quinta-feira, outubro 30, 2008

Notas sobre a valentia

Tudo se resume para alguns
A estar indignado.
E para outros
A ter um membro entre as pernas.
Mas indignação, membro, herança
Ou qualquer outro predicado
passivo
Não constituem mérito algum.
E fique claro,
Flores que crescem no vale
Não erguem barricadas de chumbo
O porco esfolado que grita
E a rasa virilidade que fere
Estão de mãos dadas na sombra.

Uma audiência

A entrevista foi marcada para as oito, porém chego mais cedo, com o específico propósito de impressionar pela pontualidade. Tolice, ninguém percebe nem mesmo a secretária loura de óculos e decote violento, gostosa demais para ser interessante, do tipo que não goza, pede o extrato bancário para saber o que dizer depois da transa.Alguns caras chegam depois de mim para o teste, uns dez e todos com caras horríveis e gestos de exagerado cuidado ou descontração forçada. Cada vez que meu olhar se cruza com o de algum deles procuro desviar rápido, evito assim uma interlocução indesejada feita de representação e senso comum. O que teria eu para falar com esses caras? Devem ter esposa chata que reclama por causa do copo fora do lugar e pede separação todo domingo à noite, amigos que os convidam para a pelada de final de tarde e cervejinha barulhenta em pocilga de esquina ou pastor evangélico para vender paz de espírito e auto - estima. Não, conheço bem esses mal entendidos sociais, além de muito desagradáveis não acrescentam nada nem a eles nem a mim “ cada macaco no seu galho” filosofa a sabedoria popular com muita propriedade.É curioso perceber como essas pessoas facilmente se aproximam uma das outras, após alguns minutos várias linhas de conversação foram estabelecidas. Depois de uma hora parecem grandes amigos, se ficassem mais uma hora acabariam marcando um churrasco entre suas famílias e apenas eu e a loura gostosa não seríamos convidados, ela pelo orgulho de seus dotes físicos e eu pela minha chatice silenciosa. A porta se abre e uma outra mulher, também linda, sai e fala algo com a loura tão baixo que não consigo ouvir. Todos se calam e ficam esperando começar o chamado para a entrevista. Eu sou o primeiro e ao ouvir meu nome levanto-me e tenho a impressão de que todos os olhares estão sobre mim, caminho até a porta e antes de empurrá-la respiro fundo quase chego a desejar que Deus me ajude. Meu desespero, todavia não chega a esse ponto.A sala é sobriamente decorada e sentada na mesa a linda (por que só existem mulheres bonitas em agências de emprego?) de cabelo preso em rabo- de- cavalo escreve algo, ou finge que escreve:- Com licença.- Entre e sente-se, Sr. Leon.Com todo cuidado eu puxo a cadeira e sento, tentando demonstrar tranqüilidade e esconder o que sinto a respeito de toda sua fingida cordialidade.- Você é casado?- Separado.- Tem filhos?- uma filha de quatro anos – A cada pergunta respondida ela baixa a cabeça e escreve algo; como adivinhar o que ela quer ouvir? Afinal de contas ninguém está interessado em verdades, numa agência de empregos, aqui o que importa é ser aceito ou rejeitado para o jogo de ratos, e eles fazem as regras.- O que você espera desse emprego, Sr. Leon?Que raio de pergunta é essa? Espero conseguir me alimentar dar a despesa de minha filha, pagar o aluguel e talvez tomar um vinho e fumar uns cigarros. Sei porém o que ela quer ouvir.- Ora, o que todo mundo quer, um salário.- Disso nós sabemos Sr. Leon, o que não sabemos é o que você espera que a empresa faça por você: ela sorri complacente e gesticula num gesto amplo como se espalhasse pétalas de flores, nesse exato momento minha cabeça começa a rodar. Preciso do maldito trabalho, a pequena precisa, mas preciso também não perder a noção de quem sou, se isso acontecer já era sanidade... Tenho que encontrar um meio termo.- Olhe senhorita, sou experiente em diversas ocupações, domino bem a linguagem e não tenho medo de trabalho pesado, isso é o que tenho a oferecer, agora acredito que o que a empresa pode fazer por mim é me pagar pelo meu trabalho.- Mas e seu desenvolvimento pessoal, crescimento profissional, promoções, carreira. A respeito de sua realização, você acha que a empresa pode ajudá-lo a atingir isso? – Ela me olha nos olhos sorrindo, eu levanto a cabeça respiro fundo e digo:- Acho que não senhora, essas coisas pretendo atingir sozinho, isto é, na suposição de que sejam atingíveis.A entrevista continua, ela faz outras perguntas e continua fazendo suas misteriosas anotações, mas o tom de sua voz muda e eu percebo que já não sou mais uma possibilidade. Ela emite alguns comentários sobre a vaga e o salário, com um certo desdém, e no final repete o conhecido adágio “não se preocupe, nós lhe ligamos” e me manda porta afora. Fim de jogo, não sou aproveitável por não estar dobrado o bastante para caber no bolso do patrão. Sem ganchos(será?) nas costas e sem dinheiro para o aluguel e para a desepesa da pequena. Na áfrica nesse exato momento crianças são devoradas por abutres, alguém está descendo de um helicóptero que custa alguns milhares de dólares em Malibu ao LADO DE UMA LOIRA PEITUDA, e tudo parece muito estúpido. Um imenso acidente, sem importância mesmo. Do outro lado da rua um sujeito em trapos caga de´spreocupadamente sob o olhar estupefato de respeitaveis cidadões. Arvores secas e sem gritos, ereções involuntarias e sem gesto, Minha hemorroida que começa a doer...onde estão os brigadeiros? sorrisos inefaveis? solidões desconhecidas pela minha rota errada? pelo meu bastão de fogo? As crianças sendo torturadas? maniácos na condução das coisas? e tudo andando como deveria desde o inicio especulado e o controle imovel que não há. Aumento minha compreensão dos mecanismos, acendo aquele cigarro já citado, entro no ônibus e a vida me refuta.

