domingo, dezembro 19, 2010

Contornando o domingo

Acordou mas demorou-se bastante na cama antes de se levantar. Era manhã de domingo e um samba entrava pela janela do quarto junto com os primeiros raios do sol. Na letra da música, assim como no resto do mundo, nada de novo. Uma pessoa falando de outra pessoa que a primeira gostaria que agisse menos como pessoa e mais como objeto. Estavam todos separados irremediavelmente mas essas doces palavras sopradas com entonações tristes davam a impressão que tratava-se apenas de uma decisão pontual, de uma “ingratidão”. Algo mexeu-se e se revolveu na cabeça dele impedindo-o de permanecer deitado a apartado de tudo como bem gostaria. Foi até a cozinha e esquentou um café. Passou manteiga em um pão francês e misturou o liquido negro e quente com uma gota de leite e algumas colheres de açúcar. Foi até o computador e colocou Schubert. Sim, você tem motivos para ficar espantado, os tempos são mesmos muito loucos. Hoje em dia um fracassado como esse não só ainda está vivo como ainda tem um computador. Que civilização doentia, que espécie degradada permite que um membro tão apartado e inadequado prossiga com esse grau de sarcasmo? Bom mas ele está aí, e tenho que falar dele também, afinal os demais já tem os seus Paulo Coelhos e Zibias Gasparetos para lhes narrar a existência.
Contudo, embora existindo, esse elemento não iria durar muito. A civilização não está tão degradada assim. Muitas mulheres alimentadas no leite sadio dos bons costumes e muitos patrões devidamente nutridos de bom senso iriam no tempo certo garantir que a inanição de afeto ou de dinheiro dessem cabo do aborto tardio. No entanto enquanto esse dia não chega ele prossegue colocando suas aspas em quase tudo que lhe aparece. Terminou de tomar seu café abrindo alguns email’s e dando-lhes a resposta que deveria dar, e não a que gostaria de dar. Colocou a roupa suja na máquina de lavar e acendeu um cigarro enquanto o aparato mecânico fazia o seu trabalho. Não tinha vontade de fazer quase nada que pudesse de fato fazer. Seus poderes ficavam aquém do desejo lhe sobrava. O sol estava muito quente e as praias certamente estavam lotadas. As praças estavam cheias de velhos querendo ser sociáveis e religiosos querendo ser salvadores metidos a besta. A televisão estava cheia de coisas inomináveis que produzem terríveis formas de enlouquecimento massivo. Os documentários intelectualóides eram panfletos para jovens a procura de alguma causa pela qual se empolgar. Restavam as mulheres. Sim. Isso era certo, ele pensou. Olhou os eletrônicos classificados a procura de alguma coisa pela qual pudesse pagar. Leu o 1º anuncio:
“Gostosinha manhosa. Faço tudo. Danço para você uma sensual dança exótica. Massagens também...”
Pulou para o próximo. Não gostava dessa coisa de dança. “Que diabos – ele pensava- tem a ver dança com trepada?” Não entendia todas essas músicas com alusões a caralhos e vaginas. Trepar é coisa que começa e termina. Como lavar roupa, ou cagar. Toda essa coisa de envolver sexo com arte lhe parecia coisa de quem tinha problemas com a transa. E esse, pelo menos, era um problema que ele não tinha; ou achava que não tinha.
“Universitária, alto nível, alta linda de peitos volumosos e bumbum empinado. 120 a hora.”
-Universitária? Arrgh – Pensou - As experiências com elas não tinham sido das melhores. Podia imaginar o olharzinho arrogante de quem diz: “Logo, logo vou ter um diploma e vou escarrar em perdedores como você.” Não precisava disso, não, realmente ele não precisava disso.
Depois de algumas dezenas de anúncios percebeu que não havia um jeito 100% seguro ou agradável de fazer aquilo. Foi para o banheiro tomar um banho e o pau subiu enquanto pensava em coisas que já tinha feito há algum tempo atrás, quando aconteceram milagres doces e acidentais trepadas . Deixou a mão trabalhar e o fluxo de consciência entrou no compasso da ânsia por submergir no nada; respirou fundo e chegou lá. É verdade que o domingo não tinha acabado, mas ele ainda tinha alguns truques na manga.

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