Palavras acidentais, produzidas em gesto espontâneo para desaparecer em seguida no turbilhão do nada.
quinta-feira, março 15, 2012
Jihad
terça-feira, março 13, 2012
Breve canção para depois de amanhã
sábado, março 10, 2012
A vida não tem senso de humor.
As vezes você tem sono. Deita-se na cama porque pode senti-lo, entre o queixo e o tórax emanando um suave torpor que chega aos seus olhos no modo de um peso, uma areia, imagens. Mas então você fecha os olhos e o sono desaparece. Em seu lugar ficam as cenas, as vezes do dia vívido, as vezes da vida sonhada, as vezes do mundo malquisto; o fato é que você não dorme. No entanto é tarde e você sabe que precisa dormir porque amanhã precisa levantar logo cedo. Mas essa subjetividade pré-filosófica tem seus próprios mandados e não tem nenhum senso de humor. O humor é uma coisa que as pessoas inventam para se defender do próprio desespero. A ansiedade está lá e você sabe que existem pensamentos rondando que precisam ser evitados. Imagens do cadáver de sua mãe sob o mármore do necrotério, a último emprego que te demitiu, a aluguel que vence em 1 dias e que você não sabe como vai pagar. Não existem, que eu saiba, formulas para lidar com os pesadelos. Por isso as pessoas não falam umas com as outras sobre a maioria dos sonhos, sobre os pensamentos que as assaltam quando intentam dormir. Você e eu sabemos que não estamos dispostos a ser despidos dessa capa de heroísmo e liberdade que ostentamos na luz. Toda noite eu penso, por exemplo, na morte. Não exatamente com medo de morrer, mas porque existe algo nela que as explicações religiosas e metafísicas não me parecem dar conta. Eu falo da experiência, do cheiro, do gosto, da sensação do meu eu no instante da morte. Minha carne tão óbvia equivale ao bife de alcatra que agora sangra em cima da pia...ou não? Ah, essa faca amolada do fato cru e sem poesia que me persegue e me alcança quando intento dormir. A vida não tem senso de humor.