios passos e viva da maneira como deseja, pagando por isso o preço devido.

domingo, março 02, 2008

Cansaço.

Estar cansado....
Com a luta vã pela defesa dos restos
e a perspestiva razoavel em meio a pequenez.
talvez existam coisas doces e simples
beijos serenos e sem magoa
casas arejadas, mulheres sensatas e algum emprego que não me afogue
na merda.
sim, talvez exista alegria.
Eu posso até saber como ela acontece e perdura
mas somente lá fora, meu bem.
mas somente la fora, meu bem.
aqui somente o cansaço, a espera, a dependencia
e o desperdicio
de tudo.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Aurora estraçalhada

Pensei em escrever um poema,
sobre a minha infância.
Sobre a alegria luminosa daqueles dias insuspeitos,
de cores pulsantes,
sensações profundas,
e arames farpados com o ferugem da maldade
circundando meu afeto,
Sobre os jogos e as tramas de insetos travestidos.
Mas eu não sou mais uma criança...
Agora estou no front comum ao qual chamamos
"realidade",
com o fuzil da esperança espremido entre os dedos.
Não posso errar meu alvo
nem remendar os pedaços da aurora estraçalhada.

domingo, fevereiro 10, 2008

Prendendo o folego.

Um homem desconfia que está perdido
quando não treme com olhar da garota
de seios fartos e pele macia,
quando não sorri e suspira com o olhar
manso e intenso da infância,
e quando liga a Tv assim que acorda.
No fundo todos querem acreditar que estão ainda de pé;
agitando seus corpos,
gritando na madrugada,
lutando contra fantasmas,
ou sugando a saliva viscosa das sensações que morreram.
Veja só: eu estou mensurando as dimensões da batalha,
tentando conciliar flores e cancros
e correndo para o por do sol
onde iremos dar as mãos e sorrir.

sábado, fevereiro 09, 2008

sábado, fevereiro 02, 2008

sobre os dias.

