segunda-feira, novembro 12, 2007

Filosofia !!!

Como muitas pessoas que lêem as barbaridades que escrevo, vivem cobrando de mim algumas linhas mais sérias e menos ressentidas, e como é notório meu hábito impopular de entre uns goles e fardos de farelo ler um Nietzsche um Heidegger ou um Sartre me senti na obrigação de escrever algo sobre filosofia. A princípio pensei em formular alguns princípios e máximas, ou em desenvolver algum ensaio sobre algum autor ou idéias, mas isso levaria muito tempo e como logo, logo, a dona que esquenta meus lençóis vai chegar e interromper meu refinado raciocínio, desisti desse projeto e resolvi falar de maneira mais superficial sobre essas coisas. Os filósofos são gente complicada, se eu tivesse que afirmar a existência de uma verdade absoluta, essa seria a primeira candidata; A segunda seria algo como: obviamente nenhum filósofo precisou dar duro para sobreviver, apenas leram muito e escreveram. Isso pode ser bem sofrido, é verdade, mas eu falo de correr atrás de bandido, carregar sacos de farelo ou dirigir um ônibus oito ou dez horas por dia. Se tivessem feito isso não imagino que tipo de filosofia nós teríamos, talvez nenhuma. Levar uma vida dura deixa as pessoas com uma visão bem estreita e impede o elevado pensamento necessário ao desenvolvimento do saber filosófico.
Sendo assim, nós pobres mortais que se reproduzem muito cedo, que precisam dar duro oito horas por dia e que possuem uma patológica inclinação para o velho e bom “tapa -na- macaca”, quando ocorre-nos o raro desejo de ler um bom livro de um desses sujeitos, nunca conseguimos deixar-nos persuadir e enfeitiçar por seus delírios como eles gostariam.
Nós geralmente lemos os filósofos como se lê um romance, esperando pelo lance seguinte achando fantásticos os movimentos e as mudanças, para depois fechar o livro e ir viver a vida fora do cinema. Todavia, é claro que não faltam devotos para um filósofo. O mundo está cheio de gente atrás de certeza, elevação e de uma forma de ficar por cima da carne seca.
Tem um lance bem psicotrópico na filosofia. Frases desse tipo evidenciam o fato: “presentidade quer dizer: o que constantemente concerne ao homem e lhe oferece morada” Sentiu a viagem? Não? É que é preciso várias doses pra ficar “ligado no lance”. Depois de viciados em diversas substâncias esses sujeitos começam a berrar as suas utopias. Nada contra, também tenho a minha. Por exemplo: fico pensando como seria tudo mais fácil em um mundo no qual não houvesse patrões, essas pessoas de olhos raivosos e sanha assassina. Mas, a minha utopia é bem mesquinha e se resume em um projeto pessoal atingível com os seis pontos da loteria. É, mas quem é capaz de provar que não existe coisa muito mais mesquinha por baixo desses altaneiros anseios reformistas? Prefiro não correr o risco, fico com a minha medianidade.
Acho que as pessoas têm o direito de escolherem o tipo de descrição do mundo que mais lhes aprouver, de se submeterem ao papa, ou as idéias de qualquer um pensador. É claro que estou inclinado a não gostar dessas pessoas, afinal a minha descrição do mundo é uma na qual não existem descrições de mundo pensadas de forma definitiva ou justificadas com pretensões de verdade, e na qual o pensamento está a serviço do momento e não o contrário.
Há momentos nos quais o mundo se parece singularmente com uma montanha de estrume, mas isso é rápido e passa assim que ligo a televisão, tomo uma cerveja ou que minha filhinha começa com seu imenso estoque de perguntas. Sendo assim tão volúvel ( como me disse uma senhora insatisfeita com minha ironia) fico puto da vida quando esses meninos me vêm com suas profecias do apocalipse e perco a compostura. Numa dessas ocasiões de mal entendido social, um menininho de universidade saiu com essa:
- O paradigma cartesiano bitolou a mente das pessoas, as tornaram seres cruéis e desumanos. Precisamos de uma mudança para um paradigma plural, de amplas possibilidades.
Estava fumando um cigarro e deixei o menino falar bastante até que enchi o saco e falei:
- Não sei... Por que mudar? Se as pessoas querem ser cartesianas, que sejam. Não vejo nenhuma “humanidade” para ser corrompida. Vejo apenas pessoas diferentes, com diferentes noções do que é e do que não é corrupção e do que é humanidade. Se você não gosta de alguém, você sai de perto, não tenta desentortar o sujeito. Se não pode sair de perto desenvolve outras estratégias menos conflituosas e constrangedoras, esse salvacionismo pós-moderno me cheira a catequese.
Rapaz, o menino começou a tremer e já não falava coisa com coisa. Na verdade foi bem cruel, podia ter continuado calado. Quem possui uma descrição muito sólida sobre as coisas, quem usa uma idéia ou um sistema de idéias como baliza fica chocado quando ouve coisas desse tipo. Até me arrependi, é verdade. Mas, faria tudo de novo, ah se faria.
A essa altura já é possível perceber mais ou menos quais são as minhas opiniões sobre filosofia, ou sobre falta de filosofia, dirão alguns. É que eu acho que a vida, a minha vida é muito curta para ficar pensando em coisas tão gerais de maneira tão insistente. Prefiro continuar vivendo um dia de cada vez, esperando pelo dia de amanhã para saber o que pensar. Praticando algo parecido com o que os chineses chamam de Wu-Wei, numa espécie de taoísmo irônico. Superando os problemas, tomando meus porres quando o cancro supura, tentando ser um pai legal e um amante não muito escroto ( redefinindo essas qualidades todo dia) ouvindo meu blues e até acreditando em alguma filosofia de vez em quando.

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