segunda-feira, setembro 21, 2009

O relacionamento de Krishnamurti

Não sei porque escrevo tópicos tão longos se sei que ninguém lê textos em blogs com mais de quatro linhas. Talvez seja uma forma de conversar comigo mesmo. Um narcisismo insuperável como alguém observou.Todavia, devemos insistir em nossas idiossincrásias ou não poderemos justifica-las mais adiante. Gastei alguns bons anos de minha vida estudando assuntos religiosos. De Tomás de Aquino ao Budismo eu transitei entre muitas das diversas opções de religiosidade disponíveis em nosso mercado global. Tinha acesso a esses livros através de bibliotecas publicas e centros espiritas. Não dispunha de dinheiro, roupas ou meios de transporte para viver as experiências sugeridas por essas religiões para além do que elas podiam oferecer em forma de textos, mas mesmo assim fui bem longe. Espiritismo, Teosofia, ocultismo e alguns autores como Huberto Rohden que tentam fazer uma miscelânea de filosofia oriental e teologia ocidental, Magia, Ufologia e muitas outras propostas de sucesso existencial de baixo custo.Durante essa época minha vida pessoal era bastante turbulenta, não vou falar disso aqui, meus contos dão uma breve noção do que estou dizendo. Fato é que as contradições filosóficas e práticas em relação ao pressuposto básico que norteava essas aventuras intelectuais foram se acumulando de tal maneira que numa certa altura elas se tornaram, em bloco, absurdas para mim. É de Nietzsche a afirmação de que Deus é uma hipótese que ninguém pode beber sem se afogar. Acho que estive bem perto do afogamento, e após conseguir arribar a uma praia procurei conservar uma atitude de indiferênça em relação a quaisquer credos religiosos. Em outro momento explicarei isso melhor (se tiver paciência).
Todavia, nessas andanças conheci um sujeito chamado Krishnamurti. Dentre os sábios cheios de resposta a maioria das perguntas Krishnamurti destacava-se por apenas perguntar, e deixar que cada um encontrasse a sua resposta. É claro que ele partia de alguns pressupostos que filosófos treinados jamais admitiriam, mais isso não importava. Sua liberdade, originalidade e autenticidade superavam qualquer limitação argumentativa que pudesse ser apontada pelos devotos do conceito e da razão ocidental. Krishnamurti foi a preciosa peróla que eu trouxe de meu quase afogamento experimental. Essa peróla me ajudou e eu a interpretava como um convite a crença em mim, na minha solidão e sinceridade silenciosa. Mas um dia eu descobri que Krishnamurti tivera um relacionamento sexual com uma mulher que era esposa de um amigo.
No primeiro momento isso me chocou. A ultima expectativa de auto-realização supra-sensivel de desfazia, ou pelo menos, era colocada sob uma atroz suspeita.
Mas eu reponderei. Talvez a humanidade de Krishnamurti, seu amor por uma mulher de carne e osso, e ainda mais, um amor que contrariava os vínculos arbitrários criados pelos homens nada mais fosse que a sinalização do que entendi de suas palestras: não existem faróis para nos guiar, nem normas que não sejam aquelas que encontramos sozinhos. Falando filosoficamente talvez a descoberta sobre o caso de Krishnamurti tenha, ao invés de apagar a esperança de atingir o transcendente, me dado a dimensão exata do valor e inocência do natural, sensível e prosaico.

3 comentários:

Rafael Medeiros disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael Medeiros disse...

O Jiddu também iniciou em mim um processo incessante de auto-questionamento. E me ajudou a ver o tamanho da roubada em que estava me metendo tentando transformar água em vinho, alcançar o nirvana, parar o mundo, e outras coisas...

Unknown disse...

Pois é,a humanidade de Krishnamurti salvou a pátria!!!


Ethiane Romeny