Os dias têm sido quentes e abafados, e como não existem coisas importantes acontecendo, só resta ir vivendo um dia de cada vez, com certa apreensão em relação ao futuro, como não pode deixar de ser. Posso dizer que em geral tudo ultimamente tem tido gosto de sola de sapato. A magia e o encanto já aconteceram, mas são cada vez mais raros. Talvez isso não seja um fato em si, algo intrínseco a realidade, mas apenas uma esquisitice minha. Não há como ter certeza. A televisão é uma coisa absurda, estúpida mesmo. As poucas coisas relevantes que se vê nela são feitas lá fora. O realismo politicamente correto da mentalidade brasileira ainda persegue os fantasmas de suas contradições insuperáveis. As coisas cafonas cheias de chavões que é possível ver na televisão brasileira são somente reflexos das conversas que sou obrigado a escutar toda vez que estou no coletivo ou em um barzinho tentando tomar meu porre sossegado. Uma preocupação estúpida com a vida alheia, uma moralidade medieval com todas as taras e aberrações que o moralismo provoca. Outro dia no ônibus a caminho do trabalho, inadvertidamente ouvi uma garota contando para amiga que ela tinha tatuado o nome do namorado na xoxota, enquanto a colega do lado se queixava do homem dela que já não fodê-la todo dia, como fazia antes. É verdade que essas coisas acontecem lá fora, então que se dane no final das contas cada u vive sua vida. Eu também sigo vivendo a minha, com toda falta de brilho que ela tem, mas tentando manter o estilo, e meus preconceitos também.
No trabalho a coisa não tem sido fácil. Para sobreviver eu tive que aprender a fazer dolorosas concessões, enfrentando um lado da vida que para mim é o mais seco e absurdo. Trabalhar em um call center, por exemplo, expondo-se a todas as tendências patológicas das pessoas. Toda loucura, solidão, abandono, carência e tirania jorrando através de um fone de ouvido. O prurido, irritação e vaidade deles infiltrando-se insidiosamente em seu ouvido e enterrando-se no cérebro como um arame farpado enferrujado. “Podia ser pior”, você pode estar pensando. Eu poderia estar carregando fardos fedorentos de farelo, coberto de sangue de boi em um açougue ou limpando latrinas transbordantes de merda. Já fiz isso tudo, e posso dizer que nesses trabalhos eu tinha pelo menos o último recurso da dignidade de um homem: ficar calado. Os outros rapazes e garotas também não gostam do que fazem. É difícil imaginar que alguém possa gostar disso. Mas eles têm pelo menos o atenuante de apreciar a auto-exposição afinal é o que faz o tempo todo. Expõem-se com suas opiniões apressadas, sobretudo, com sua exigência de atenção constante. A completa incapacidade de ficar calado. Mas no final não muda muita coisa, é sempre a mesma fome e carência de auto-respeito. Por outro lado também conheci algumas pessoas que não se misturavam com esse caldo e que nem por isso tinham mais brio. Era só um tipo de gente mesquinha que se levava muito a sério, que não tinha senso de humor. Tudo que diziam e faziam tinha que ser congruente com seus valores. Se estiverem em um papo descontraído e rolasse um baseado, diziam horrorizados: “não, eu não fumo”. E não era como se simplesmente não tivessem vontade de fumar aquele baseado, eles não “fumavam baseado”, era sua essência, sua lei. Isso os distinguia dos outros decaídos fumadores de maconha. Ainda que se dissessem liberais, pobres irmãos. Existem todos os tipos de devotos erguendo deuses de barro para do alto de suas cabeças sentirem-se superiores, estáveis e seguindo um caminho seguro. “Sinto muito” me disse uma senhora outro dia “mas só transo por amor”. “E se provarem que o amor não existe, que esse papo de amor é só propaganda de novela, você para de trepar?” Eu lhe perguntei. Não consegui a trepada é verdade, e ainda ganhei uma inimiga. Faz parte do jogo. Como já me acostumei com a maior parte das conseqüências do meu caminho torto, também já não me frustro muito com isso tudo. Gosto da minha vida e do que me tornei, e isso embora não pareça não está em contradição com tudo que disse. É que simplesmente não gosto de me gabar das minhas riquezas. Afinal é mais fácil ser compreendido a partir das desgraças. O que eu gosto e valorizo na minha vida eu guardo para mim. Tudo faz parte de um grande jogo e cada um está somente do lado de si mesmo. Algumas pessoas demoram a se tocar com relação a isso e acabam pisoteadas pelo movimento alheio ou sufocadas pela própria incapacidade de se movimentar sozinhas, encontro exemplos disso todos os dias. Gente que fala sozinha, que só anda em grupo, que são vazias como um copos virados. Brrr.... Sinto calafrio só de pensar. Mas são essas pessoas que compõem e média psicológica da humanidade, e é melhor saber conviver com isso, ou a vida pode se tornar bem amarga, e isso é uma coisa que ninguém com saúde quer, não é?

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

O sangue a as madrugadas.

