quinta-feira, setembro 30, 2010

Arte

Uma antiga arte que perdi,
Um talento heróico esquecido entre as vassouras
Que eu usava para varrer as pontas de cigarro
E os sorrisos de desdém das mulheres lindas.
Uma vontade nobre que caiu em algum lugar
Entre os horrendos cagalhões enormes que eu via toda noite
Depois que suspirava fundo, colocava a farda
e me relembrava do que me levou até aquele ponto.
Caído entre aqueles baldes, perdido no quarto da despensa
Coberto de sabão em pó e lama
Olhando em volta e tremendo
Talvez relendo lao-tsé.
Essa coisa breve, esse sopro lindo
Ficou lá.
Toda noite quando chego em casa,
Quando ligo a televisão, o computador, atendo o telefone
Vou dar aula na universidade onde garotos sadios e amados
Esperam que eu lhes diga
Eu lembro que aquilo está lá
Pensando em mim.
É uma vertigem...
Isso quase me dá força
E quase me destrói.

Um comentário:

Aline Carvalho disse...

por mais sadios, e amados... todos tem marcas, e geralmente medimos todo o resto por elas, afinal é ou foi o que nos torna o que somos;

não acho que perdeu a arte, talvez a capacidade de reconhecê-la como sua.
pelo menos eu acho que o que faz é arte, senão desculpe minha ignorância, desconheço a palavra mais adequada para usar.