sábado, fevereiro 28, 2009

Valsa de Ahasverus

Ela sabe que eu não seria,
não poderia,
e que a circunferência da terra
não tem começo também.
Ela fareja meus sentidos, conheçe os
meus impulsos e nunca me viu
chamando mamãe ou papai.
Ela me avalia, pesa, mede, compara e derruba
a pedra final sobre minha pobre carcaça.
Chorosa, onanista, orgulhosa, decadente e feia
e no entanto
divinamente imaculada e brilhante.
Ela me aponta as amigas,
dissemina o meu dossiê, grita nas praças após eu sair:
"Ele lê Albino Forjaz, Ele ouve Hank Wiliams,
Ele Acha que o Bukowiski, o Fante e o Steinbek são os maiores"
Ele não vai a igreja,
ao samba,
Ao Show de Rock na carlos gomes vestindo
camiseta do Che Guevara, louvando velhos panfletos pendurados
na descarga"
Ela faz tudo isso...
Se afasta das cortinas para lavar os anos que viriam no tanque
na familia, no dia a dia da certeza canonizada de um afeto acinzentado
querendo,
desejando,
ansiando
pela loucura que eu trago na virilha.
Ela vai no dia a dia petrificando-se e esvaindo-se
até o breve rio
da resignação.

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