Eu era um sujeito magro, com profundas olheiras lavando o piso brilhante de um imenso mercado. Aquele foi o único trabalho que eu consegui depois de dois anos de desemprego e junto comigo outros tantos fracassados formavam um imenso batalhão de fantasmas, munidos de rodos, vassouras e uniformes que se espalhavam pelos salões iluminados da loja de departamentos depois de seu fechamento. Assim que as portas desciam e o último abençoado cliente saía nós começávamos a molhar, esfregar, encerar e polir enquanto o resto da humanidade desse lado do hemisfério gozava do merecido repouso. O capataz (pobre atavismo) olhava atento cada movimento dos rapazes gritando de quando em quando como um treinador de futebol ensandecido.
Sempre levava comigo o Tão-Te-King na algibeira para ler e me conformar entre as refeições. Como ainda não tinha desenvolvido meu especial talento com a bebida eu anestesiava a consciência de uma maneira menos sincera e mais barata. Saboreava meu repasto afastado do barulho imenso de meus colegas de fracasso e me deitava entre os trajes elegantes da seção de moda feminina. Estirado sobre o chão frio que eu mesmo tinha lavado e polido eu abastecia o pensamento de vazio em loucos exercícios Zens budistas e Koans absurdos que me aliviavam da dor de existir sendo eu. Depois da meditação começava o segundo round e os banheiros femininos eram todos meus. Uma arena que fedia a merda e mijo onde eu lutava com imensos tapetes de borracha azul onde a lama se misturava a tufos de cabelo, esmalte e palitos de dente. Uma vez encontrei um feto ao desentupir uma privada que explodia em merda. Aquele pedaço de carne podre tinha saído de uma linda e cobiçada buceta, na época achei aquilo muito simbólico. Muitos livros poderiam ser escritos sobre o que se pode ler nas portas de banheiro feminino. A palavra puta era campeã de citações acompanhada de perto pela palavra piranha.
Terminava com os banheiros por volta das quatro da manhã e passava para a limpeza dos estacionamentos. Os imensos espaços escuros do concreto vazio eram bafejados por um vento frio que tinha um gosto de treva, não sei bem o que é um gosto de treva, mas o vento dos estacionamentos na madrugada estranha daquele mercado tinha esse gosto e enquanto eu varria os barulhos da noite que terminava dançavam com os ruídos do dia começando. O céu tingido do dourado das alvoradas, o pai de família respeitável recebendo o beijo apaixonado da esposa no portão e eu cheio de êxtases em meu peito metafísico recolhendo as vassouras, os sacos de lixo e o cansaço para o café barulhento no refeitório insano. As bocas se movendo em um ritmo contínuo, sempre falando do mesmo, uma república de zumbis. Depois eu tomava o banho e ia para casa. O que nesse caso não significava repouso. As tardes quentes da favela barulhenta e minha ex-mulher louca e sua pequenez de espírito. Na verdade hoje não guardo ressentimentos a seu respeito, mas me lembro que nessa época ela foi primorosamente cruel. Eu chegava em casa às sete horas da manhã e às dez horas era acordado pelo som da televisão e dos noticiários e das suas músicas horríveis. Aquela atmosfera abafada de queixa e lamúria. Aquele romantismo estúpido e pouco honesto. Acordava com a cabeça pesada e o corpo arrebentado e era obrigado a me levantar, lavar o rosto, comer qualquer coisa (quando tinha apetite) tomar um banho me vestir e ir pra rua. Ficar em casa significava briga na certa. Horas e horas cansativas de acusação e ciúme, afundar debatendo-se na lama de alguns anos de mentiras, rancores e lembranças de outras brigas. Apenas o laço da indigência de dinheiro e afeto apertando nós dois, e cada um tentando aliviar o aperto como podia. Após sair de casa eu ia para a estação de trem. Levava alguns livros, uma caneta e uma pequena agenda onde rabiscava alguns delírios. Viajava sempre de trem. Era rápido e barato, perigoso também. Locomovia-me de um extremo ao outro do subúrbio. Pensando nisso hoje eu acredito que fui um beat a minha maneira. Com os horizontes e o talento mais estreitos que os de Kerouaz, mas com os mesmos sentimentos acerca da maior parte das coisas. Às vezes ia bater com os ossos no sítio de um aposentado espírita que eu adorava atormentar e às vezes terminava a tarde fumando um baseado no estúdio de tatuagem de um cartunista de Paripe. Às vezes eu ia mais longe, e encontrava o "wild child" Mariano, várias cervejas e o retorno para mais uma noite de trabalho.
Um dia acordei mais quebrado que de costume, meus joelhos doíam tanto que eu não conseguia ficar em pé. Por isso naquele dia não saí de casa. Minha ex-mulher ligou o som como de costume e eu fiquei na sala tentando ler. É quase vergonhoso para um homem dizer isso, mas ela tinha um amante, e isso nem era o pior. Na verdade foi um lento processo de putrefação que ocorreu em minha vida, enquanto eu me perdia em delírios metafísicos, e perdia as noites lavando latrinas. Minha ex-mulher reunia-se nos barracos da vizinhança para fumar um baseado, tomar umas doses e certamente trepar. Nessa tarde enquanto eu tentava ler ela vomitava insultos e insinuações sobre a vida que eu levava. A mesquinhez de quem não era capaz de assumir os riscos e as culpas e ir em frente. É verdade que durante boa parte do tempo eu fui um caçador de borboletas mimetizado pelo "belo e o sublime". Querendo tocar as fibras do nirvana enquanto definhava e enlouquecia, mas isso era o meu lance, a minha aposta. Um lance tão alto que a maioria consideraria loucura simplesmente cogitar. E o choque foi inevitável. Nessa tarde, eu esmagado e triturado pelas traições de minha ex-esposa e ainda desnorteado pelo rompimento com as certezas religiosas que até então me tinham impulsionado, eu me envolvi diretamente na briga. Já não tinha as desculpas da fé, nem o muro da crença para me esconder e soltei o verbo. A discussão cresceu, aumentou como geralmente acontece entre duas pessoas feridas. Ela me ofendeu como sempre fazia e dessa vez eu reagi devolvendo o insulto. Saímos no tapa. Ela voou em meu pescoço e eu a empurrei. – Filho da puta, maldito filho da puta – Ela gritava, eu me esquivava de suas tapas e a empurrava quando ela chegava perto. Seria fácil colocá-la a nocaute. Muito fácil. Mas apesar da indignação não achava certo bater em uma mulher. Ela desistiu das tapas e recorreu a uma faca de cozinha. Eu me afastei enquanto ela avançava. A essa altura a vizinhança inteira já estava na porta de minha casa apreciando o espetáculo. Abri a porta da casa e sai para evitar uma tragédia. Ela veio atrás. Pensei em dar o fora, a deixar esfriar a cabeça e depois procurar meu rumo. Por outro lado aquilo não estava certo. Eu tinha que ter um pouco de dignidade. Ela veio para cima e eu esperei. Como o último homem diante da onda que varreria a terra eu esperei pelo golpe. Ela levantou a faca e eu me preparei para me defender. Foi quando surgindo do nada minha mãe, que morava perto, me segurou um dos braços me impedindo a defesa. Ergui o único braço livre e a faca atravessou o músculo do antebraço, evitando o golpe que era destinado ao meu pescoço. Ao ver meu sangue escorrendo enlouqueci e fui para cima. Os vizinhos me seguraram. Dei um safanão em um senhor de idade que segurava meu braço e empurrei minha mãe que tentava me segurar pela camisa. Minha mulher correu para dentro de casa e trancou a porta. Eu dava pontapés que faziam as paredes tremer e meu sangue tingiu de vermelho a rua esburacada. Fui perdendo as forças e meu irmão que acabara de chegar conseguiu me dominar. acho que foi bom não tê-la pêgo, se o tivesse feito estaria preso agora, e ela provavelmente morta.
Me levaram ao hospital. Foi dificil conseguir carona, todos achavam que eu tinha sido baleado pela policia. Meu irmão me aconselhou a registrar a queixa, mas eu não quis. Não valia a pena. Ainda trabalhei lavando o chão do mercado por bastante tempo, até ser promovido ao setor de açougue a essa altura eu já entendia bastante de facas e de sangue.

