terça-feira, janeiro 31, 2012

Madrugada.

Existe uma fenda fétida que se abre
Nas madrugadas
Uma sensação de abismo que me acompanha
Sem redenção
Um pouco semelhante aos recessos de um
Outono
Folhas partidas e flores
De plástico sobre um caixão.
Tenho tantas canções que não posso
Nem sei compor
Pesos de muitos anos, labores de judeu errante
Afagos estrangulados e margaridas
Materialistas
e muitas palavras doces para
substituir o amor.
Nos meandros de minha escolha
Surpreendo alguns meninos,
Atalho velhas bondades que se fizeram
Malvadas,
Bebo na escuridão do meu veneno nocivo
E morro sem novidades
Sem pai,
sem mãe,
sem amor
Sem nada.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Hoje eu perdi meu girassol sem sorrisos.

Hoje eu perdi meu
girassol sem sorrisos
que beijei na noite passada
como um anjo
sem saber que era um último
Adeus.
hoje eu vim
do plantio das lembranças
tentando mastigar taoismo e
tragédia
em um só coração solitário
que nunca mais terá abrigo
na terra.
Mas se as flores forem
sensatas,
se o vento possuir um corcel
meu girassol passo-a-passo
irá reflorir entre estrelas.
Com um sorriso refeito
de moça,
encantada novamente e
linda.
Se existir um deus nos espaços,
se os pássaros entenderem da dor
meu girassol ficará guardado
na luz.
Minha presença
que deixo seguir,
serena memória de amor.

domingo, janeiro 22, 2012

Porque as ruas estavam dançando quando eu saí do espelho?

Porque as ruas estavam dançando
quando eu saí do espelho?
Mãe, eu que havia estado estado contigo
enquanto perdida entre os caminhos da alma
você não me sorriu
ou notou.
Cinderela costurada entre sondas
também não compreendi
seu amor.
Eu possuía apenas minhas pernas,
meu fardo, algumas moedas,
cigarros,
e um passado sem canções
de ninar.
Eu apenas andava entre os carros,
apenas tinha vergonha do choro
apenas odiava tanto a Deus
que a face da terra incomodava
minha pele.
Eu não era um homem,
eu não estava entre os outros,
havia depositado minha senha
sobre sua testa
partida.
Sobre esse estranho cuidado opaco
sobre o recipiente vazio
de onde escapam gemidos.
Eu não era um homem,
eu nunca fui um menino,
eu sempre escorreguei entre os
cantos
tentando evitar novas dores.
Eu tenho pena dos postes,
eu lamento pelo sorriso
das putas
eu me devastaria sorrindo
para aniquilar da existência
essa coisa que se perpetua
entre espasmos.
Eu pensava, soluçava e sorria
em meio a frenética rua
que procurava me conter e domar
enquanto você comtemplava
o Lobato,
Periperi,
e remédios,
tudo seguindo sem rumo, sem flores,
como um rio entorpecido no inverno.
Alguma coisa em meu peito
espera
algo aqui dentro ainda pode
partir
enquanto lhe olho e reflito
e o mistério do mundo
é solidão minha mãe.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Banquete

Śentado em um trago
calado
me percebo entre escombros
de vida
e algumas máscaras
partidas
para esconder a carcaça.
Trago uma caixa oca
entre os braços
e um nome geralmente maldito
para um sonho
singelo
em pedaços.
Tudo que aprendi do amor
se resume em sangue
e navalhas
o aprendizado da queda
em etapas
esse banquete de exigência
e batalha.

terça-feira, janeiro 10, 2012

Eu sinto.

