As tardes aos 15 anos
Eram de isolamento e gibis.
Alguns garotos namoravam:
O Adelmo,
O Delmário
E outros.
Para mim sobrava a solidão
E os livros.
Rabiscos inúteis em folhas de papel de pão
Pois o dinheiro do velho era pouco
Para um caderno idiota.
Haviam os valentões da escola,
Bons de bola e capoeiristas,
Com seus palavrões, transgressões, orgias
E garotas permissivas que gostavam de foder
Pelo cú.
EU tinha uns poucos fracassados amigos
Que até hoje se escondem na casa dos pais
e temem a vida que lhes pregou essa peça.
E u não tinha famillia,
Meu pai estava morto,
Minha mãe, uma neurótica
Dormindo com comprimidos e os ratos em cima
Da pia.
O velho fez o que pôde, ou não,
Mas fez mais do que deveria.
O alimento era esmola, o afeto era raro
Vivia invisível transitando entre pessoas
que possuiam uma vida.
As tardes aos 15 anos
Eram muito, muito infelizes
Como não deixou de ser desde então.
Um oco no centro do peito
De onde brotam palavras que não dizem nada
a ninguém
Só a mim.
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