Palavras acidentais, produzidas em gesto espontâneo para desaparecer em seguida no turbilhão do nada.
terça-feira, dezembro 25, 2012
Um conto de Natal
quinta-feira, dezembro 06, 2012
Tigresa,
Se vieres descansar da ventania
na maciez desarrumada do meu leito
minha poesia te acolheria
e afiarias tuas garras no meu peito.
quinta-feira, novembro 22, 2012
Desculpas de um louco.
sábado, novembro 10, 2012
Mantra da incerteza.
segunda-feira, outubro 29, 2012
Pressentimento.
que meus dedos trazem marcas de tinta
como garças que já foram brancas e leves
cobertas do óleo que o oceano inteiro pinta
Talvez um dia a chuva lave, as asas,
como uma noite de tempestade que termina
com um amanhecer suave sobre as casas
e o riso alegre na brincadeira das meninas.
Mas até lá, cada um com o seu fardo,
devo me aceitar como eu sou
confuso poeta do riso mal-formado
Algo germina em nossa vida
uma semente de amanhã que não brotou
e que nos pede uma breve acolhida.
domingo, setembro 09, 2012
Do outro lado da rua.
Elas estão por aí
deslizando suaves, com seus longos,
leves vestidos,
dizendo coisas engraçadas e
exigindo tão pouco.
Em algum lugar
em algum momento
olhando para alguém
virando a página de um livro
com dedos mágicos
e uma ansiosa vontade de
ser diferente.
Posso vê-las, com os olhos luzindo
os lábios famintos
a cintura inquieta
e alguma capacidade
de amar.
Sim, eu tenho certeza
que elas estão por aí.
Talvez bebendo em bares
que eu não frequento
conversando com amigos
que eu não conheço
assistindo filmes que não
sei que existem
indo a shows enquanto
eu fico em casa.
Perdido para todas
elas,
com minha cerveja,
meus males,
tantos e inúteis poemas.
enquanto elas estão por aí
em algum lugar pelo qual
eu jamais passarei....
quarta-feira, agosto 08, 2012
Nemêsis
quarta-feira, julho 18, 2012
finitude.
de tão rica.
esgota-se, escorre, gasta
pois basta.
para um homem seu agora
onde edifica
observa
e passa.
quinta-feira, julho 05, 2012
Cactos
que florescem sem alarde
para a areia
assim como borbulham
covardes
um milhão de paixões
em minha veia.
sexta-feira, junho 29, 2012
Apesar disso tudo.
sexta-feira, maio 25, 2012
Preço do tédio.
Exorcizar o tédio
com a paz de um
sopro,
mesmo que o medo
me venha à cama
eu pago agora
o preço
dessa luz
cigana
para apaziguar
minh'alma
Que se desfaz
em lama.
sexta-feira, abril 27, 2012
Retirada.
terça-feira, abril 24, 2012
algo
Pressentimento frio.
domingo, abril 15, 2012
Óleo quente, metafísica e ressurreição.
Eram dias em que eu andava cansado demais para concatenar especulações metafísicas. A patroa de mal humor há algum tempo andava me vigiando os bolsos e resmungando suspeitas sobre suspeitas, no trabalho todo dia o serviço aumentava e mesmo assim os boatos sobre demissões se renovavam há cada semana. O Ezequiel gostava de conversar enquanto carregava os pacotes de carvão para dentro do cilindro do filtro, onde o óleo da mamona passava por um processo de limpeza antes de se misturar com a soda cáustica.
- A realidade existe ou é um sonho?
Ezequiel interrompia o silêncio (quer dizer, o barulho) da fábrica com essas perguntas cretinas sem nenhuma razão específica. Às vezes eu precisava de alguns minutos antes de me dar conta do que ele estava falando.
- Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe.
-Mas é uma questão crucial! Sabe, os budistas tibetanos dizem que se entoarmos o mantra correto na hora da morte...
