Pequenos grãos de poeira voavam no quarto quando acordei. O leve mal estar da bebedeira e o conhecido sintoma da falta de meta. Exausto, mastigado e sem qualquer prerrogativa.
Sonhar nunca foi um anestésico desejável para os meus cancros. Terminações do inacabado e opressões simbólicas que não alimentavam minhas trincheiras com sentido. O remorso também é uma alegação vazia, um fantasma desenvolvido por professores sem competência para a vida. A dor passada e o medo de sua recorrência é que se encarnavam quando a benção da noite sem delírios não me acobertava. O dia que me esperava poderia trazer uma nova aurora, o reconhecimento contingente de outras linhas que, a semelhança destas, escrevi entre catarses contingentes de dramas revividos. Haveria a entrevista, eu talvez fosse confirmado, não havia outra possibilidade maior de sobreviver com brio, pagar as contas e talvez, quem sabe, mostrar a minha filha que o pai dela não era um completo fracassado. Mas havia o medo, havia o inevitável, havia a incerteza que sempre fiz questão de admitir. Olhei firme para o canto da casa e podia jurar que havia alguma coisa movendo-se na sombra, algo esperto, malicioso planejando a próxima jogada para esmagar-me o nobre coração. Lancei-lhe uma cusparada em desafio e saí para comprar cigarros e algum repasto atravessando a turba das vozes que se misturavam ao sol do meio dia. As pernas estavam doendo e sinceramente não sentia nenhuma disposição para ser sociável, portanto, procurei o mais vazio dos mercados. Perdi alguns minutos nesse processo e outros tantos olhando as prateleiras e pensando no que comer, sem conseguir estabelecer uma média ponderada entre o melhor prato para o meu refinado paladar e o preço acessível aos trocados que trazia no bolso da calça desgastada.
Às vezes tenho a estranha sensação de que todos estão me observando, e tentando (por algum sórdido motivo) chamar minha atenção. Uma senhora imensa, com o cabelo coberto de rolinhos de papelão parou do meu lado e começou a falar dos preços, da qualidade das mercadorias e do atendimento do mercado. Vespas gigantescas não me dariam tanto medo, invasões alienígenas não me dão tanto medo, patrões obesos e suas esposas viajando de iate em um ensolarado final de semana não me dariam tanto medo quanto pessoas que falam sozinhas. Abrigo-me no requisito que mais prezo em uma democracia, o direito A SACROSSANTA INDIFERENÇA. A mulher me olha uma, duas, três vezes, desiste e vai procurar uma outra vitima. Eu me resolvo pelo molho de tomate, macarrão e algumas lingüiças. A garota que passa as mercadorias recorre a estratégia da invisibilidade sorridente, no gesto pago meramente objetivado ela se salva da possessão alheia. Cada um quer o seu feudo, e as pessoas amáveis são as piores. O seu olhar escorre para dentro de si em um ódio calado e sorridente. Penso que o mundo seria muito mais suave, as estradas seriam mais abertas se não houvessem tantas exigências penumbrosas, tantos círculos confusos para chegar ao mesmo ponto de partida. Como nos casamentos por exemplo. Energia gasta, tesão desperdiçado automutilação inútil. E eu me ponho a pensar na minha utopia: “Senhor Juan Leon, no quesito desempenho sexual o senhor contemplou as exigências do contrato, mais nos tópicos seguridade social, previsibilidade afetiva, exclusividade corpórea e apresentabilidade social o senhor realmente não foi bem avaliado e terá de ser demitido desta relação” Simples direto e sem meias palavras. O fim do absolutismo na vida das pessoas. Tangibilidade e espaço para soluções mais rápidas. Aleluia Huxley!
