sexta-feira, julho 31, 2009

Carta ao amor faminto.

Hoje eu acordei insano meu amor,
com uma palavra faminta nos meus lábios
e com o sangue tingindo meus olhos de pardal
atormentado.
Será que você não percebeu, meu amor?
Será que não mapeou as mudanças
nem recolheu aquelas impressões obscenas
que rangiam os dentes na tempestade?
Eu envei para ti meus arautos
eu lhe arrebanhei um milhão de palavras
e refiz quase minha própria dor
para apenas iniciar-me nos teus mandamentos.
E eu nem tinha segredos...
E eu nem possuia uma casa...
Meu coração era um filho da sombra
sem era, sem laço e sem lar.
E no entanto tu não vieste...
No entanto não me acenaste...
Me deixaste com a taça em pranto
e a semente do futuro defunta.
Meu amor o que fazer desse laço sem curvatura?
O que eu diria ao carcereiro de me faltar o teu colo?
Como racionalizar com a loucura
quando a erva do sonho falece sem agua, sem luz
e sem solo?

segunda-feira, julho 27, 2009

Queria tanto abrir o peito,
esvaziar o silêncio dos meus ouvidos,
e reter a seiva de um olhar ausente.
Queria tanto libertar meu sonho,
esmagar receios e pulverizar cansaços,
abrir caminhos sem visões de mortos
e ressucitar da vida para o teu abraço.

quarta-feira, julho 22, 2009

Compreensão

Atado ao frio geral do dia que corre
e ao desencontro geral dos corpos
cansados,
Procuro esmeraldas que cantem o que calam
as palavras
e proposições de afeto tecidas para além das promessas.
Palmilho as medidas que nos separam do encontro,
EU me coloco diante do mar com o peito faminto
esperando um rosto que desembarque
em mim.
Um rosto sem máculas, um sorriso sem futuro
colocado diante das coisas
com a disposição da entrega.
Com a polpa da vida rebrilhando ao sol
com os lábios sensiveis à brisa da voz
e a presença de si localizada no beijo.
Procuro esmeraldas que cantem o que calam palavras,
e um horizonte sensível sem promessas nem tempo,
Procuro a clareira para percepção de nós dois
Incendiados nos raios exatos
da compreensão do Amor.

sexta-feira, julho 17, 2009


Apoio

Experimentar sem muitas certezas
e observar os conselhos do temor
Não preciso de amarras muito firmes
me basta o equilibrio que ampara a flor.

quinta-feira, julho 16, 2009

Medida

Não possuir medida,
arrastar as correntes do passado
acalentando paixões ensandecidas
Alma de palhaço e combatente desertado
com a flor brotando da cabeça
para um por do sol sem pranto.

Minhas mãos são dois pêndulos inquietos
perdidos entre metas e projetos
cultivando as lições do leito
e a decepção desatenta da partida
um oceano de questões mal resolvidas
suficientes para entorpecer mil vidas.

segunda-feira, julho 13, 2009


Ela colhia auroras com as mãos
da solidão.
Seu vestido de estrelas e sua boca de outono
acobertava infinitas crises
e terremotos no seu peito.
Ela precisa de um grito...
Ela procurava o nome exato que
daria a sua dor o selo nobre da fatalidade.
Mas ela não encontrou o lirio
e apesar de conhecer o rio e sua direção
deitou-se na orla das coisas congeladas
para ver o seu pássaro morrer.

Convite em vermelho

Meu horizonte poderia não ser
Um imenso abismo,
Com estrelas insensatas e meteoros inquietos
Costurando o espaço frio entre nossos corpos
Sedentos de uma aurora que ainda não chegou.
Nossos caminhos poderiam deixar de ser palmeiras
Agitando-se nas caricias de um temporal que jamais se afasta,
Mergulhando as raízes em nossas vidas atuais,
Frias como a terra, cinzas como o pó,
Isensatas e prudentes como tudo que se passa
No passado.
E o futuro é um largo mar,
Que convida nosssos passos e os nossos medos
Para dançarmos na destruição alegre
Dos muros e das pedras que impedem
O amor.
E o amor é uma palavra ousada que tomba no final,
É a bandeira sustentada pela nossa fome,
Fome de um brilho que se veste do olhar,
De um pedaço de aceno que se consuma no destino
De uma sentença clara calada pelo mêdo.

