Eu quero atravessar a rua e não falar.
Eu preciso desse momento sem palavras,
sem a junção esquizofrênica entre a consideração e a ida,
como um bêbado precisa do regurgito e do desmaio,
eu preciso atravessar a rua em vão.
Abandonar a cidade dos motivos sem mapas ou tratados.
deixar-me levar pelos meus passos adormecido e sem sonhos
mas olhando abertamente o riso sepultado das pessoas
em dias translúcidos de chá mate, água fria e mim.
Eu preciso de uma brecha no pensar,
de uma janela no seguir,
de uma desembarcação para o lugar onde cessam direções
e compromissos.
Eu preciso atravessar a rua, sem ser interpretado
querido,
dito
ou esquecido...
Eu só preciso atravessar a rua.
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