quinta-feira, janeiro 17, 2008


Um homem e o seu tempo.

Mesmo depois de já ter passado por tanto aperto na vida, nunca deixam de existir os momentos em que tudo parece perdido. O senhorio hoje pediu a casa de volta. Sou forçado a reconhecer que ele foi mais gentil que a média oferecendo-se para cobrar a metade do valor do aluguel enquanto a minha mulher estivesse desempregada. Hoje a paciência e o altruísmo acabaram e ele reivindicou o imóvel ou o valor completo do aluguel e como eu não tenho esse valor o que resta é o retorno ao subúrbio, a lama de suas ruas, a miséria e as dificuldades em relação ao transporte; é como descer ao fundo de um lago escuro, infestado de monstros, depois de patinar no gelo fino por meses. Na televisão o repórter fala de tiroteios e balas perdidas. Depois de mudar-me vou ter de acordar às cinco da manhã para pegar o ônibus lotado para a faculdade e dormir a meia noite depois de viajar cerca de duas horas entre o trabalho no callcenter e minha casa no Rio Sena.
Minha mulher está na cozinha preparando o almoço. Do outro lado da cidade minha filhinha deve estar saindo da escola e indo para sua casa, também numa favela. Sentado no meu quarto, tomando um gole de vinho e desperdiçando as poucas chances que tenho eu perco meu tempo me lamentando nestas linhas, como se fizesse algum sentido escrever a respeito do que já está resolvido. Por outro lado, isso é a única coisa que me faz continuar. Saber que não importa o quanto à treva avance, eu irei ser a testemunha de meu próprio combate, e irei relatá-lo ainda que seja somente pra mim. Acho que para além dessa minha compulsão de escrever sobre tudo que me ocorre já não me importo e me tornei insensível para muitas das coisas que prometem felicidade ao comum dos mortais, talvez como uma maneira de evitar a dor e o desespero de aspirar por um bem estar inalcançável. Meu coração tem espaços amplos e claros para abrigar a alegria, mas suas paredes desabaram ao serem obrigadas a reter apenas o possível; eu lamento, mas não culpo a ninguém. Tudo é acidental e impermanente. O ser humano adapta-se a tudo. Logo estarei novamente inserido na vida feia e sem horizonte do subúrbio e, por conseguinte irei me mesclar com aquelas ruas sem asfalto com aquela vida sem esperança e irei beber vinho barato, enquanto retorno mansamente ao buraco da lama do qual nunca deveria ter saído. Por que tudo isso? Sei lá! A gente vai tateando, procurando um caminho melhor, ouvindo os conselhos, tentando lidar com os acidentes, e as coisas podem dar certo ou não. Quando elas dão certo nós nos orgulhamos e atribuímos a nós o mérito pelo sucesso (ou a Deus, o que dá no mesmo) e quando dão errado culpamos o destino, nossos pais ou simplesmente... A sorte. Eu simplesmente não extraio responsabilidade alguma de nada, as coisas acontecem assim ou assado e pronto. Nós temos que lidar com os fatos da melhor maneira possível, e eu, mudo e assombrado, não consigo ser outra pessoa senão eu, mesmo sabendo que isso não dá certo.
Minha filha me liga do celular que ganhou da mãe. Quer saber se vou matriculá-la na escola particular como lhe prometi ou se ela vai estudar novamente em uma escola pública. Digo que ainda não tenho resposta. Que estou acertando uns negócios; mentindo para minha filha, é claro que não tenho o dinheiro para a escola. Mais uma vida tendo o seu roteiro escrito à revelia das nossas esperanças. Deve haver algum charme em ser pobre nos Estados Unidos ou na França, no Brasil e na África isso não só é desprovido de charme mais é também patético. Patético como as deformidades faciais, patético como a falta de afeto dos bebuns, estúpido como tartarugas viradas de costas balançando para o ar suas pernas minúsculas. O problema não é “a pobreza”, o problema é a minha pobreza, o meu problema, e vocês dirão que além de derrotado também sou um egoísta, não sei bem o que isso quer dizer, mas tudo bem. Agora tenho que me levantar para tomar banho e ir trabalhar. Gostaria de terminar essas linhas com alguma lição moral ou citando qualquer um desses espíritos iluminados que tanto admiramos, mas meu tempo é curto e minhas preocupações são longas, tão longas que eu vou terminar de virar essa garrafa de vinho antes de me levantar, tomar banho e ir trabalhar com o sorriso vencedor no rosto que meu patrão espera que eu tenha .

quinta-feira, janeiro 10, 2008

A balada do entardecer.


