As palavras são velhos esqueletos que desfilam parecendo vivos mesmo depois que seu espírito se foi. Antes falávamos de Deus. Essa palavra tinha o peso de uma sentença e era dosada com o cuidado da dinamite. Hoje o que é essa palavra? Um hábito vazio que não diz nada. Uma pólvora seca com a a qual os excluídos tentam chamar a atenção para sua queda, uma tentativa fracassada de restituição, um remendo para as vidas que estão partidas. O amor, tomou o lugar que antes Deus ocupava na vida das pessoas. Mas assim como a palavra anterior essa também é muito vaga para encarnar-se de forma decisiva em nossas vidas. Deus, Amor, palavras que todo mundo fala mas cujo sentido cada um estabelece ( ou se deixa estabelecer)como bem entende (ou como entendem por nós). Assim, as carências pessoais (variadas que são) encontram nessas palavras um material elástico o bastante para lhes servir de armadura contra a consciência de sua existência. O amor, doravante será interpretado de acordo com a natureza da carência que lhe dá sentido somado a programação que ensina como satisfazer essa carência.
"Quando não realizamos o ideal imaginário do amor, buscamos explicar a impossibilidade culpando a nós mesmos, aos outros ou ao mundo, mas nunca contestando as regras comportamentais, sentimentais ou cognitivas que interiorizamos quando aprendemos a amar"
Jurandir Feire Costa
A palavra Amor, no entanto, permanece. Mesmo que ocorra a variação do seu significado, pois nesse caso ela é colocada no alto de nossa "hierarquia" de valores de onde ela olha de modo acusador para aqueles que nos negam o que nós precisamos. Em outras palavras: Um mundo sem amor é apenas um mundo que não corresponde ao meu conceito, ao meu ideal. Uma pessoa sem amor é apenas alguém que não se adapta ao que espero dela. E porque é a pessoa que precisa estar errada? não será o meu conceito equivocado? Como perceber isso? Quanto sangue não seria poupado, quanta dor se apenas essa pergunta fosse colocada? Mas isso as mães não ensinam as suas filhas. Deveriam.
Um comentário:
A minha mãe não me ensinou, mas aprendi dolorosamente observando as desilusões que outrora causadas pelos outros hoje compreendida como reflexos das minhas expectativas que o outro não tem obrigação de corresponder. Confesso que o desprendimento total é impossível e saber que o outro não é culpado por não ser o que espero as vezes não ameniza a dor, mas a torna menos duradoura, porque a compreensão impulsiona a buscar outras formas de satisfazer as vontades, ou mudar de caminho se necessário, sem apontar culpados.
... gostei muito do seu texto.
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