-Ezequiel, por favor! Sobreviver já é complicado demais sem essas suas perguntas. Pegue outro saco de carvão e vá colocar no cilindro, é a sua vez agora.
Ele dava um risinho com o canto da boca e descia as escadas para colocar mais carvão no filtro. Estava convencido de que eu era um místico enrustido. Imbecil. Para mim ele era apenas mais um sujeito procurando por um bote salva vidas ao invés de aprender a nadar. Eu ficava na refinaria de olho na pressão do óleo quente. Isso sim era importante. Um colega nosso, o Prospício, perdeu o controle da pressão e um dos filtros estourou cobrindo o sujeito de óleo fervente. Pobre diabo. Nunca mais iria conseguir encontrar nada que quisesse trepar com ele sobre a face da terra. É isso que acontece com quem se distrai. A menos que você tenha um papai e uma mamãe fazendo linha de frente para você, é crucial nunca ficar desatento. Essa sim é uma lição que vale a pena ensinar. Preocupe-se com o próprio couro, a menos que alguém esteja fazendo isso por você. É o diferencia os sobreviventes desses menininhos e menininhas encantadas, sonhando com marijuana, revolução, nirvana e amor eterno.
O alarme da bomba de óleo tocou: era hora de folgar as prensas, separar as imensas placas de metal e raspar a borra quente que ficava presa nas lonas do filtro. A borra era uma espécie de lama endurecida, preta e quente, que raspávamos com uma espátula para dentro de uma imensa tigela que ficava embaixo dos filtros. Depois retirávamos tudo com uma pá para um carro de mão e jogávamos no lixo o material. Isso tudo era feito entre as 10 da noite e às 06 da manhã. Não tínhamos sonhos. Eu viva um dia de cada vez, e quando sobrava alguns trocados enchia a cara de cachaça vagabunda e ia dormir. Ezequiel ia a um puteiro e deixava tudo com as garotas que aceitavam as mixarias que ele podia pagar.
Um dia Ezequiel não foi trabalhar. Fiquei preocupado. Eu sabia que faltar ao trabalho significava demissão. O patrão, um cearense tosco que se chamava Nero, não assinava nossas carteiras, não nos dava uniformes, e demitia por atraso, falta, corpo mole ou simplesmente por não ter ido com a cara do sujeito. Ezequiel não foi mais trabalhar e eu não o vi mais durante muito tempo. Um dia descobri que Ezequiel havia entrado para o MST. Continuava um sujeito esquisito, sem noção da estrutura prática da realidade, mas pelo menos agora ele estava usando isso a seu favor: montado em uma máquina partidária Ezequiel descobriu como transformar o deslumbramento idealista em um modo de ganhar dinheiro. Um dia meu dente, um dos últimos 5 que eu ainda possuía na parte superior da arcada, inflamou e eu fiquei com a cara inchada como se estivesse com uma bola de golfe na boca. Não fui trabalhar e me demitiram. A mulher foi embora na semana seguinte, um motorista de ônibus havia lhe oferecido condições mais interessantes de existência: achei muito razoável da parte dela. No meio de toda aquela crise, desempregado, sem mulher, banguelo, eu ficava em casa comendo arroz com ovo cozido durante a semana inteira: Uma vez por mês minha mãe conseguia um quilo de frango que eu dividia em minúsculas porções e por isso durava uns 10 dias. Cheguei a pesar 7 quilos. Comecei a ler os livros que Ezequiel havia deixado comigo. Trigeirinho, Paiva Neto, Paulo Coelho, Osho, Kardec e todas essas coisas começaram a me parecer razoáveis. De repente minha miséria já não era assim tão miserável. Aliás, eu começava a me achar um sujeito muito melhor que a maioria. Passei a frequentar um centro espírita e rapidamente me integrei na coisa toda. Em face da minha situação de penúria uma das dirigentes do centro me auxiliava com uma sexta básica e algum trocado de vez em quando. Minha ex-mulher me visitava às vezes e eu lhe pregava imensos sermões metafísicos. Ela dividia minha cama comigo e depois voltava para o motorista. Eu me sentia culpado e passava o dia seguinte inteiro entoando mantras, mas na semana seguinte ela sempre voltava. Um dia ela apareceu grávida, disse que queria voltar e eu deixei. Claro que eu me separei um pouco depois. Mas o mais importante é que aquela criança mudou toda a lógica de meu raciocínio. O além não iria dar de comer aquela criança e nem eu conseguiria fazer isso se continuasse correndo atrás dele. Pensar desse modo fez toda diferença pra mim.
