sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Um corpo irrefutável.

Ela estava colocada a uma distância razoavel, distraida o bastante para não perceber o meu olhar. Seu namorado, marido ou amante a envolvia pela cintura em um abraço que demonstrava posse e orgulho. A exibia com a um troféu, e seu rosto liso e bem barbeado, suas roupas justas e seu carro ponta de linha denuciavam o hábito de extrair muita satisfação dessa exposição social do afeto. Decaido e ciníco demais para esperar do conluio social algo mais que perseguição ou indiferênça eu não teria tais pretensões em relação aquela garota de cintura esguia, seios firmes e olhar distante que ocupava o estreito espaço entre os braços do tacanho garotão. O cabelo cortado na altura do pescoço e o jeito coquete de quem provoca até dormindo, tratando peixe ou lavando roupa estimularia uma batalha árdua, um trabalho delicado de dedos, linguas, suspiros e sedenta invasão. Um sonho de garota, do tipo que nem em meus mais audazes sonhos esperei possuir. Todavia eu era um velho olhando para um outro mundo, um velho cético sobre os grandes espiritos iluminados, casamento, fidelidade e a sublimidade do sublime.
Minha cerveja esquentou e eu pedi outra para o pobre garçom que asfaltava o trecho que lhe cabia no acesso a sucursal do inferno. A rapaziada se refestelava indiferente ao olhar ciníco do velho e careca que observava fascinado a bela dama, suas possibilidades carnais e o regojizo infinito que ela poderia proporcionar a um amante cuidadoso e dedicado, esse seria eu, claro. A bexiga apertou depois da quinta cerveja, um tanto grogue levantei-me e fui ao banheiro que ficava aos fundos. O torpor alccolico, a convergência das imagens, a queda absoluta e a descofiança do si-mesmo eram engolidas pelo tesão intriduzido em meus pensamentos pela visão daquela beldade infante. Onde terminam as planices da poesia? Como redimir aqueles que não foram bastantes astutos para inventar a própria redenção? Lancei um bom jato de urina que demorou uma eternidade, lavei as mãos e saí do banheiro. Parei no contramarco que dava acesso a um quintal do bar e acendi um cigarro, foi quando uma perfmue suave me envolveu e uma mão me tocou o ombro. Ao virar-me ela estava de pé em minha frente. Estremeci de alto a baixo em um impulso adolescente, como se todas as trepadas, recursos aos bregas, desmitificações da feminilidade tivessem se anulado. SUa boca transpirava sexo, seu busto saliente transpirava sexo, o pé de seu umbigo exposto transpirava sexo e eu naquele momento quase acreditei em Deus.

-O senhor poderia me dizer as horas, meu tio?

O aguilhão da realidade atravesou-me o peito e eu lhe dei as costas sem conseguir contornar com algum cinismo aquela veraz acusação. Paguei a conta e fui para casa. Minha mulher assistia televisão de touca na sala e como sempre acusou minha bebedeira. Desssa vez não consegui elaborar honrosamente meu fracasso.

Nenhum comentário: