Lá fora chove
isso me traz poesia
mas o verso fica preso
num desabamento
junto com 07 famílias
que agora não tem
moradia.
Palavras acidentais, produzidas em gesto espontâneo para desaparecer em seguida no turbilhão do nada.
sexta-feira, outubro 25, 2013
Sexo Oral
Uma mulher estava há anos em estado vegetativo e demonstrou atividade cerebral incomum quando uma enfermeira lhe dava banho e, sem querer, tocou nas suas partes íntimas. Percebendo isso o médico chamou o marido da paciente e lhe relatou o fato, sugerindo em seguida que este, através de sexo oral, tentasse reanimá-la. O marido aceitou e foi deixado à sós com a paciente. Vários minutos se passaram e então o marido saiu do quarto todo suado e com a fisionomia visivelmente transtornada. O médico então perguntou:
- O que aconteceu?
Gaguejando o marido respondeu:
-Fiz o que o senhor mandou, sexo oral nela, mas ela morreu.
-Morreu? Mas como?
-Engasgada.
Inveja
A inveja ainda é, mesmo nesses dias de relatividade moral, o mais tenaz adversário do auto respeito. O invejoso é atormentado pela sombra de quem ele detesta e admira simultaneamente e pelas mesmas razões. Quão grande deve ser o sofrimento desse indivíduo que carrega em sua pessoa um desejo inatingível de ser o outro, de destruí-lo, de lhe ser indiferente e de ser por ele reconhecido. O invejoso é a contradição em carne viva!
Argumentos e comichões.
-Você não vai convencê-los, não importa o quanto tente.
-Nem quero, trata-se apenas de perturbá-los. A calma complacente dos que tem certezas me incomoda, estou apenas retribuindo o favor. Sou um sujeito dado a reciprocidades.
-Nem quero, trata-se apenas de perturbá-los. A calma complacente dos que tem certezas me incomoda, estou apenas retribuindo o favor. Sou um sujeito dado a reciprocidades.
Projeções e quedas
O nosso futuro é como um elástico invisível que a imaginação pinta e que o tempo dilata até o ponto em que se rompe, deixando tantas cores flutuando no vazio
Sobre revoltosos.
Uma vida em relativa segurança e com alimentação farta facilitam - mas não garantem - o germinar de pensamentos elevados, criando inclusive as condições para o heroísmo abnegado e a renúncia eloquente.
domingo, outubro 20, 2013
Pelo Canto dos olhos
Sair de casa, a partir de uma
certa época, tornou-se um grande desconforto para mim. Não gostava de ver o
rosto das pessoas na rua; pior ainda, detestava ter que, incidentalmente, falar
com elas. Não sei explicar muito bem o motivo dessa minha aversão. Sempre fui
muito falador, relativamente sociável, e até certo ponto muito bem humorado.
Mas de uns tempos pra cá, não sei precisar quando, eu passei a evitar sistematicamente
as pessoas e ficava furioso toda vez que um compromisso familiar, os cuidados
com a saúde ou o qualquer outra ocupação me obrigava a deixa minha caverna. Eu,
e mesmo assim a contragosto, achava que só deveria sair de casa para ir
trabalhar.
Na época em que vivi a estranha
experiência que vou agora relatar eu morava em um velho edifício inacabado e
com escadas assustadoras próximo ao centro de Salvador. O senhorio do prédio
era um ex-policial civil que tinha uma irmã louca que vivia gritando pelos
corredores. Gritava a plenos pulmões coisas desconexas sobre Deus ter fodido com a vida dela, sobre Jesus ser
uma cara legal, sobre os choques que levou na cabeça e muitas outras coisas bem
menos razoáveis que essas das quais me lembro. Me lembro também que naquele dia ela foi a
primeira pessoa que tratei de evitar ao descer as escadas. Eu tinha que ir ao
proctologista para que ele me examinasse as malditas hemorroidas. É, essas
coisas me impediam de ficar sentado muito tempo e atrapalhavam o meu trabalho
criativo. Eram como serras sendo enfiadas em meu traseiro nos dias difíceis. A saída
seria a cirurgia, mas eu estava relutante em ser cortado nas partes baixas como
se fosse um boneco de pano cujo enchimento tinha que ser trocado. O médico era
um sujeito bacana, gostava de contar piadas machistas enquanto enfiava o dedo
lá no fundo com uma mão e escrevia o diagnóstico com a outra. O escritório dele
ficava na periferia e, como não tenho carro, peguei o ônibus no terminal
central e me sentei em um dos bancos mais ao fundo como meus fones de ouvido
para evitar que o “lixo local”, como dizia Nabokov, me invadisse os ouvidos.
Há dias que são estranhos e há esses
outros em que enlouquecemos. Não lembro onde foi que ouvi essa frase, mas ela
se ajustava perfeitamente ao que estava prestes a acontecer. Assim que sentei
no banco percebi, pelo canto do olho, que o sujeito do meu lado me olhava com
um sorriso um tanto estúpido na cara. Fingi não ter percebido e foquei meu
olhar no vazio através da janela. Senti uma mão em meu ombro e pensei comigo “fodeu”.
- Juan Leon! Há quanto tempo!
Olhei o sujeito bem nos olhos,
ainda assustado, estampei uma expressão plástica de riso amigável, como sempre
faço nas situações sociais constrangedoras. O sujeito que sabia meu nome era
moreno, baixinho, cabelos encaracolados
e uma barba mal-feita e pretenciosa, dessas que os estudantes de
ciências-sociais costumam usar.