Chego ao desterro pequeno e abafado do meu quarto, carregado destas palavras absurdas e destas parcas e vergonhosas compras. Os livros estão por toda parte, assim como as revistas masculinas, os rascunhos mal acabados de possíveis contos e poemas e recibos nunca pagos que me levarão para o abismo. Coloco a água do macarrão no fogo, separo as lingüiças com uma faca em pequenas rodelas e faço o mesmo com as cebolas. Frito tudo no óleo e aguardo que a água ferva enquanto ouço um Hank Wiliams colocando uma fumaça no juízo e acompanhando o Krishnamurti em sua tentativa. Nada de tentar resolver. Nada de tentar não tentar. Afinal de contas, seus infelizes, vocês vão ou não vão encarar QUAL É MESMO O PROBLEMA? Bom, muito bom. A água ferve, jogo o macarrão lá e fico misturando para evitar o grude. O satanás do macarrão. Queimem seus infelizes, cozinhem no meu fogo, derretam seus corpos esbeltos de farinha de trigo hahahaha. O macarrão chega ao ponto, lavo a massa em um encardido escorredor plástico, jogo a coisa toda no meu prato, cubro com o molho pronto comprado por trocados e laureio minha obra com as rodelas de lingüiça engorduradas. Um manjar. Coca-cola para minha ulcera e tudo está perfeito.
Acabo com a minha criação em algumas garfadas. Uma metáfora perfeita do que é viver, e só me resta terminar o trabalho soltando a massa marrom e desprezível no vaso sanitário. 15:00 horas. Aproxima-se o horário do fatídico resultado. Será Juan Leon publicado finalmente? Será o romantismo trágico refutado pela contingência desejada da democracia? Leitores para quem não traz consigo as credenciais? Eu quero ter meu pessimismo refutado e também não vou dizer que é nobre. Vou para o chuveiro e esfrego bem as partes, mas não me masturbo, poderia dar azar, é melhor não arriscar a essa altura do campeonato. Quase chego a rezar... quase. Vestido com uma puída calça jeans e uma camisa social desbotada me atiro novamente as ruas.
Após atravessar metade da cidade chego ao reluzente centro empresarial onde as rapinas de gravata decidem o destino das ratazanas estropiadas. O edifício da editora perde-se na imensidão do espaço. Uma torre inimaginável, um castelo cercado pelos fossos de tradições herdadas, de filhos que seguiram os seus pais, de pais que seguiram os pais deles, de acumulação determinada pelo medo e eles tem razão. A vida oferece as premissas para isso e eu não posso refutá-los, todavia, estou situado em uma posição desvantajosa e por isso os desprezo. Desprezo a sua falta de criatividade, o seu senso de acordo, a convicção de seu parco senso do que é viver... áridos desertos, mais não é culpa do dinheiro e sim da preguiça alimentada com o leite tenebroso da família. Mas preciso da migalha deles e por isso estou aqui. O recepcionista me olha com suspeita e me mostra o elevador. O que há com esse cara? Nunca viu um escritor? Que tolice a minha, esqueci repentinamente que agora os escritores falam sobre “caminhos sagrados de Santiago Compostela” “como ficar rico sem fazer esforço” e vestem ternos bem cortados ou descontraídas blusas brancas sem estampa no calçadão de Ipanema.
Chego ao escritório no 26° andar e uma secretária linda me recebe. Peitos formidáveis. Como uma juventude sadia fazendo amor em prados verdejantes e redenção absoluta em um gozo apenas, mas ela estraga tudo me olhando com desprezo. Eu me apresento, ela me pede para sentar e eu espero tremulo pela minha sentença.
A porta se abre. Um sujeito cheio de trejeitos femininos sai da sala com um ar blasé. È isso que é ser um escritor hoje em dia? A garota chama meu nome e diz que eu posso entrar. Minhas pernas quase não respondem. Os supermercados não estão oferecendo vagas. Não tenho contatos que possam me conseguir um emprego como professor. Já não tenho idade para carregar os fardos de farelo que me permitiram alimentar a minha filhinha até os sete anos. Talvez essa seja minha ultima chance. Atrás da imensa mesa um sujeito mais redondo que eu ocupa o centro de uma sala repleta de livros enfileirados nas paredes. O cabelo grisalho meio despenteado tenta me convencer de que ele é um sujeito comprometido com a cultura, mas os vincos de sua testa insana me mostram que na verdade quais são as suas verdadeiras intenções.