A praça fervilha embalada pelas batidas primitivas da música popular de minha terra, e eu, escritor fracassado e trabalhador braçal de folga estou em meio à multidão que se deleita e se contorce como um bando de tênias alucinadas. Chamam a isso divertimento. O Jhony me convenceu com muito esforço a abandonar meu claustro ajudado pela minha abstinência sexual prolongada, não fosse por isso as garrafas de vinho e os discos da Billie Holiday não me deixariam sair de casa em mais um final de semana. Talvez o hábito de remoer as chagas, talvez a leitura de muita filosofia, talvez os meus demônios trancados. Mas o Jhony é um bom sujeito, tranqüilo e, com uma cara boa demais para ser filósofo inteligente o bastante para permanecer de pé. Os bares que formam um círculo ao redor do lugar disputam à potência de seus equipamentos de som enquanto as garotas recém saídas da adolescência disputam à potência de seus glúteos. Levando nossa própria garrafa de vinho abrimos caminho através da turba em busca de um pedaço de espaço, uma clareira eqüidistante dos diversos focos de coletividade barulhenta.
Sentamos os dois em um canto mais calmo abaixo de algumas árvores. Existe muita alegria no mundo, sim, muita felicidade. A política é bem melhor e a filosofia também. Alguns são felizes comprando e gastando segundo o direito que eles tem fazerem isso e outros são felizes perseguindo algum ideal segundo o mesmo princípio. As pessoas encontram-se e se despedem quando acham que já não vale a pena. Isso também é muito bom. Sem obrigações, vontade livre, felicidade sim! Não sei por que não estou satisfeito. Talvez porque me falta dinheiro, ou fé. O vinho acaba e Jhony vai comprar outra garrafa. Fico mastigando o filtro de meu cigarro e nada ao meu redor me parece viável. As pessoas falam demais, encontram-se somente para isso. A linguagem é um planeta doce, onde florescem árvores de esquecimento e onde se forjam os laços de recíproco engano que as atiram umas as outras. Mas, a garota de pele clara e lindos cabelos negros caindo em cachos lindos sobre os ombros está me olhando. Algo de esquisito ou repulsivo? Vasculho minhas roupas em busca de algo fora dos padrões. O furo em meu sapato não está visível. Força, Juan Leon a garota está olhando para você, fique firme homem, você não está na lona afinal de contas, ela lhe quer. Seu olhar me atinge em cheio, cobrindo minha pele de uma eletricidade adolescente e eu me levanto lentamente e vou em sua direção. Vitória ou morte. A luz de suas pupilas ou a sombra do desprezo e da dor. – Boa noite – Eu lhe falo tentando esconder a ansiedade e o medo – Tudo bem? – Maldição homem! Dois meses sem uma trepada e isso é o melhor que pode fazer? – Boa noite – Ela responde sorrindo e me encarando em desafio, sou um cara de sorte – Eu queria convidá-la para dar uma volta em um lugar onde houvesse, sabe... menos mundo – Ela gosta do que acabo de falar e joga a cabeça para trás em uma sonora risada que quase encobre os cânticos orgíacos da noite. Depois se levanta ajeitando os longos e negros vestidos e saímos dali conversando. O Jhony pasmo não acredita no que vê quando passo por ele com a garota ao lado. Um calvo fantasma choroso e uma linda dama dos Bosques de Lorien: uma contradição em termos, mesmo assim seguimos.
Atravessamos vielas escuras e nos afastamos da praça, o cérebro procura as palavras certas para a ocasião. Ela me olha de maneira interrogativa e duas olheiras denunciam alguma sombra pairando sobre uma vida que não deveria ter vocação para a dor. Passamos pelas ruas mais ricas daquele bairro pobre, vazias e silenciosas. Seus moradores divertem-se longe dali, longe da feiúra, do desespero e do barulho de seus miseráveis vizinhos que moram do outro lado do bairro. Pergunto o nome da deusa élfica que em silêncio me acompanha: - Camila, ela responde. – E o seu? – Juan Leon, poeta menor, peixe que bóia no mar do acaso, caçador de estrelas decadentes, biógrafo do que não chegou a ser, as suas ordens. Ela ri e me pergunta onde moro, aponto para a constelação sagitária, a esquerda de Andrômeda. Seus olhos brilham curiosos, talvez com algum temor. – Você é um sujeito diferente... O que faz em um bairro miserável como Periperi? – Ela pergunta ajeitando os cachos negros sobre o ombro enquanto retira um maço de cigarros da bolsa. Percebo suas mãos tremendo um pouco e algum tipo de lente opaca sobre o brilho de seus olhos. Falo um pouco sobre aquela história mastigada do menino que perdeu o pai antes de nascer, que tinha uma mãe louca que escondia o almoço e o deixava desmaiar de fome nas calçadas, criado pelo avô hipócrita e suas receitas de moral. Cresceu