-Não se lembra de mim? Sou o Hernano.
Trabalhamos juntos na W &A Uniformes.
Repentinamente uma torrente de
lembranças reprimidas começou a jorrar do passado para minha cabeça. Lembrei do
meu tempo de Continuo, das humilhações por causa das minhas roupas geralmente
sujas e amassadas, da maldade fria e gratuita de D. Norma, D. Carmen e os
outros chefes, todos muitos cristãos e benevolentes para quem não os conhecia,
mas verdadeiros monstros de crueldades para os rapazes pobres que vinham vender
sua mão obra a preço de banana. O Hernano havia trabalhado comigo, claro,
lembro dele. Era um sujeito bonito, meio estúpido, mas as garotas não pareciam
se importar com isso.
-E então Juan? O que tem feito da
vida?
- Um pouco de casa coisa. Vendi
armas no Zimbabwe, Trafiquei cocaína na Colômbia. Tentei entrar com revistas
pornô no Irã, fui chicoteado, mas me liberaram depois que eu jurei que era fã
do Bin Laden. E você?
-Irônico como sempre, hein
sujeito – detestava quando ele me chamava de “sujeito” – Eu continuo na W &
A. Casei com a Norma.
Por aquela eu não esperava. Ele
havia se casado com a sua carrasca? Um caso de “síndrome de Estocolmo”?
-Casou? Que bacana! Olha, vou
descer no próximo ponto. Foi bom te ver, um abraço.
-Vai descer no próximo, ah ótimo!
Eu também!
Ferrou! Agora vou ter que
conversar com esses fantasmas todos novamente, pensei. Descemos no ponto
seguinte e fomos conversando sobre o passado. A perspectiva dele sobre tudo
aquilo que nos tinha acontecido na W&A havia se modificado bastante. Seu
ponto de vista de marido da ex-patroa não possuía os mesmos matizes horrendos
que eu projetava sobre aqueles dias, portanto eu me calei e deixei que ele se
gabasse das conquistas. Disse que o havia encontrado no ônibus por sorte – para
mim parecia azar – pois seu Honda Civic (sim, ele disse o modelo do carro caro
dele) tinha ficado no mecânico. Descemos a rua em direção ao consultório do
proctologista que, por azar (para mim) era também o caminho para a casa dele. A
casa dele era uma imensa e branca contrução na esquina de um bairro de classe
média-alta. Ele me convidou para entrar e eu recusei. Aleguei que estava
atrasado para a consulta, ele reiterou o convite. No meio dessa luta a esposa
dele veio descendo as escadas ao nosso encontro. Norma era uma mulher imensa,
cheia de sardas e com dois e imensos olhos verdes que a faziam parecer com
alguns tipos de peixes das grandes profundidades do oceano pacífico.
-Olha amor quem eu encontrei no
ônibus, o Juan Leon!
- Olá Norma...
-Leon, há quanto tempo! Porque
nunca mais foi nos visitar lá na loja?
Pergunta imbecil. Quem é que
retorna com prazer ao abismo onde foi torturado? A conversa continuou. Da parte
dos dois. Eu ficava calado ouvindo e concordando. Vez ou outra eu olhava para o
relógio, tentando demonstrar que logo teria que ir embora. De repente algo
estranho começou a acontecer. Notei que só a Norma falava. No meio de uma frase
dela Hernano as vezes tentava entrar na conversa mas a voz dela de levantava e
ele retornava ao seu silêncio sorridente. Ela falava de como organizava a vida
dos dois, da igreja evangélica que frequentavam, de como ele era desleixado e
de como ela resolvia tudo, o que lhe custava muito trabalho, claro. Em uma
dessas longas exposições da Norma eu olhei para o Hernano pelo canto do olho e
o rosto dele pareceu-me estar deformando-se, como em um dos quadros do Eduard
Munch, mas quando eu o olhava de frente parecia normal (exceto por aquele
sorriso amerelo e aquele par de olhos vazios). Era algo desnorteante. Comecei a
questionar o meu juízo. Experimentei esfregar os olhos e respirar fundo, mas
nada funcionou. A Mulher de Hernano continuava falando, engolindo suas pífias
tentativas de se expressar, enquanto pelo canto dos olhos eu continuava vendo
seu rosto assumir diferentes contornos, cada um mais bizarro que o outro. As
vezes se parecia com uma massa de modelar acinzentada na qual pregaram dois
olhos arregalados daqueles que costumavam pregar nos ursos de pelúcia de má
qualidade. As vezes se parecia com alguns alienígenas de desenho animado.
Aquilo tudo foi me deixando zonzo e a mesma experiência se repetiu várias
vezes, sempre com um padrão diferente. Um calafrio começou a me subir a
espinha. Fiquei tonto e no meio de um dos extensos sermões daquele peixe
horrendo eu me despedi e saí dali olhando o relógio como desculpa. Eles ficaram
parados no portão, sem entender nada. Cheguei ao consultório suando frio e quase
não consegui prestar a atenção nas recomendações do médico. Saí da consulta
atônito. Não era exatamente um alívio saber que existem coisas bem piores que
ter seu traseiro invadido pelo dedo de um médico.
sábado, outubro 19, 2013
segunda-feira, outubro 14, 2013
Literatura
Para pessoas como eu, parece perda de tempo ocupar-se de literatura meramente para ver nas páginas do livro, nas peripécias dos personagens, a realização dos meus desejos ou a vitória final de minhas convicções. Para tais propósitos existem as novelas, as ideologias e a religião.
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