domingo, outubro 26, 2008

Armadilha para Jonas.

Viveu o velho Jonatas uma vida veneravel. Criou os seus filhos da melhor maneira que lhe foi possivel, o que não evitou que um entrasse para ocrime e que a filha mais nova engravidasse de um adolescente malandro e preguiçoso, como muitos que se pode encontrar pelas periferias. O velho Jonatas, ao contrário da maioria dos homens nascidos e criados na favela, nunca procurou ostentar as suas parcas conquistas aos olhos dos vizinhos, e ao contrário de sua mulher nunca se importou muito com o estes pensavam sobre a sua vida. Foi seguindo seu curso de vida muito mais por inercia do que por qualquer tipo de “virtude” (se é que isso existe”) e se viu aos sessenta anos completamente enroscado em uma constragedora situação. A questão é que sua filha precocemente “amaziada” com o vagabundo do seu genro sempre trazia algumas amigas para assitir televisão em sua casa, e como não quizessem criar confronto Jonas e a Mulher não colocaram objeção. Ora, tinha Jonas a impecavel reputação de grande pai de familia, cuja renuncia a uma vida de festas e aventuras teria garantido, por exemplo, que o filho mais velho se formasse Médico e que sua mulher fosse uma especie de simbolo da realização feminina
-olha a constância
diziam os vizinhos ao ver a mulher de Jonas passar com a sacola do pão, altiva e segura
- Isso é que é uma mulher feliz
Foi nesse contexto que Jonas se viu um dia bolinando a amiga da filha por debaixo da mesa onde tomavam café. Era uma Negra linda a clariça. Peitos arrebitados, bunda rechonchuda e um pé de umbigo que provocava dores fortes no peito carcumido do velho Jonas, e ele não segurou a onda. A menina gostou do joguinho. É claro que Jonas sabia que aquilo não era certo. A garota além de ser menor de idade poderia ser sua filha, ou neta. Mas nada disso alterou o curso dos fatos e uma noite, após todos terem ido dormir Jonas foi pé ante pé, ofegante como um porco prestes a ser abatido até chegar ao quarto de hospedes onde dormia a Clariça. A menina bancou que estava dormindo e Jonas sabia que aquilo era parte do jogo não se fazendo de rogado. Levantou a coberta e viu na meia luz aquela bundinha arrebitada desenhada pelo minúsculo short. Tirou a camisa dela e viu os peitos. Duros, com os bicos amarronzados em posição de alerta. Jonas ofegava quase perdendo o folêgo, e ainda nem tinha metido. Tirou o Short da menina , que ainda fingia dormir, e em seguida liberou a pica latejante com a enorme cabeçorra vermelha. A garota tremeu de olhos fechados como se soubesse o que iria acontecer. Jonas colocou a ponta na entrada e foi metendo devagar. A menina convulsionava e tremia, Jonas aumentou o ritmo e enfiou tudo. Ainda de olhos fechados clariça gemeu baixinho:
- Ai ! seu Jonas

Jonas continuou indo bem fundo, na hora exata de gozar tentou tirar a ferramenta para não correr o risco de engravida-la, mais clariça nesse exato momento abriu os olhos e com um risinho satânico exclamou:
- Acha que vai fugir de dentro de mim assim “seu Jonas”.
Naquele instante Jonas compreendeu tudo, e descobriu que estava perdido.