- Sr, Juan Leon, Avaliamos os teus contos e devo lhe confessar que estou surpreso. São muitos bons
Eu gelo. Será que finalmente alcancei o meu lugar? Então é isso? Sim, Sim, agora percebo que tudo faz sentido. Ah! Como fui tolo duvidando, era só um experimento para burilar minha palavra, sim, sim um longo e tenebroso sonho do qual despertei agora. Mas ele não tinha terminado ainda.
-Todavia, não temos mercado para o que escreves.
O chão desaparece sob os meus sapatos, o frio toma conta de meu peito enquanto ele desfia seu rosário de observações prudentes sobre o iluminismo, a internet, auto-ajuda e os manuais. Após perceber que já não há mais solução, que eu sou antiquado e ressentido em demasia para ser assimilado eu balbucio a minha sentença interrompendo seu brilhante raciocínio.
- É que nos falta uma hecatombe nuclear.
-Como? Desculpe Sr Juan, não entendi.
- uma Hecatombe, sabe? Pessoas sendo queimadas nas ruas como papel sequinho, sabe? Brancos, negros, pobres, ricos... Todos, sem exceção. Queimado, tentando salvar suas peles sem pensar em mais nada. É o que falta para que algumas coisas tornem-se relevantes. Não que eu deseje que isso aconteça, claro, é apenas uma observação solta. Bom, tenho que ir, uma importante editora americana mandou-me uma carta dizendo que eu sou a maior descoberta literária depois de Hemingway.
Levanto da mesa do meganha e o deixo lá estupefato. Ao passar pela secretária peituda deixo escapar baixinho.
- Quando quiser chupar uma pica de verdade me telefona
Desço o elevador e a rua me recebe como uma puta louca sedenta do dinheiro que não tenho. Ela não me perdoará. Me cortará os membros e eu terminarei meus dias me arrastando com um pequeno molusco a me alimentar de excrescências. A mundo rodopia. Meu corpo cresce e encolhe como uma bola de soprar. Sento em um meio fio com a cabeça entre as pernas esperando o despertar que nunca chega, o fim da longa noite que pode não trazer alivio.
Sonhar nunca foi um anestésico desejável para os meus cancros. Terminações do inacabado e opressões simbólicas que não alimentavam minhas trincheiras com sentido. O remorso também é uma alegação vazia, um fantasma desenvolvido por professores sem competência para a vida. A dor passada e o medo de sua recorrência é que se encarnavam quando a benção da noite sem delírios não me acobertava. O dia que me esperava poderia trazer uma nova aurora, o reconhecimento contingente de outras linhas que, a semelhança destas, escrevi entre catarses contingentes de dramas revividos. Haveria a entrevista, eu talvez fosse confirmado, não havia outra possibilidade maior de sobreviver com brio, pagar as contas e talvez, quem sabe, mostrar a minha filha que o pai dela não era um completo fracassado. Mas havia o medo, havia o inevitável, havia a incerteza que sempre fiz questão de admitir. Olhei firme para o canto da casa e podia jurar que havia alguma coisa movendo-se na sombra, algo esperto, malicioso planejando a próxima jogada para esmagar-me o nobre coração. Lancei-lhe uma cusparada em desafio e saí para comprar cigarros e algum repasto atravessando a turba das vozes que se misturavam ao sol do meio dia. As pernas estavam doendo e sinceramente não sentia nenhuma disposição para ser sociável, portanto, procurei o mais vazio dos mercados. Perdi alguns minutos nesse processo e outros tantos olhando as prateleiras e pensando no que comer, sem conseguir estabelecer uma média ponderada entre o melhor prato para o meu refinado paladar e o preço acessível aos trocados que trazia no bolso da calça desgastada.
