sexta-feira, setembro 28, 2007

minha garota morta (ou a mentira requintada)

Minha garota morta foi uma manhã de sol e chuva quando meus dias eram áridos. As gotas de sua presença regaram a secura do solo possibilitando o germinar de flores amenas, eu que já não cria em jardins assisti ao milagre colorido de amar por inteiro sentindo a dor sagrada de ser surpreendido.
A garota foi um acidente de luz em uma larga jornada nas trevas, e como toda luz não podia ser assimilada aos momentos escuros, não permitiu o determinismo intrínseco dos fatos que ela fizesse parte dessa minha jornada. A luz que ela trouxe unida à brisa fresca e serena de alturas que não alcanço ficou guardada nos umbrais da minha memória sem voz. Não há paralelos entre isso que sou e que fui e o que ela trouxe para mim.
Um dia ela chegou e um dia ela partiu como um êxtase que vem sem causa e como um sonho que termina sem aviso. Tentei acreditar que eu pertencia aquele mundo enquanto durou a embriagues de seu contato, mas desisti ao olhar minhas mãos de sombra e ver meus passos dados no caminho que até ali me levou. De que valeria meu pranto? Quanta ignorância ele representaria; descontrai e deixei o curso do rio correr de acordo com seu fluxo, e minha garota morreu. Morreu para mim e para minha vida, muito embora esteja viva para sua própria vida. Em meu presente ela é uma dolorosa lembrança e uma tentação de crença que evito. Não posso ceder ao esquecimento do que sou, muito embora isso seja incompleto por demais.
Hoje minha garota morta é uma metáfora da queda, uma síntese de minha desistência.
Seu contorno me toca o olhar cerro os punhos para não ceder aos apelos da luz em mim que a procura, sufoco esse grito com escuridão e realidade...mas a cada dia essa luz se esgota e meu mundo torna-se então o único mundo que conheço. Minha garota morta era um espelho da esperança que eu tinha, esperança de ser diferente de mim. E de que as pessoas fossem algo mais, além delas mesmas.

Um comentário:

Eu sei que vou te amar disse...

Passei por acaso e gostei imenso do teu texto!
Beijo