Não sinto saudade dos meus
dias de infância,
não sinto saudade.
Das horas tristes inventando brinquedos,
do abandono no quarto onde iriam
Me arrancar as amídalas
Da visita breve da mãe
Com um carro de bombeiros de plástico
Muito mais falso que a obrigatória
Visita
Não sinto.
Não sinto saudade,
Da mocidade,
Da puberdade sem namoradas
Ou sonhos,
Da vagabundagem sem destino
Ou honra
Dos amigos fracassados e parvos
Tão decaídos que conseguiam
Me ter por herói.
Não sinto saudade.
Não sinto saudade dos arcanos,
Dos mistérios inefáveis dos anjos,
Do sentido ideal de ser pleno
Da compreensão telúrica do nada
Daquela miséria travestida de luz.
Eu
não
sinto...
Meu passado é algo que tento
inventar de outro jeito
para saber que fiz o melhor.
exceto por um breve intervalo sem tempo
tocado pela mão do acaso
iluminado pelo poder do seu riso,
pela harmonia do olhar
Do conforto infinito do abraço
Da melancolia que confortou
Meu cansaço
Eu sinto
Que de algum modo inefável
Tudo aconteceu por você.

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Sobre a palavra.

Amor é uma palavra bonita,
para sintetizar uma lista imensa
de vícios feios
e fracos.
Sua pele enrijecida
haverá de resistir
seu dedicação
a guerra
deverá sobreviver.
Forte
seguro
exato
pois o deserto não
perdoa
os que esquecem
do combate.

Não há espaço na vida
dos que lutam
para o que exige
devoção
e culpa.

Toda beleza que preciso
guardarei nestes porões
vigiados por demônios de granito
rebrilhando como o infinito.

Retorno.

Então eu retorno para mim:
terminada a curta estadia
entre tormento e paixão.
As palavras duras e fortes,
as acusações criminosas
todas as coisas feias
e más
que acontecem no fim.
Existem algumas lições que
um homem cansado não deveria esquecer;
a lei das sangrentas trincheiras
e as noites amargas de luto
para enobrecer algo amargo
é preciso muito mais que
palavras.
No final existe a cerveja,
existem os poemas
existe a jornada pelo
interior do deserto
e o pequeno girassol que carrego.

No final existo somente
nesse espaço silencioso e vazio
pasmo, carregado e ferido
que denomino curiosamente
de EU.

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Serenata e luto.

O peso exato do vento tem um nome,
e a cor das coisas se dissolve
no painel confuso das memórias que cultivo
para não perder o que deixaste em mim
de eterno.
A deriva nesse mar de atalhos,
Combatendo nessa guerra de contrários
Com as mãos sedentas de algo sóbrio
Como a polpa do carinho que sorvi
Contigo.

A noite se estende até o oceano
Os meus livros de estudo silenciam
E eu compreendo que também não
Tenha sido
A ocasião propícia para sermos NÓS.
Mas agora que não há razões
Agora que estás distante
Agora que luz perene dos seus olhos
Me deixou
Eu sento, sem metáforas, e acendo um cigarro
De luto por mim mesmo
E vazio de tudo
Menos de ti.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Sobre flores e guerrilhas.

Se o azul do céu tivesse som
E Se eu absorvesse a lição das rochas
Poderia haver compreensão
Para o sentido desses dias
e eu poderia esquecer tudo que houve
E seguir como seguia sem saber de ti.
Extático, informe e complacente
Mastigando a medula dos momentos
Para tentar sobreviver.

É certo que tens suas razões
É razoável que as estrelas queimem
que os vulcões consumam
que a substância do universo seja
furiosa.
Mas estou exausto...
E no que deveria ser e foi oásis
Não suportei encontrar mais aflição.
Pois eu cheguei inadequado, trôpego
E cansado
E você foi brisa, completude e brio
Sensação de aurora e fruta fresca
Madurês perfeita para saciar
No estio.

Mas os campos foram devastados
E minhas crianças calcinadas
Viram a madrugada aparecer em meio
A gritos.
Meu terror insone, teu peito destroçado,
Sua expectativa morta, meu pobre anelo
Enlameado por palavras de desdém.
Eu sei que me tens por homicida
Irmão de porcos, devorador,
Mas eu de ti só levo gestos soltos,
Desconexos;
Visões de mortos, luta armada,
Paz de afeto, lições de amor.

De tudo isso, não sei o que ficou
como pode a primavera suscitar vulcões?
como pode a lei das flores degolar bebês?
Pasmo eu sigo com essas questões
nessa hora fúnebre em que a luz se apaga.