quinta-feira, agosto 16, 2007

O sonho.

O campo estava lindo. O sol suave da primavera cobria as flores multicores que dividiam o terreno com a grama verde. Passaros trespassavam meus ouvidos com seu canto enquanto uma brisa fresca me tocava o rosto com dedos de caricia. minha filha pulava e sorria animada pela planice iluminada correndo atras de pardais e borboletas com suaves gritinhos de alegria infantil. Uma doce e quente presença feminina fazia-se sentir ao meu lado. Qual seu nome? Qual seu rosto? inutilmente tentava fixar-lhe a face mas varios aspectos hipoteticos, conhecidos e desconhecidos, dançavam em minha visão e nenhum se afirmava. Mas a candura e o afeto dela me afirmavam curando todas as chagas e saciando a sede de esperança. Como expressar a plenitude da minha alegria? como reter o hálito da paz e torna-lo verbo? meu amor se espalhava na quatro direções do universo.
Porém houve um momento de torpor ou uma distração com um girassol fantástico que brilhava como um cosmos. A esse brilho, a essa luz, a aquela força infinita e silenciosa eu me rendi, um segundo apenas, e quando retornei a criança desaparecera e o vazio de sua presença linda estraçalhou meu coração. Gritei seu nome so fundo de meu peito ôco, como só os condenados fazem. Bradei aos ventos com tal furia e tal ganancia que se houvessem deuses a força desse desespero os derrubaria de sua beatitude iluminada. só o sarcasmo e o silencio responderam com seu não. Olhei para a mulher que até então me acompanhava esperando por um toque, uma palavra, uma seta que apontasse para qualquer coisa... inútil. Da distancia seu vulto me acenava. O céu até então azul fechou-se em cinza e tempestade enquanto o ronco dos tambores se uniam aos passos fortes de uma multidão faminta de defuntos que surgiam no horizonte escuro.
Acordei no meio da noite em pranto e coberto de suor. O cheiro das coisas remoidas subiu do quarto imundo. arrastei o corpo dolorido até o banheiro e o pote de ervas me sorriu sardonico. Enrolei meus temores em uma seda para incinera-los e os transformei em sonhos mais leves ao som de Bach.

quinta-feira, agosto 09, 2007

fronteiras

Há quem se alegre
por amar pensando
naqueles que não amam.
A virtude e suas recompensas.
quando tudo é gratuito e simples como
preferir sorvete ou chupar cana.
uma questão de clima, estátisca, criação, organismo
ou simplesmente acidente.
amamos porque amamos e damos a isso
o nome de amor.
cada um com as suas teses e fronteiras.

quarta-feira, agosto 08, 2007


Carta a mãe

não vou te esperar morrer
para libertar a palavra
que carrego comigo como um fardo
mãe...porquê?
porquê a mão do destino te acertou?
porquê não fomos mais sensatos?
tantos cristais imaculados
imersos na fedentina
destes dias insensatos.
porquê a força das ondas
vindo das profundezas de netuno
quebrou na barra de nossos sonhos tolos?
sem alarde,
sem palavras...
e boatos para encher as lacunas do sol
oh,mãe..porquê?
onde estava aquela que não foste
quando eu que devia ter sido
só fui ...ordinario
onde estava teu sim?
onde?
agora é tarde e tudo é inocente
eu,voçê e o muro!

versos a minha mulher inexistente.

Desci até a praia fumando meu cigarro
óbvio
para colher auroras claras na linha do oceano
e arrancar teu rosto lindo dos rascunhos de meu sonho atormentado.
Todas as manhãs estraçalhadas,
todos os poemas nunca escritos
porque você não estava lá.
essa massa amorfa da vontade
esse grito sem linguagem repercutindo
na caixa ôca do meu peito cinza.
Ea multidão de rostos rindo como uma tempestade
de desdém.
sombra de caminho desenhado no deserto
e seu rosto sem perfil;
obssesão constante do meu sonhar sedento .
se eu tivesse a garra furiosa do agora
e a crueldade densa para te formar dos rebotalhos
da minha tragedia
te esculpindo em qualquer corpo.
te arrancando da verdade de outra pessoa
mas o desejo escorre entre meus dedos
e recolho meus projetos de alegria imensa
ao seu lado
minha querida inexistente.
pois falta-me a furia e a palavra
pois cada lance de ação é um aborto de projetos.
e todas as sementes nascem secas nos ramos tenros da
ocasião.
e ficas lá...
Na minha inconsciêcia dançando linda
na minha praia que anoitece
sempre mais vazia.
sem perfil, sem nome, sem história,
metafora perfeita da minha deserção.

Carta para um amigo esquecido.

Meu amigo, para onde foste
que ficaram os teus farrapos por sobre os papelões?
e seus pensamnetos orfãos
vagando
pela nossa casa podre que herdamos e perdemos,
meu amigo para onde foste?
os fantasmas de nossas noites maltrapilhas
sem afeto
e a indigencia de pão e de propósito
me despertaram para tua ausência
muito tarde.
você acha que é capaz?
de engolir o oceano?
você não vê as lapides de mêdo
por sobre seu destino?
meu amigo, para onde foste?
eu me lembrei dos bairros negros onde
dividimos nossos sonhos
na cegueira santa em que adormecemos
para toda sensatez viável.
Tapas da policia ! dente apodrecido! Cristianismo do deus morto ! sexo sem corpo!
E os caminhos conversantes das possibilidades metafisicas
de nossa covardia ancestral.
Meu amigo, meu pai e meu irmão...
minha mão sem voz está aberta para o teu retorno
retoma os laços com o inevitavel
e ressucita para os teus fracassos.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Dos meus passos.

Dos nossos passos, só conhecemos os que já demos
inventamos suas razões
esperando determinar os que se seguem.
travamos lutas.

O gosto da vida pode ser amargo
como a vitória que não tem merito
pois a guerra levou tudo.

Eu gostaria de chorar, de acreditar na lágrima
como em uma confissão do olhar;
em uma gota que escorre pelo rosto,
em um pedido de compreensão alheia.

mas não creio.

Meu horizonte de vida partilhada
recuou para muito longe.
"outro" para mim uma palavra estranha.
minha ética é a do afastamento
do ocultamento
da proteção.

mas existem sementes brotando
e euespero os seus frutos.
Assim como desesperadamente vivo cada dia
sem amanhã.
atirando para o horizonte com violência...
para proseguir sem afundar no abismo.

amando ainda...é bem verdade
com o gesto e a firmeza das coisas naturais.
sem pensamentos nem projetos.
apenas com meus passos.
Isso para mim é muito.