Afeto Romântico e Afeto Reacionário

Era muito comum no século XIX que os filósofos, literatos e sociólogos se debruçassem sobre os hábitos e idiossincrasias sociais de seu tempo com o propósito (implícito ou explicito) de exercer sobre as peculiaridades do comportamento de seus contemporâneos alguma influência. O tipo de sociedade que sucedeu a do século XIX condenou ao ostracismo das tribunas das igrejas e a marginalidade dos folhetins sensacionalistas o tipo de juízo que moveu a política e a vida privada de nossos antepassados. Pessoas como Nelson Rodrigues, profundamente comprometidas com o projeto de “descaracterizar” a moralidade burguesa, ou escritores de auto-ajuda como o Roberto Shiashiki, muito mais bem sucedidos nas vendas, que reproduzem narrativas medievalescas de afetividade fundada na fidelidade, casamento, renúncia e etc. fundam-se nessa tradição demasiado recente para nós Brasileiros. Em um determinado momento senti a necessidade de escrever sobre a polaridade ambígua desses dois partidos, o dos conservadores, que procuram adaptar o ritmo frenético do nosso modo de vida as velhas e não tão bem sucedidas expectativas sobre como se deve ou não se deve amar, e o partido dos românticos que há mais de um século seguem gritando que o prazer imediato e contingente deve necessariamente submeter à estabilidade da vida familiar.
No sentido de realizar o experimento pós moderno de submeter alguns dos nossos há bitos e costumes a uma forma de atitude comunicativa semelhante a que intelectuais dos dois partidos realizaram, irei dividir essas “inquirições sobre a cultura” em dois grupos: Investigações Românticas e investigações Reacionárias. As investigações românticas partem de um pressuposto comum, que é: A singularidade, a espontaneidade das supostas “pulsões” e “instintos” são melhores que o calculo e a certeza “burguesa” e constituem, ambas, o fundamento do valor dos indivíduos. As investigações (ou melhor, dizendo, as afirmações) reacionárias por outro lado se baseiam-se no pressuposto Cristão de que o indivíduo possui uma “essência” estável a qual nós nos afeiçoamos, portanto, se ocorrem mudanças no comportamento dessas pessoas que comprometem nossos pressupostos afetivos isso constituiria conseqüentemente um dolo, não só para nós que somos “traídos” por alguém que nos mostrou uma “falsa essência”, mas principalmente para o próprio traidor que será inevitavelmente “castigado pelo futuro”.
Essas duas posições, inseridas ambas em nossa cultura e componentes presentes em qualquer diálogo sobre afeto, felicidade e relação constituem heranças e paradigmas que norteiam a forma como as pessoas se descrevem a si mesmas e aos outros indivíduos. Ambas as descrições advogam a posse da “verdade” sobre as “reais necessidades” de homens e mulheres, e são, via de regra, nexos onde a vida publica e a vida privada se encontram muito próximas. O vocabulário que utilizamos para nortear nossas ações, mantendo algum grau de coesão e eficiência, na relação com outras pessoas e o vocabulário que utilizamos para firmar nessa relação os critérios para nossa satisfação ou insatisfação estão estranhamente próximos em questões afetivas e sexuais. Kafka disse certa vez que “A mulher é a ponte para o mundo”, ignorando o conteúdo relativamente machista dessa afirmação, podemos dizer que ela reflete exatamente a compreensão Nelson Rodriaguiana do ciúme e da moralidade como meros reflexos de nosso adestramento social. O outro, segundo essas duas visões, nos conduz ao mundo social e público, a felicidade comunal (diriam os reacionários) e a suas cobranças por adequação (diriam os românticos) e sua conseqüente contradição com nossos instintos “verdadeiros”.

