Cheguei em casa quebrado. A cabeça e os olhos doíam porque a lente direita do meu óculos estava arranhada. Joguei uma água no corpo e entornei meia garrafa de vinho que estava sobrando na geladeira. A casa vazia, a mulher no trabalho e meu vizinho pouco sapiente com o rádio desligado, sem ouvir reggae ou samba. Na televisão era mais do mesmo. Nada que pudesse servir para uma punheta. Mesmo assim consegui arrancar uma das boas, minha memória nunca me deixou na mão, ou melhor, sempre me deixou. (Hehehe) Tombei na cama e comecei sonhar. Eu estava voando. Lá embaixo as pessoas me apontavam e riam. Eu não achava graça nenhuma. Estava de camisa e sem calças e um vento noturno bem friozinho me gelava os testículos. Atravessei algumas ruas assim, feito um balão imbecil balançando pra lá a para cá sem saber de porra nenhuma. Ao chegar a uma auto estrada na saída do bairro onde cresci um vento mais forte me jogou nos fios de alta tensão. Levei um choque dos diabos e acordei com a lateral do corpo doendo. Levantei, era já madrugada e do meu lado a patroa dormia. Levantei, fumei um cigarro e abri a janela. Tudo parado. As pessoas agora também acertavam as contas com suas pegadas. Tudo me pareceu frio e distante. Vago. A substancia do mundo tinha o gosto de algodão doce sem açúcar. Tudo é muito engraçado, mas eu não rio. E você?
Palavras acidentais, produzidas em gesto espontâneo para desaparecer em seguida no turbilhão do nada.
sábado, agosto 28, 2010
terça-feira, agosto 24, 2010
Preâmbulo
segunda-feira, agosto 23, 2010
Deus, amor e todo o resto...
domingo, agosto 22, 2010
O fim do futebol
terça-feira, agosto 10, 2010
Distância e sentido
Amo os teus olhos diluídos
Em um mar vermelho
onde deságuam enxames.
Teus gestos de vestal sem templo ou castidade
Sua pouca inclinação para o sagrado
e sério.
Amo tua mania de inquietações, teu hábito de entrega
Furiosa,
Os segredos gritantes do teu medo
Onde sacio a minha fome de igualdades.
Dessa maneira eu permaneço em mim quando me procuras
Me esquivando com verdades e me oferecendo em silêncios
Onde somos dois irmãos malditos
Permanecidos na lembrança de tardes de partilha
Ocultos na vestimenta dos segredos improváveis
Porque deveria haver sentido nesse mundo,
Porque esse mundo deveria fazer algum sentido.
segunda-feira, agosto 09, 2010
Alegro ma...
Procuro por um Sutra que cale meus tombos
Uma estrutura mais branda,
E a remissão do meu tédio.
Procuro por uma sonata de luz, um breve intervalo
Sutil
Onde possa sentar-me comigo e aceitar essa rigidez
Que me cerca.
Procuro um Alegro ma non Tropo
Um beijo sem memórias e um gesto sem condenações
Sem a tensão dos seus braços, sem a distração do meu jeito
Sem o tudo que tem sido nós dois.
Procuro, já não cabe fingir, o mesmo de sempre
O ponto cego para sentir-me estável
Olhar na face do medo
E beber plenamente
a minha taça de tempo.