quinta-feira, março 15, 2012
Jihad
terça-feira, março 13, 2012
Breve canção para depois de amanhã
sábado, março 10, 2012
A vida não tem senso de humor.
As vezes você tem sono. Deita-se na cama porque pode senti-lo, entre o queixo e o tórax emanando um suave torpor que chega aos seus olhos no modo de um peso, uma areia, imagens. Mas então você fecha os olhos e o sono desaparece. Em seu lugar ficam as cenas, as vezes do dia vívido, as vezes da vida sonhada, as vezes do mundo malquisto; o fato é que você não dorme. No entanto é tarde e você sabe que precisa dormir porque amanhã precisa levantar logo cedo. Mas essa subjetividade pré-filosófica tem seus próprios mandados e não tem nenhum senso de humor. O humor é uma coisa que as pessoas inventam para se defender do próprio desespero. A ansiedade está lá e você sabe que existem pensamentos rondando que precisam ser evitados. Imagens do cadáver de sua mãe sob o mármore do necrotério, a último emprego que te demitiu, a aluguel que vence em 1 dias e que você não sabe como vai pagar. Não existem, que eu saiba, formulas para lidar com os pesadelos. Por isso as pessoas não falam umas com as outras sobre a maioria dos sonhos, sobre os pensamentos que as assaltam quando intentam dormir. Você e eu sabemos que não estamos dispostos a ser despidos dessa capa de heroísmo e liberdade que ostentamos na luz. Toda noite eu penso, por exemplo, na morte. Não exatamente com medo de morrer, mas porque existe algo nela que as explicações religiosas e metafísicas não me parecem dar conta. Eu falo da experiência, do cheiro, do gosto, da sensação do meu eu no instante da morte. Minha carne tão óbvia equivale ao bife de alcatra que agora sangra em cima da pia...ou não? Ah, essa faca amolada do fato cru e sem poesia que me persegue e me alcança quando intento dormir. A vida não tem senso de humor.
terça-feira, fevereiro 28, 2012
As pegadas do pégaso escarlate - Um tratado sobre o Brio
Andando por uma praia deserta para tentar cauterizar mais uma chaga que me supurava no peito eu me deparei com uma garrafa que trazia dentro dela um papel. Pensei que talvez fosse uma mensagem de um naufrago, mas na verdade parecia um velho pergaminho, escrito em latim, que precisei da ajuda de um amigo da faculdade, especialista em filosofia romana, para traduzir o texto todo. Algumas partes ainda estão ilegíveis e talvez as publique depois. Seguem abaixo os trechos que consegui traduzir. O texto parece ser composto de aforismos soltos, com uma certa ordem temática. O autor se auto intitula Dom Germano, Leão de castela Velha. Um monge português, da época da expulsão dos mouros, ao que tudo indica. O texto é um pouco piegas e sacerdotal demais para o meu gosto. Bom, deixo aos leitores a responsabilidade em julgá-lo.
As pegadas do pégaso escarlate - Um tratado sobre o Brio
Não digas o que os outros querem ouvir, se você não quer se reduzir apenas o que eles se limitam a ser.
Não temas pelo que perdes em função da lealdade ao que a vida te tornou; a dor que se segue ao exílio fortalece as colunas do espírito.
Quem não te aprecia pela aridez que te cerca não sobreviveria sem crises nos desertos que tens que atravessar, portanto, existe sabedoria na lei da solidão que te cobre.