doente, mas não a doença da pele e do corpo e sim a doença da mente espedaçada, da falta de esperança. Conto essa história a Camila como a história de outra pessoa. Com o orgulho e a altivez de quem não se envergonha, de quem olha para o sol e não inveja outras vidas. Camila ouve em silêncio. Dentro do seu corpo forte, de curvas estáveis, um espírito intenso pulsa em uma respiração profunda. Paramos sob algumas árvores. Ela fala pouco de si mesma, se reserva com o cuidado de quem ainda não cicatrizou. O frio da noite agora beija nossa pele. O que nos trouxe aqui Camila? Além do meu óbvio desejo por suas carnes tensas, por sua boca rubra, por seu desejo quente, o que nos trouxe aqui? Que mão de acaso a jogou no caminho desse pariá sem sorte e sem talento, sem dinheiro e quase sem dentes, que nada tem senão perguntas, fome e uma profunda tristeza. Minhas palavras e piadas sobre os bonecos de papel que se agitam na nevasca acabam. Acendo um dos meus cigarros e olho para o céu.
- Você acredita que podem existir outros mundos melhores que o nosso? – Camila pergunta com uma voz melancólica.
- Talvez minha querida, mas como saber se o que chamamos de mundo melhor, não é apenas um mundo como nós queremos? – E ela poderia ter o que quisesse qualquer garoto bonitinho com bíceps sarado e uma voz de mongolóide. Mas está aqui e pergunta ainda sobre um mundo melhor.
- Eu diria ainda que mesmo em um mundo perfeito, ainda haveria nuvens de dor sobre as auroras do sonho. Camila me olha e sorri. Uma menina rica, ela conta. Mais velha de uma decadente família burguesa que só o dinheiro mantinha de pé, mas o dinheiro acabou, e a outrora punjante força moral da família se tinha tornado patética. A mãe e seu catolicismo hipócrita e ressentido a tornaram um boneco esquizóide querendo manter velhas tradições que já não se mantinham. O pai arranjava amantes muito mais jovens e abandonara a mulher e os filhos. Mas havia algo mais. Um travo amargo de algo tão forte e sujo que as palavras relutavam em traduzir. As lágrimas vieram a seus olhos lindos e eu beijei Camila sobre o farfalhar das amendoeiras. Deixei minha solidão escorrer para sua boca e meu espírito inquieto envolveu sua tristeza. Éramos dois indivíduos sob o céu infinito, gozando do momento breve em que as leis que regem a atração entre os sexos tinham sido anuladas. Eu desejei-a louca e intensamente e senti seus seios fartos arfando sob a camisa escura. Passamos a noite em um hotel das redondezas.
Eu já tinha possuído muitas mulheres. Desde a primeira namorada cristã que eu bolinava por baixo dos longos vestidos, até as putas sórdidas piores que minhas punhetas. Mas nenhuma como Camila. Seu corpo forte e rígido, suas carnes brancas e suaves, o bico marrom de seus seios e a vulva alta que se movimentava como uma planície contorcendo-se nos terremotos. Eu tive Camila. A possui por horas a fio dando a ela o melhor de mim. Ela queria a vida como um náufrago quer respirar. Queria gozar com uma fome que parecia brotar de suas entranhas. E eu lhe mostrei o caminho, primeiro com beijos suaves nos seus olhos profundos, descendo ao seu busto gostoso, com a ponta da língua até sugá-la em essência carnal e úmida. Enquanto ela se contorcia em espasmos. Depois a penetrei docemente enquanto ela gemia de medo e desejo até chegarmos juntos lá, naquele ponto extremo em que as consciências dissolvem, em que o desespero é transmutado em paz.
Após uma noite de sono profundo acordo, e Camila já foi embora. Levanto e me olho no espelho: a mesma cara horrível de Gollum careca e sem dentes. Tomo meu banho e o relógio avisa que já deveria estar no trabalho, Camila deixou o telefone em cima da estante. Enfio no bolso e me visto. As ruas e sua loucura me recebem de braços abertos. Mas eu estava bem. Forte e firme, um homem completo. Não apenas um a mente agitada que lê Nietsche, Stiner e Heidegger. Não apenas um escritor fracassado e um ressentido. Não, eu sou um homem e louvado seja o evangelho de Reich! Abram alas para o homem completo que pensa coisas profundas e sabe fazer uma mulher gozar! Mas o ônibus lotado me deixou na porta do trabalho, eu desci, vesti o uniforme e entrei no supermercado para cortar minha cota de peças de carne. O trabalho exaustivo ao lado de pessoas sem alma, com pele de madeira e vontades de chumbo. Paradas, domadas com todo repertório de valores estabelecido. A segunda feira acaba e volto para casa. Apesar do cansaço ainda sinto o gosto de Camila em minha boca, sua tristeza doce, como eu gostaria de tê-la agora esperando em minha casa para beijá-la sorrindo na chegada e dizer: - Ah, meu amor é tão difícil. E ela talvez fosse sorrir e dizer: - Eu entendo. E eu acho que ela ia entender.
