Era uma baita mulher! Maravilhosa em quase todos os sentidos. Curvas incríveis, olhos que faiscavam vida, curiosidade e senso de humor e seios...que seios! Invejei o sujeito. Sim, coisa vil, cobicei a mulher do próximo enquanto o próximo ainda estava próximo. Mas isso não durou. Nos sentamos na mesa e ela reclamou da lentidão dele, da distração dele e de muitas outras coisas que me pareciam perfeitamente naturais em um macho sadio. A inveja transformou-se em compaixão. De fato ela era algo raro e lindo, mas o preço a ser pago era muito alto para quem ama mais a própria pele.
Isso. O amor não é importante, mais importante é se conservar inteiro. O amor foi algo que a sociedade inventou para fazer com que as pessoas ficassem atadas umas as outras como xipófagas canibais. No início ainda tentamos racionalizá-lo, libertá-lo dos tiques e posses que o tornam tão louco; mas é impossível. As pessoas são criadas em meio a miséria de famílias que não sabem nada de ensinar a fé em si mesmo e responsáveis por tantas outras mutilações noticiadas pelos jornais a cada momento. Além disso é preciso pagar nossas contas, lidar com a possibilidade da morte e revolver dilemas dos quais as palavras não podem dar a mais breve noção. O amor, se vier, deve não interferir em nada disso. Mas muita gente não sabe. A única felicidade que eles experimentaram na vida foi derivada da participação homogênea em alguma família maluca. Eles querem ter novamente aquela sensação de diluição do si mesmo no outro e por isso perdem todas perspectiva e senso de auto-preservação. A solidão não é o inferno. A masturbação sábado a noite não é o inferno. O inferno é a guerra diária, a castração solidária que implica a cobrança recíproca e o ciúme coletor de impostos a serviço da alma honesta. O inferno é a velhice cercada das lembranças de ingratidão centenária, o inferno é uma luta da qual ninguém tem coragem de sair fora por medo da vida que nunca soube ver frente a frente. E a vida é isso: Salvar a própria pele. O inferno é aquilo: cultivar o tirano com beijos.
2 comentários:
Lindo e verdadeiro...
O grande problema é que viemos de uma infância padrão, onde nos ensinam sobre o outro e não sobre nós mesmos.
E crescemos assim, buscando a felicidade e o quer que seja que possa nos "completar " no outro.
Não suportamos a solidão, pois não suportamos a nós mesmos.
E não raro exigimos ou damos certificados de posse tão soberbamente que pensamos ser possível territorializar o indíviduo, sua alma ou seus sentimentos.
Adoro teu blog.( Sou uma daquelas que acredita naquilo que o mundo deixou para nós de ti. Tua arte!)
bjs e boa semana.
Hilton,
ser cético em relação às possibilidades da vida, também não é uma maneira e ficar em cima do muro em relação a ela?
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