sexta-feira, julho 10, 2009

O combate das flores

Eu disse para ela: preciso de você. Seu corpo tinha gestos que não consigo traduzir, e eu estava faminto por alguma coisa que ela trazia no olhar. Seu cabelo era brilhante, seus olhos eram misteriosos, seu signo de fogo, sua boca a perdição e a loucura. Seria um encontro contingente,
mais uma frase impressa no texto inacabado de nossas breves vidas. Subimos a escada, abri a porta...Ela estava um pouco tímida. Na rádio do quarto Sexual Healing espalhava ondas de orgone combativo pelo ar. Tomei um banho e deitei-me esperando ela vir preparada para mim, e ela veio. veio sedenta e sorrindo, Vita Brevis, e não era só um corpo. Era substância sensivel, experimentação do agora que tentava evadir-se de si mesma se fundindo com o meu desejo. Ela era o olhar, o gesto, a confirmação e um painel infinito de possibilidades e caminhos. A envolvi com o pulsar de minha musculatura tensa apertando-a, todavia com ternura. Ela me beijou desesperada um beijo amplo, quente e molhado, como a busca pelo ar que caracteriza os afogados. Depois foi a entrega louca, a cópula sensivel, a luta suave de penetração e resitência. Sem plateia, sem pretensão, apenas dois mortais desfrutando e consumindo o tempo que lhes foi dado. Seu seio, suas costas, o arfar irregular se ampliando e retraindo, a progressão lenta do deleite violento em que eu me perdi e ela se perdeu de todas as amarras, de todos os limites, até a explosão selvagem do grito de alegria calado em nossso corações. Um único extâse gozozo. Um único grito arremessado de nossas gargantas de encontro a eternidade. E o jorro quente. E os espasmos incontrolaveis de uma alma que descobriu sua verdade. Descanso e rendição. A porta se abrirá. E os rios nunca mais irão convergir para o mesmo oceano.

quinta-feira, julho 09, 2009

O gato de louça.

As proposições de Minha tristeza
Velam minha vigília
Para que meu ser tenha
Repouso.
Quarto de menino, coração de gaivota
destroçada,
Ponte partida e pão da espera
Para aguardar por nada.
Para aguardar por aquilo que me falta
E Pela dor inevitável
Que sinto por ser gente
Seria eu um tolo?
Um sapato sem canção esperando
O amanhecer?
Um tigre desolado e cercado
Pelo seu rugido
Pelo elo contingente que se cria
Nas circunvoluções
Do sexo.

quarta-feira, julho 08, 2009

Co - Incidências

Como o revoar dos pássaros

ela se foi sem ter marcado,

sem ter esperado para observar

encantos.

Se partiu com a aurora e a magia

levando a primavera

sem deixar as flores.

Ela não quis me conceder

amores,

nem partilhar dos meus temores

que fervilham na escuridão

Ela foi uma ponte no espaço

Uma proposta falida de abraço

Um calor que não chegou a ser vulcão.

Que não chegou a ser delírio

Nem embriaguês, nem gozo, nem vontade

Apenas observações, coincidências

encontros imprevistos nas ruas da cidade.

terça-feira, julho 07, 2009

Saliva da poeira.

Contra as coisas e os intevalos
Eu nada tenho a protestrar
Senão a poeira da memória.
E a gargalhada insana do
asfalto.
Estas mãos que se estendem e
Esse retorno infindavel do abraço.
Para iludir o fardo
E adocicar o passo.
“Minha sentença doce
Onde estará minha sentença?”
E eu levanto minhas mãos para agarrar
o ar.
Meu ramo de hortelã obeserva tantos campos
De delirios penitentes e de afetos tantos
E refresca o lábio rubro que suga-me
ao luar.
Trago um esboço de euforia e uma loucura
Relativa,
Para consumar o leito
Para consumir a vida
E cultivar os meus passos
Na dimensão do entardecer.

Entrega em eco

Para enfeitar teu leito
De estrelas e de luto
Me coloco ante sua decisão.
E se eu não passo pela porta,
Com os olhos deslumbrantes
Se permaneço um estranho,
Observando a sucessão,
Se não me contenho entre os
Espasmos horizontais do seu desejo
É que trago em meu peito
Mariposas de asas
Devastadas.
Pois de asas devastadas são as minhas mariposas.
Inquietas e distantes, infinitas e sedentas
Ansiosas por uma implosão distante
E pela redenção da entrega absoluta.
Esses olhos calcinados, essa contabilidade dos abraços
Essa irregularidade que se consuma
Em eco.
Esse eco que reverbera em grito
Esse grito que quer clamar
Amor.