quarta-feira, novembro 03, 2010

Viver é estar em perigo..fácil falar!

Que brincadeira mais sem graça. É a frase que ecoa em meus pensamentos sem cessar. Com a maldita carta que avisa sobre o cancelamento do meu contrato eu conjecturo enquanto atravesso o passeio do centro da cidade me esquivando dos pedestres, contando centavos, conjecturando alternativas...reproduzindo na tela do pensamento as aflições da miséria que conheço muito bem. Um senhor de bengala me olha bem nos olhos e acena com a cabeça, os perdedores se reconhecem, eu penso. Tem ainda os orgulhos da condição masculina que é preciso sufocar para pedir favores, a disposição para o trabalho que não basta, pois o fator sorte nem sempre está a nosso favor. Sim. Você não vai entender o que é isso até ter passado como eu pela reivindicação silenciosa da necessidade. O sinal fechou e agora posso atravessar. As pessoas correm de uma lado para o outro, parecem saber onde estão indo. Planejar, planejar e planejar apenas para descobrir depois que os seus planos valem menos que um cigarro molhado que caiu no esgoto, pois o fator decisivo, a oportunidade não lhe favoreceu. E você é jogado de um lado para o outro, indo e voltando, dando um passo a frente e dois atrás, tentando se convencer que as coisas estão indo em frente mas na verdade tudo lhe parece não passar de uma satânica piada de mau gosto. E no final eles tiraram até o último resquício de dignidade, aquele que lhe fazia acreditar que tudo é uma arapuca e é melhor nem dar o primeiro passo. Agora eu tenho que explicar para minha filha que não vai haver natal esse ano. Que o peixinho dela também não terá ração. “
-Não minha senhora, não quero um folheto evangélico.
-Vai com Deus então
Ela responde como se estivesse me rogando uma maldita praga. Como se isso fosse necessário. De repente sinto uma súbita vontade de dar uma baita gargalhada. Estarei enlouquecendo? Quem é que vai me responder isso? Os psicólogos almofadinhas que nunca passaram fome? Parado no ponto de ônibus eu espero. Ouço as conversas deles que não me dizem nada. Não faço parte do jogo e se eu pudesse pular fora desse ringue sem arrastar meu girassol comigo já o teria feito há muito tempo. Mas já que eu não posso, seus malditos duendezinhos dos infernos, vamos ver quem é mais durão, vamos ver o que vocês trazem em suas estúpidas camisas, estou de pé para assistir seus jogos de terror com um pai atormentado e sua criancinha.. vamos ver do que vocês são capazes seus canalhas!

2 comentários:

Aline Carvalho disse...

Gostei dos escritos... uma pitada de doença e realidade. tudo que temos e somos forçados a viver nesse jogo chamado vida.

Vivi Coração Dos Outros. disse...

Demais!!
Aqui, escreve mais uma face que é lançada de um lado pro outro, suprindo espectativas alheias e insatisfeita com a conjuntura atual da vida-vivida.