domingo, setembro 13, 2009

No fio da navalha

Terminei aquele dia analisando um conto de terror que não colocaria medo nem em uma criança. Saí da redação esgotado, desejando ardentemente chegar em casa, tirar os sapatos e beber uma geladissima cerveja. Sim ,pois apesar dos males conhecidos do álcool existem males ignorados que solicitam o seu recurso gelado e cego recurso . Os males antigos e sem nome e os males recentes e com nome, olhos lindos e um corpo de estalar o espírito. Estes últimos me afligem muito mais. Aflige-me a perspectiva da dor. Aflige-me a infidelidade possível de quem sei atrair outros homens. Sobretudo, no entanto, afligi-me a expectativa do encontro. Dei a volta no prédio e peguei o carro. NA rua todos tentavam ser bem sucedidos e ninguém admitia ser ultrapassado. A linha do oceano acompanhava o vidro lateral do meu carro. Ao chegar e minha caótica casa eu sabia que iria novamente afundar lentamente na desconfiança, na embriagues e no auto-erotismo com o qual satisfazia o meu corpo da ausência do dela. E ela? Onde estaria agora? Provavelmente em casa, vivendo sua vida oficial enquanto eu, o seu amor ilícito apodrecia em minha fome esperando que ela me viesse alimentar. Eu também sou como aqueles fracassados que sonhavam em ser escritores. Eu apenas tentava amar, apenas tentava, sabendo que não conseguiria.
Cheguei em minha casa. Abri a porta e o cheiro de comida estragada me recebeu. Algumas contas sob a assoalho. Tudo muito feio e normal .Fiquei de cuecas, e sentado no sofá, liguei para o celular dela. Caixa postal. O pensamento viajou e eu me senti mal duplamente. Mal pela dor moral da perspectiva do engano e mal por saber que nada me dava o direito de recriminar o gozo alheio. Remoi o meu rancor e abri uma cerveja. Também acendi um cigarro. Sentei no sofá e cochilei algum tempo. Ao acordar a primeira coisa que fiz foi olhar o relógio. Duas horas depois do horário marcado ela ainda não tinha chegado. O pensamento mais uma vez saiu do controle. Ia ligar novamente quando a campanhia tocou. AO abrir a porta com a mão ainda meio estremecida seu perfume me invadiu as narinas. A arrebatei entre meus braços enquanto sugava sua boca, tomava um dos seios em minha mão e com o pé esquedo fechava a porta. Fechava a porta atrás de toda agonia vivída, fechava a porta a qualquer tipo de bom senso.

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