Às vezes tenho a estranha sensação de que todos estão me observando, e tentando (por algum sórdido motivo) chamar minha atenção. Uma senhora imensa, com o cabelo coberto de rolinhos de papelão parou do meu lado e começou a falar dos preços, da qualidade das mercadorias e do atendimento do mercado. Vespas gigantescas não me dariam tanto medo, invasões alienígenas não me dão tanto medo, patrões obesos e suas esposas viajando de iate em um ensolarado final de semana não me dariam tanto medo quanto pessoas que falam sozinhas. Abrigo-me no requisito que mais prezo em uma democracia, o direito A SACROSSANTA INDIFERENÇA. A mulher me olha uma, duas, três vezes, desiste e vai procurar uma outra vitima. Eu me resolvo pelo molho de tomate, macarrão e algumas lingüiças. A garota que passa as mercadorias recorre a estratégia da invisibilidade sorridente, no gesto pago meramente objetivado ela se salva da possessão alheia. Cada um quer o seu feudo, e as pessoas amáveis são as piores. O seu olhar escorre para dentro de si em um ódio calado e sorridente. Penso que o mundo seria muito mais suave, as estradas seriam mais abertas se não houvessem tantas exigências penumbrosas, tantos círculos confusos para chegar ao mesmo ponto de partida. Como nos casamentos por exemplo. Energia gasta, tesão desperdiçado automutilação inútil. E eu me ponho a pensar na minha utopia: “Senhor Juan Leon, no quesito desempenho sexual o senhor contemplou as exigências do contrato, mais nos tópicos seguridade social, previsibilidade afetiva, exclusividade corpórea e apresentabilidade social o senhor realmente não foi bem avaliado e terá de ser demitido desta relação” Simples direto e sem meias palavras. O fim do absolutismo na vida das pessoas. Tangibilidade e espaço para soluções mais rápidas. Aleluia Huxley!
Chego ao desterro pequeno e abafado do meu quarto, carregado destas palavras absurdas e destas parcas e vergonhosas compras. Os livros estão por toda parte, assim como as revistas masculinas, os rascunhos mal acabados de possíveis contos e poemas e recibos nunca pagos que me levarão para o abismo. Coloco a água do macarrão no fogo, separo as lingüiças com uma faca em pequenas rodelas e faço o mesmo com as cebolas. Frito tudo no óleo e aguardo que a água ferva enquanto ouço um Hank Wiliams colocando uma fumaça no juízo e acompanhando o Krishnamurti em sua tentativa. Nada de tentar resolver. Nada de tentar não tentar. Afinal de contas, seus infelizes, vocês vão ou não vão encarar QUAL É MESMO O PROBLEMA? Bom, muito bom. A água ferve, jogo o macarrão lá e fico misturando para evitar o grude. O satanás do macarrão. Queimem seus infelizes, cozinhem no meu fogo, derretam seus corpos esbeltos de farinha de trigo hahahaha. O macarrão chega ao ponto, lavo a massa em um encardido escorredor plástico, jogo a coisa toda no meu prato, cubro com o molho pronto comprado por trocados e laureio minha obra com as rodelas de lingüiça engorduradas. Um manjar. Coca-cola para minha ulcera e tudo está perfeito.
Acabo com a minha criação em algumas garfadas. Uma metáfora perfeita do que é viver, e só me resta terminar o trabalho soltando a massa marrom e desprezível no vaso sanitário. 15:00 horas. Aproxima-se o horário do fatídico resultado. Será Juan Leon publicado finalmente? Será o romantismo trágico refutado pela contingência desejada da democracia? Leitores para quem não traz consigo as credenciais? Eu quero ter meu pessimismo refutado e também não vou dizer que é nobre. Vou para o chuveiro e esfrego bem as partes, mas não me masturbo, poderia dar azar, é melhor não arriscar a essa altura do campeonato. Quase chego a rezar... quase. Vestido com uma puída calça jeans e uma camisa social desbotada me atiro novamente as ruas.
