Soraia refletia sozinha enquanto saia do trabalho cansada em direção a sua casa. O celular tocava insistente em sua bolsa e ela ignorava o som irritante porque mais irritante ainda seria atendê-lo. Ela sabia, que do outro lado da linha lhe aguardava a voz outrora tão agradável de Rafael, voz essa que agora lhe lembrava o sabor caracteristico de um purgante. Porque os homens eram tão previsíveis era algo que ela não conseguia entender. Primeiro apresentá-la aos amigos, depois pedi-la em casamento e finalmente planejar as crianças. Isso quando não tentavam através de algum estúpido artificio engravidá-la pedindo para não usar camisinha. A rua não estava muito movimentada e o trânsito relativamente tranquilo lhe permitia refletir enquanto dirigia, fumava um cigarro e ouvia Marvin Gave. Pior que essa sede de família do Rafael era a fissura dele e de todos os outros homens pela fidelidade. Talvez saudades do colo materno, ou sentimento de culpa por não terem sido cristãos como seus pais e avós, ela não sabia. Achava muito estúpida a exigência da exclusividade corporéa como condição sine qua non da virtude feminina. Soraia, todavia, não se importava muito com isso. Se eles a obrigavam a mentir exigindo-lhe uma renuncia que ela julgava particularmente estúpida, tudo bem. Havia um preço a pagar, ela sabia disso, via em suas amigas padronizadas e homogêneamente fieis um tipo de estabilidade que ela não tinha, e as vez invejava. Mas sua sua vida era breve, sua juventude também. Logo tornaria-se uma anciã a realizar-se com bazares beneficentes, causas sociais e roupas de tricor para os netos, se os tivesse, claro. Não, ela não iria desperdiçar os seus anos depositando-os aos pés de um homem erigido em divindade. Queria fruir os momentos , sorver a polpa das horas, talvez até por um tempo relativamente longo com um único homem, mas não gostaria de fechar-se para outras oportunidades. Ela parou no sinal. A rua ladeava a praia e o final da tarde parecia-lhe muito bonito. Resolveu estacionar e toamar uma cerveja. No bar voltado para o poente um rapaz muito bonito parecia muito concentrado lendo um livro. Ela sentou-se na mesa em sua frente. A tarde oferecia interessantes possibilidades.
4 comentários:
É o modelo de educação patriarcal que permeia ainda hoje a nossa sociedade; e muitas mulheres passam por isso, mas podem mudar se optarem pelo caminho escolhido por elas, não sem dificuldades. A covardia ainda é o maior tabu. E as possibilidades nem sempre voltam. Algumas pessoas confundem o sentimento de posse com amor.
Será que o rapaz que estava lendo era interessante mesmo? rsrs
Olá,
muito legal o seu Blog...gostaria de convidá-lo a visitar o nosso ...minervapop@blogspot.com...
Valeu!
Anselmo - SP
è meu caro Sorai separe-se um pouco do modelo que existe ai,o pior é que infelizmente existem inumeras soraia que sucubem no meio do caminho... saudações de mais um Filho de Caim
Como diria Zéu brito:
" eu quero ver Soraia Queimada por que Soraya me queimou..."
rs.
Tantas Soraias... tantas mulheres...
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