terça-feira, maio 27, 2008

O filho querido

Não vá ! ela gritou ao filho que já se afastava com a arma em punho, decidido a se tonar mais um soldado do tráfico. Com o pranto lhe inundando os olhos Marta afogava-se no próprio desespero e a vida lhe parecia uma armadilha cruel...seu único filho. Sentado nos fundos João souza, o pai preparava a guia de café para mais um dia de batente como fazia todo final de tarde. "não te sensibilizas com o destino de teu filho?""" A mulher gritou batendo no peito. " Cada qual decide seu caminho" João respondeu tranquilamente, traindo, todavia, um travo de amargura em sua voz " E não existem garantias em nenhum dos caminhos que se escolhe" Ele virou-se para a mulher convulsando e disse " Antes de ser nosso, nosso filho é dele mesmo e a vida é uma coisa sozinha".

sexta-feira, maio 23, 2008

Cavaleiros e armaduras.

A muito tempo que certas questões deixaram de ter qualquer relevância para mim. A existência ou não de Deus é uma delas, o pensamento como algo desvinculado das nossas inclinações e demandas pessoais é outra. Talvez outras vidas tenham outras coisas a fazer com a existncia de Deus ou com a nessecidade muito humana de uma verdade, mas a minha vida é a única sobre a qual me sinto autorizado a dizer algo. Isso me faz lembrar de ítalo calvino e o seu "cavaleiro inexistente" Alguns precisam da certeza abstrata pois a própria substância concreta é vaga, eles temem perder-se. Outros tem tanta substância concreta que não tem consciência alguma da própria existência abstrata, e rolam soltos no meio das coisas sem conseguir delas apropriar-se. De qualquer maneira essa divisão, como a maioria dos meus pensamentos, é quase arbitraria. A minha vida e o meu caminho se impõem, e se eu desejaria ver as pessoas assumirem um meio termo entre as "taras" do pensamento e os "dogmatismos" da ignorância, isso também tem suas raizes no meu próprio percurso egoista. No entanto gosto de me perguntar: poderia ser diferente?