Palavras acidentais, produzidas em gesto espontâneo para desaparecer em seguida no turbilhão do nada.
quarta-feira, janeiro 26, 2011
Sobre entregar a rapadura.
(um) Trago
uma fome inquieta e calada
Que me mantêm escavando ruínas,
Que me prende a condenação da estrada
Carrego mapas e contas,
Delírios que fariam sorrir minha filha,
Uma esperança que se agarra nas pontas
que sobraram do jantar da matilha.
Uma revolta cortesã, caprichosa
Diabos da ausência de vício
Uma cabeça atolada de estudos
Um coração de mil precipícios.
Um jeito de amar complicado,
Escrito em um dialeto assírio
Que precisa se manter bem guardado
Para perdurar sem martírio.
Trago no alforje essas relíquias e mais
Outras coisas que a batalha me cala
Tentativas de redenção sem ter paz
Amores para viver sem escalas.
segunda-feira, janeiro 24, 2011
Condicional
o meu vinho em chama.
terremotos na superfície da pele
e o repouso posterior dos
amantes.
Se for pela fome de um clarão partilhado
te entrego sem gestos sombrios
a polpa plena de meu ser inquieto.
Na alameda dolorosa da vida
dois indivíduos sensíveis se dando
a cada instante em que os rios
convergem.
Se vieres sem o peso das obrigações,
sem a história antiga de culpa e
combate,
ainda tenho morangos que preservei das tormentas
e o carinho desarmado de quem precisa de alguém.
quinta-feira, janeiro 20, 2011
Reconciliação com a terra.
Se o amor é um impulso cego,
É melhor condenar-se ao inverno.
Se não nos orgulhamos do leito,
Estaremos envenenando a fonte
Onde buscamos água e descanso.
É preciso defender-se contra os covardes,
Contra a palavra dos velhos, a fofoca das mães
E o medo daqueles que ficam.
Para que o amor coexista
com a impermanência das coisas finitas
e colhamos os malmequeres do agora
com a canção do sim entre os lábios.
Pois se o amor é uma corrente que arrasta,
Estamos dormindo sobre um precipício,
Fazendo da dor um vício,
Por negarmo-nos a refazer nosso sonho.
O leito e o sonho não podem coesistir
E o combate entre os dois torna o
Horizonte bizarro.
Se o amor não admite razões então é melhor não amar,
E poupar para outros espaços a força de nossa energia
Alada.
quarta-feira, janeiro 05, 2011
Carta aos meus desafetos
Que perfurou seu coração todinho
Sacripanta, arrogante, impenitente
Que atirou de canhão num passarinho
Sou mesmo aquele que retalhou seu coração
Depois com garfo e faca comi na sobremesa
Banhei sua feridas com suco de limão
Bebi todo seu sangue como se fosse framboesa
Eu que roubo moedas de pedintes
Atropelo aleijados para não me atrasar
Me aproveito das donzelas que gostariam de casar.
Um monstro, um sicofanta, depravado
Um imundo que aos próprios olhos
Sente-se inteiro, sublime, iluminado.