Como habitante de uma cidade grande da America do sul profundamente inclinado, pela minha educação catolico-cristã, a monogamia e ao mesmo tempo como intelectual que aprecia a contribuição da história e tende a achar que a fidelidade, ainda que ocorrendo em um lugar ou outro, nunca chegou a constituir a regra do comportamento sexual humano eu sugeriria que sua exigência a priori e sagrada representa uma forma inadequada de sincronizar o comportamento privado e o publico. Em contrapartida a essas duas partes de minha formação eu ofereceria uma postura não fundamentalista em relação ao afeto, como tenho sugerido em relação a outras questões. Por fidelidade eu substituiria a palavra “regularidade afetiva” e por infidelidade eu colocaria e expressão “variação de comportamento sexual”, tal substituição permitiria algum ganho no campo da liberação de “enemas” afetivos da mesma forma que a palavra “erro” representa um extraordinário ganho em relação à palavra que a antecedeu “pecado”, um ganho que aumenta incomensuravelmente quando substituímos ambas pela palavra “diferença”.
Com essas mudanças poderíamos, quiçá, eliminar tanto a intolerância romântica quanto a reacionária, assumindo em relação ao afeto uma postura democrática e falibilista que não inviabilizaria a consumação nem das relações estaveis nem dos projetos afetivos que priorizam as experiências contingentes. Se a cultura prosseguir no movimento que tem adotado nos últimos três séculos creio ser inevitável que algum arranho semelhante ao que sugeri ocorra. As pessoas tem se inclinado, em minha opinião a descreverem-se de forma cada vez menos vinculada a juízos morais religiosos e homogeneizantes e a sociedade tem prosseguido desde o século XVII afrouxando cada vez mais os laços que costumavam ligar as opções privadas e a aceitação publica. Esvaziado o conteúdo religioso das uniões sexo-afetivas o que restaria do vocabulário no interior do qual a palavra fidelidade tem algum sentido? Veríamos então os sentimentos com estados contingentes e a convivência com um (a) parceiro (a) como algo não menos contingente, resultado das diversas forças, escolhas, atividades e opiniões que compõe a individualidade de cada um e não como uma escolha refletida por um “alguém” em detrimento de outros.

terça-feira, outubro 21, 2008

Trabalho !

Depois
de 14 horas de trabalho
raizes de amargura,
chuva de detritos,
um horizonte em chamas,
já não há mais nada para o amanhã
exeto talvez,
mais trabalho
e algum sintoma de patologia
inesperada.
Um grande
imenso
inominavel
tonel de merda me parece
tudo isso.
Mas a mente escorre para o final do
mês,
um condenado a prisão perpétua
esperando o
proximo prato
de sopa fria.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Residência

Moro em um quarto pequeno
com alguns livros
muita baratas
e uma senhora um
tanto melancólica
que tem sido boa para mim
na maioria das vezes.


Minha janela abre-se para um mundo
em crise
Papeis cheios de poesias possiveis
fogem das minhas mãos
sujas e ocupadas.
Meus amigos,
quase todos,
se debatem
também contra o destino.
Já carreguei fardos de farelo
limpei latrinas nas madrugadas
de um mundo cada vez mais rico
e mais feliz.
Chorei em domingos ensolarados
e fiquei muitos contente durante
algumas hecatombes.
Agora eu quero apenas uma trégua,
vou exibir minhas credenciais
diante do acaso
e exigir
e que minhas tristezas possam abrir as suas asas
cinzas sobre o mundo
livremente.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Overall

Não sei o que diria Neruda
Nem como cantaria isso o dylan.
A dificuldade em erguer-se da bruma
para verter nosso sangue em vão.
Emergir do escuro,
da redenção vazia do nada,
Para comtemplar a face do horror
por 12 horas seguidas.
Golpeando com o desespero
psicopatas sem diagnóstico,
Cristos sem rebanho,
Santos sem céu,
Sabios sem adoradores.
E no final de tudo...
Abrir a porta de casa,
tirar o sapato,
sorvendo
sabendo ,
e desejando,
.....
a paz
...
Para descobrir
em seguida
que não
terminou.
Por um motivo ou
outro.
......

ver as coisas
se impondo
e ficar
oservando...
Eu
aceito.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Conciliação

Eles estão parados no meio
Com a sua cota de ódio,
Eles estão afastando o incerto
Com socos, gritos, exigências ou julgamentos.
Eles são muitos...
Milhares sobre a face da terra.
Entulhando as estradas com verbos, adjetivos e marcas.
Eles estão parados no meio,
E precisam estar certos.
Exigem estar certos.
Matariam Bebezinhos e comeriam seus figados
Para estar
Certos
Pode-se olha-los e conhecê-los com facilidade
Não oferecem mistérios
Não oferecem perguntas
Não nos acenam com as mãos
Só possuem o ódio
O mêdo
E o imenso e inexoravel desejo
De estar
Certos
Ó miseraveis....
Meus irmãos.