sábado, fevereiro 27, 2010

15 primaveras

As tardes aos 15 anos

Eram de isolamento e gibis.

Alguns garotos namoravam:

O Adelmo,

O Delmário

E outros.

Para mim sobrava a solidão

E os livros.

Rabiscos inúteis em folhas de papel de pão

Pois o dinheiro do velho era pouco

Para um caderno idiota.

Haviam os valentões da escola,

Bons de bola e capoeiristas,

Com seus palavrões, transgressões, orgias

E garotas permissivas que gostavam de foder

Pelo cú.

EU tinha uns poucos fracassados amigos

Que até hoje se escondem na casa dos pais

e temem a vida que lhes pregou essa peça.

E u não tinha famillia,

Meu pai estava morto,

Minha mãe, uma neurótica

Dormindo com comprimidos e os ratos em cima

Da pia.

O velho fez o que pôde, ou não,

Mas fez mais do que deveria.

O alimento era esmola, o afeto era raro

Vivia invisível transitando entre pessoas

que possuiam uma vida.

As tardes aos 15 anos

Eram muito, muito infelizes

Como não deixou de ser desde então.

Um oco no centro do peito

De onde brotam palavras que não dizem nada

a ninguém

Só a mim.

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