Sem falsa modéstia, eu já li quase tudo que existe para ser lido em termos de literatura religiosa. A religião gosta de nos fazer acreditar, de diversas maneiras no poder humano sobre a realidade. Ser feliz em meios as farpas, encontrar um caminho claro no meio de uma selva. Não posso afirmar que levei a sério as disciplinas que a religiosidade coloca como requisito indispensável para chegar a esse poder, e, portanto toda minha retórica pode ser acusada de incompleta, por não ter se submetido ao testemunho da experiência. Em contrapartida, nunca me pareceu uma jogada muito honesta pedir a um sujeito que se debate para não morrer, que é espancado cinco vezes por dia, que cresce nos esgotos mendigando afeto, que acrescente a sua luta a busca por iluminação ou santidade. E eu ainda nem estou filosofando... Minha única refutação é a prudência e tampouco tive uma mãe religiosa para sentir a necessidade de preservar o respeito por algumas palavras quando elas já não tem mais utilidade.
Veja, Prometi a minha filha outro dia, em um acesso redentor, que a levaria em uma viagem. Queria dar-lhe a chance de passar por situações que me foram vedadas pelo cristianismo de quem me criou, um cristianismo de renuncia, reclamações e cerebralidade fria. Prometi, e o ultimo resquício de minha antiga religiosidade é o hábito de me manter escravizado por minhas promessas, então, chegando à data da viagem prometida, mesmo não tendo dinheiro, mesmo vivendo de bicos e submetendo-me a uma dieta de pão com água , eu comprei as passagens com o que trazia guardado a sete chaves para alguma emergência e começamos a nos preparar. A pequena era só ansiedade. Oito anos de perguntas, ensaios para uma identidade e brilho refrescante de uma vida que começa. Olhando-a arrumar diligentemente as suas coisas, ignorante sobre a falta que o dinheiro da viagem ia me fazer, inconsciente do sentimento de vanidade que assalta os velhos diante da alegria, eu me perguntava se não seria uma grande crueldade a vida, mas detive esse pensamento com a mão e o esmaguei como a um inseto.
No dia da viagem tão sonhada minha mulher chegou atrasada do trabalho, e como se um duende maligno estivesse conspirando, não achamos ônibus também para a rodoviária. O desespero de mim se apossou: Quanto vale a decepção de uma garotinha de oito anos? Pegamos um taxi em meio a minhas projeções sobre os cinco meses fazendo hora extra que me esperavam. Parecia-me ter visto impresso no bilhete que o ônibus sairia as onze e trinta e tínhamos então apenas dez minutos quando chegamos a rodoviária. Fui a um caixa eletrônico tirar alguma grana para um lanche e o caixa estava quebrado. Minha mulher blasfemava por eu não ter feito isso antes, mas tínhamos pão com banana guardado na sacola e fomos para o embarque. Achei a plataforma bem vazia, onde estavam todos? Somente nós, em pleno carnaval íamos embarcar? Foi quando percebi que me enganara: O ônibus estava marcado para as 11h15min e já tinha partido. Corri para tentar alcançá-lo na saída, minha mulher e filha vieram atrás de mim. Caíram pães e bananas atrás de nós, as pessoas riam e perdemos nosso ônibus.
Meu coração estava estraçalhado. Não tinha outro ônibus. Não consegui reaver o dinheiro da passagem. Minha filha chorava, minha mulher estava pasma eu...bem, eu não era nada senão um poço de Caos e impotência.
Veja, Prometi a minha filha outro dia, em um acesso redentor, que a levaria em uma viagem. Queria dar-lhe a chance de passar por situações que me foram vedadas pelo cristianismo de quem me criou, um cristianismo de renuncia, reclamações e cerebralidade fria. Prometi, e o ultimo resquício de minha antiga religiosidade é o hábito de me manter escravizado por minhas promessas, então, chegando à data da viagem prometida, mesmo não tendo dinheiro, mesmo vivendo de bicos e submetendo-me a uma dieta de pão com água , eu comprei as passagens com o que trazia guardado a sete chaves para alguma emergência e começamos a nos preparar. A pequena era só ansiedade. Oito anos de perguntas, ensaios para uma identidade e brilho refrescante de uma vida que começa. Olhando-a arrumar diligentemente as suas coisas, ignorante sobre a falta que o dinheiro da viagem ia me fazer, inconsciente do sentimento de vanidade que assalta os velhos diante da alegria, eu me perguntava se não seria uma grande crueldade a vida, mas detive esse pensamento com a mão e o esmaguei como a um inseto.
No dia da viagem tão sonhada minha mulher chegou atrasada do trabalho, e como se um duende maligno estivesse conspirando, não achamos ônibus também para a rodoviária. O desespero de mim se apossou: Quanto vale a decepção de uma garotinha de oito anos? Pegamos um taxi em meio a minhas projeções sobre os cinco meses fazendo hora extra que me esperavam. Parecia-me ter visto impresso no bilhete que o ônibus sairia as onze e trinta e tínhamos então apenas dez minutos quando chegamos a rodoviária. Fui a um caixa eletrônico tirar alguma grana para um lanche e o caixa estava quebrado. Minha mulher blasfemava por eu não ter feito isso antes, mas tínhamos pão com banana guardado na sacola e fomos para o embarque. Achei a plataforma bem vazia, onde estavam todos? Somente nós, em pleno carnaval íamos embarcar? Foi quando percebi que me enganara: O ônibus estava marcado para as 11h15min e já tinha partido. Corri para tentar alcançá-lo na saída, minha mulher e filha vieram atrás de mim. Caíram pães e bananas atrás de nós, as pessoas riam e perdemos nosso ônibus.
Meu coração estava estraçalhado. Não tinha outro ônibus. Não consegui reaver o dinheiro da passagem. Minha filha chorava, minha mulher estava pasma eu...bem, eu não era nada senão um poço de Caos e impotência.
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