Após atravessar metade da cidade chego ao reluzente centro empresarial onde as rapinas de gravata decidem o destino das ratazanas estropiadas. O edifício da editora perde-se na imensidão do espaço. Uma torre inimaginável, um castelo cercado pelos fossos de tradições herdadas, de filhos que seguiram os seus pais, de pais que seguiram os pais deles, de acumulação determinada pelo medo e eles tem razão. A vida oferece as premissas para isso e eu não posso refutá-los, todavia, estou situado em uma posição desvantajosa e por isso os desprezo. Desprezo a sua falta de criatividade, o seu senso de acordo, a convicção de seu parco senso do que é viver... áridos desertos, mais não é culpa do dinheiro e sim da preguiça alimentada com o leite tenebroso da família. Mas preciso da migalha deles e por isso estou aqui. O recepcionista me olha com suspeita e me mostra o elevador. O que há com esse cara? Nunca viu um escritor? Que tolice a minha, esqueci repentinamente que agora os escritores falam sobre “caminhos sagrados de Santiago Compostela” “como ficar rico sem fazer esforço” e vestem ternos bem cortados ou descontraídas blusas brancas sem estampa no calçadão de Ipanema.
Chego ao escritório no 26° andar e uma secretária linda me recebe. Peitos formidáveis. Como uma juventude sadia fazendo amor em prados verdejantes e redenção absoluta em um gozo apenas, mas ela estraga tudo me olhando com desprezo. Eu me apresento, ela me pede para sentar e eu espero tremulo pela minha sentença.
A porta se abre. Um sujeito cheio de trejeitos femininos sai da sala com um ar blasé. È isso que é ser um escritor hoje em dia? A garota chama meu nome e diz que eu posso entrar. Minhas pernas quase não respondem. Os supermercados não estão oferecendo vagas. Não tenho contatos que possam me conseguir um emprego como professor. Já não tenho idade para carregar os fardos de farelo que me permitiram alimentar a minha filhinha até os sete anos. Talvez essa seja minha ultima chance. Atrás da imensa mesa um sujeito mais redondo que eu ocupa o centro de uma sala repleta de livros enfileirados nas paredes. O cabelo grisalho meio despenteado tenta me convencer de que ele é um sujeito comprometido com a cultura, mas os vincos de sua testa insana me mostram que na verdade quais são as suas verdadeiras intenções.
- Sr, Juan Leon, Avaliamos os teus contos e devo lhe confessar que estou surpreso. São muitos bons
Eu gelo. Será que finalmente alcancei o meu lugar? Então é isso? Sim, Sim, agora percebo que tudo faz sentido. Ah! Como fui tolo duvidando, era só um experimento para burilar minha palavra, sim, sim um longo e tenebroso sonho do qual despertei agora. Mas ele não tinha terminado ainda.
-Todavia, não temos mercado para o que escreves.
O chão desaparece sob os meus sapatos, o frio toma conta de meu peito enquanto ele desfia seu rosário de observações prudentes sobre o iluminismo, a internet, auto-ajuda e os manuais. Após perceber que já não há mais solução, que eu sou antiquado e ressentido em demasia para ser assimilado eu balbucio a minha sentença interrompendo seu brilhante raciocínio.
- É que nos falta uma hecatombe nuclear.
-Como? Desculpe Sr Juan, não entendi.
- uma Hecatombe, sabe? Pessoas sendo queimadas nas ruas como papel sequinho, sabe? Brancos, negros, pobres, ricos... Todos, sem exceção. Queimado, tentando salvar suas peles sem pensar em mais nada. É o que falta para que algumas coisas tornem-se relevantes. Não que eu deseje que isso aconteça, claro, é apenas uma observação solta. Bom, tenho que ir, uma importante editora americana mandou-me uma carta dizendo que eu sou a maior descoberta literária depois de Hemingway.
Levanto da mesa do meganha e o deixo lá estupefato. Ao passar pela secretária peituda deixo escapar baixinho.
- Quando quiser chupar uma pica de verdade me telefona
Desço o elevador e a rua me recebe como uma puta louca sedenta do dinheiro que não tenho. Ela não me perdoará. Me cortará os membros e eu terminarei meus dias me arrastando com um pequeno molusco a me alimentar de excrescências. A mundo rodopia. Meu corpo cresce e encolhe como uma bola de soprar. Sento em um meio fio com a cabeça entre as pernas esperando o despertar que nunca chega, o fim da longa noite que pode não trazer alivio.
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