segunda-feira, agosto 19, 2013

A tristeza não é um Problema.

A tristeza não é um problema
Os derradeiros problemas são as consequências
De não ser capaz de uivar com a matilha.
Todas as coisas que você suportou,
Toda privação, todo medo,
Toda desolação e luto,
Não se comparam as consequências
De não ser capaz de sorrir.

A tristeza não é um problema
O único problema é a solução
Que você encontrou para outros problemas
E que agora cobra seu preço.

Dia após-dia, hora após hora
Contraímos uma dívida para com o acaso
Acumulamos escolhas na caixa dos peitos
E essa coisa toda vai se avolumando
Até explodir em um destino, em uma loucura
Em um lar.

A tristeza não é um problema
Problema é não conseguir dar nome a nada
E olhar uma folha em branco e achar
Que tudo deveria ficar desse jeito.
Que as coisas não tem conserto
que o amor não é, não está, nunca foi.




segunda-feira, agosto 12, 2013

Acaso.

Não dou certezas
mas o que dá?
saberemos se foi eterno
quando acabar.

sexta-feira, agosto 02, 2013

O pior

O pior é a palavra estar morta
e suas flores não dizerem mais nada
o pior é o vazio desse canto
com ecos de uma valsa em vão
o pior é que sua faca não corta
o aço liso do  meu coração.

O pior é essa loucura sem trato
e essa performance vergonhosa
no amor
esse simulacro de alma que esconde
uma dor tão gemente e trevosa
que até minha treva sem paz
tem compaixão dessa espécie de dor.

O pior são os dias contados,
são as coisas que mentimos pra nós
é a fuga orgulhosa de todo passado
apertando a cada dia os nós
que nos arrastam calados
até esses momentos à sós.


O amor em tempos de modorra.

"Você não vê graça em nada", ela me falava com uma expressão preocupada e professoral que em nada me ofendia "leva uma vida vazia, entediante e sem ânimo". Seus olhos tão expressivos e tensos pareciam, de fato, enxergar minha alma melhor que eu mesmo. "simplesmente não posso continuar vivendo com uma pessoa que vive assim...sem paixão, sem sonhos." Eu não tinha muita coisa a replicar frente ao que ela dizia. Provavelmente tinha razão. Eu mesmo, as vezes, pensava daquele jeito sobre mim. Contudo, nem sempre isso me parecia mal. Não via como poderia ser de outro jeito. A vida me parecia na maioria das vezes um biscoito de água e sal sem sal. Em raras e breves ocasiões havia mágica e em ocasiões mais raras ainda...paixão. Mas, olhando em contraste, essa falta de ânimo era algo muito confortável quando comparada com o desespero de meus anos de juventude. Mas é claro que para ela, que me olhava sob a perspectiva otimista da liberdade de escolha, eu poderia deixar tudo isso para traz e viver no "presente", como se o presente fosse outra coisa que não uma montanha empilhada de passados. 
Em público, diante dos olhares inconvenientes, é comum sustentar algum tipo de confiança nas possibilidades do futuro, alguma forma de crença na capacidade de deixar o passado para trás, mas suponho que sobre os nossos travesseiros somos totalmente retrospectivos. Não só isso, como conceber que a mente pode ser outra coisa senão o resultado de uma síntese de passados? Cada um tenta fazer o melhor com o que tem, mas é tolice esperar que o resultado disso seja o mesmo para todo mundo. 
Tudo bem, acho que ela se importava e por isso se desdobrava tentando me convencer de que havia alguma coisa errada comigo. Provavelmente, cheguei a dizer isso algumas vezes, ela tinha razão, mas não sabia o que fazer a partir desse ponto. As pessoas esperam que você seja capaz de tornar-se algo novo porque elas mesmas esperam conseguir algo desse tipo, mas ninguém sabe como. Esse otimismo forçado é algo necessário, certamente não suportaríamos viver sabendo que a maioria das coisas não estão sobre nosso controle. Aliás, parece impossível admitir algo desse tipo o tempo todo. Ela sumiu e não fez falta, aliás, fiquei bem melhor, dado que já tinha aprendido a viver dia-a-dia ao invés de vida inteira.