Abro a aporta do apartamento minúsculo de quarto e sala. O cheiro da comida podre me invade as narinas. Abro a janela de dois palmos voltada para uma favela e penso no meu próximo estágio. Tiro as roupas jogando cada peça no chão e entro no chuveiro. Cada gota de água uma bênção, uma redenção, a única a qual tenho direito. Depois de enxuto e vestido sento na esburacada poltrona e ligo o rádio, música popular da Bahia: lixo. Pego o telefone e ligo para o número que a Camila me deu. O aparelho do outro lado da linha chama insistente e ninguém o atende. O noticiário elenca o seu menu de atrocidades, fraudes e corrupção comuns em nosso país , e mo meio da torrente de miséria uma me chama a atenção.
- Mulher tenta o suicídio jogando-se de um prédio, seu nome: Camila Alonzo. Meu corpo sacode como se tivesse levado um soco. Pego minha carteira e saio em disparada pelas ruas, com uma frase me ecoando nos ouvidos: Ela sabia.
Eu atravesso as ruas movimentadas como um louco. Os prédios parecem insanos caixotes de concreto para o armazenamento de pessoas. Chego ao ponto de ônibus, ele nunca demorou tanto e eu penso em tragédias, hecatombes e armagedons para aliviar minha angústia espalhando a miséria sobre o mundo. Chega o coletivo. Quase não me importo com a cara das pessoas. A viagem atravessa o péssimo trânsito da capital. Uma mulher reclama do marido e um sujeito musculoso conta vantagens ao amigo. Mas afinal que tecido de acaso, que golpe de foice sua mão manipulou desta vez? Qual é sua trama, sua piada sinistra, para extrair de minhas entranhas uma iluminação que não quero? O ônibus chega ao centro e desço alucinado abrindo caminho entre as massas. Camila, Camila o que você fez? Escolheu a saída mais curta? Optou pelo gesto violento e sem barganhas? Eu sem fé, louco e cético, acomodado e preguiçoso faço aos poucos o que você fez de uma só vez. A aposta de Pascal, um lance muito alto, Camila nós não sabemos e o meu sacrossanto egoísmo gostaria de te ver sofrendo ao meu lado, de pé. Sim, de pé, mas para quê? Para a rotina de todo dia? Para a trepada garantida? Para a obrigação da trepada? E o medo da traição? Não Camila, você poderia ter achado um caminho, todos nós podemos.
Atravesso duas praças do centro e seus aposentados sentados no banco a jogar dominó ou distribuir a fé em receitas. Passo correndo e alguns me apontam, a vida e o telejornal se tocam. Chego ao imenso edifício onde Camila está internada. Suas janelas negras de vidro se perdem nos céus. Lembranças de minha infância doente nos hospitais, a solidão imensa do quarto, o cheiro de formol nas coisas e suas enfermeiras sem afeto para meu coração de menino órfão e triste. Depois, teve meu avô e suas últimas crises, seus internamentos em que não se lembrava meu nome. Nossa alma se desfaz em pó no decorrer do caminho, e no final resta o corpo uma caixa cheia de leite apodrecido.
Entro na entrada e o gorila da segurança me aponta a recepção. A garota que me atende já não sente mais dor. Sua face dura anuncia a morte de tudo que poderia ter sido uma vida. - Camila Alonzo, qual o quarto – Eu pergunto. E o fantasma do que poderia ter sido alguém diz o número do quarto, desconfiada. Atiro-me na direção do elevador, mas na espera da cabine espelhada eu me pergunto: mas de que adianta? Em que isso vai ajudar Camila ou a mim? Talvez só para macular a memória do anjo divino em meus braços? Para estrangular a beleza do que é breve com as garras famintas do apego? O elevador chega e me leva em poucos minutos até o fatídico andar. Atravesso os corredores até chegar à porta da UTI onde Camila repousa entre tubos, agulhas e monitores. Como um pássaro sendo engolido por uma maquinaria demente. Uma mulher alta e esbelta de face encovada encontra-se de pé ao seu lado. O selo da moral ressentida, da morte da alma e da mesquinhez talhado em sua face maquiada, um ser decaído de si, um fantasma e uma paródia da vida, essa é sua mãe Camila? Ela também conspirou para sua loucura? A mulher adornada estava chorando, um choro sem fé e formal, ela me olhou com olhar assustado e odioso. Eu dei as costas e me afastei da porta. Desci as longas escadas com o peso imenso de um fato nas mãos. Olhei para o céu de fim de tarde e ele me pareceu vazio e estúpido. Como quase tudo que eu via pelo caminho, apenas minha sinceridade parecia clara, minha residência na terra me dava um norte, mas, eu me sentia vazio e cansado como quem cai em um precipício infinito ao imaginar que abraça a aurora. Camila agora estava voando em um céu iluminado e sem culpa, obrigado querida, eu estarei com você.