segunda-feira, abril 19, 2010

Meu olhar.

Como cabe a um pensador
inconcluso
Eu a observo,
Molhando os cabelos, vestindo a roupa,
Falando de si, das asas de feltro
Lar construído, sapatos, sentido
e amor
e cada fragmento de sabor feminino
Cujo conjunto se impõe sobre mim.
Um segredo, traçado no planisfério de impulsos
Com frases curtas, metáforas oníricas, rabiscos
Neruda.
Permaneço, portanto, nesse meio tempo
Cativo do som
Como um Jardim deserdado
Com o canto esquecido dos dias de sangue
E inverno
Acolhido e beijado nas orelhas e medos.
Na verdade estou apenas na sombra
Na verdade não passo de um grifo
Feito nas linhas, nas partes destacadas do movimento
Que causas no ar quando passas
Com teu sorriso de quem nada sabe de arranjos,
Coisas de força, mortalidade dos gestos, falta de carro
Dentes a menos, calvice
Cinismo.
Eu, no entanto, sei disso tudo
E por tudo isso apenas observo como um pensador
Inconcluso
Cisne de mirra, corda da lira
Impresso na tua camiseta que não me impõe
O amor com a culpa
Nem ordinárias comparações
Em pedaços.
Permaneço aqui, do outro lado da corda
No tanque de vidro onde espero
Meu peixe
Sargaço cansado preso nas pedras
envolvido em um velho casaco de luto.

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