Ninguém estava contigo quando teu passo atravessou o abismo e portanto nunca encontrarás compreensão sobre a terra. Espera pelo milagre do entendimento, mas não condicione tua luta a ele.
Crê no amor, se ele vem iluminado pela saúde das coisas que se sabem relativas, mas não te aflijas por aqueles que procuram no amor um castelo contra tempestades. Eles foram criados em masmorras e agora não concebem a vida sem paredes.
Tua suavidade é o fruto raro que brota nas mais altas cordilheiras do seu pensamento. Quem não possui paciência, tato e força o bastante só poderá acreditar que és amargo. Não te inquietes.
Os que são como tu não te encontrarão, os que não são te cercam por todos os lados, e se eles te amam é porque tomam sua sombra por sua pessoa.
Como todos, tu também não sabes para onde estás indo, mas tens consciência do fato e eles não. A morte para ti é bem mais que uma palavra e a solidão é bem mais que o afastamento dos corpos. Sede firme como o velho arvoredo que se ergue confiante nas próprias raízes e bebe da seiva de sua curta estadia: o resto são apenas vislumbres.
segunda-feira, fevereiro 27, 2012
Sobre as razões da mulher.
domingo, fevereiro 26, 2012
Canção para as guerrilhas contra o medo.
segunda-feira, fevereiro 13, 2012
Aos incautos.
domingo, fevereiro 12, 2012
A poesia é para essas coisas ardentes.
A poesia é para essas coisas ardentes
Que o mundo ignora com risos
Cada palavra é um grito
transformado em ouro
a poesia é a pirâmide onde adoramos a dor.
Oceano de imagens remotas
Sonhos de afeto inconcluso
A poesia é o grito sem som
De alguma coisa
Que nunca estará totalmente
Na luz.
É claro que estamos sozinhos
É óbvio que a alegria é um vulto
Mas a poesia participa dos golpes
Que conseguimos acertar
Na aflição.
Desde que nos percebemos
Errados,
E que somos pinos quadrados
Empurrados para encaixes redondos.
A poesia é a asa partida,
A magia que nem sempre acerta
A poesia é minha margem deserta
Onde chego quando naufrago
Do mundo.
sábado, fevereiro 11, 2012
Encontro de estação.
Medo.
deixo-me estar
cansado.
Sob o sarcasmo do garçom
minha cerveja me apoia
com um afago.
Sou o que sobrou dos precipícios
afastado, fervilhando e sem segredo
meu desejo é o ponto cego
entre a sua aurora
e o medo.
terça-feira, janeiro 31, 2012
Madrugada.
Nas madrugadas
Uma sensação de abismo que me acompanha
Sem redenção
Um pouco semelhante aos recessos de um
Outono
Folhas partidas e flores
De plástico sobre um caixão.
Tenho tantas canções que não posso
Nem sei compor
Pesos de muitos anos, labores de judeu errante
Afagos estrangulados e margaridas
Materialistas
e muitas palavras doces para
substituir o amor.
Nos meandros de minha escolha
Surpreendo alguns meninos,
Atalho velhas bondades que se fizeram
Malvadas,
Bebo na escuridão do meu veneno nocivo
E morro sem novidades
Sem pai,
sem mãe,
sem amor
Sem nada.
segunda-feira, janeiro 23, 2012
Hoje eu perdi meu girassol sem sorrisos.
girassol sem sorrisos
que beijei na noite passada
como um anjo
sem saber que era um último
Adeus.
hoje eu vim
do plantio das lembranças
tentando mastigar taoismo e
tragédia
em um só coração solitário
que nunca mais terá abrigo
na terra.
Mas se as flores forem
sensatas,
se o vento possuir um corcel
meu girassol passo-a-passo
irá reflorir entre estrelas.
Com um sorriso refeito
de moça,
encantada novamente e
linda.
Se existir um deus nos espaços,
se os pássaros entenderem da dor
meu girassol ficará guardado
na luz.
Minha presença
que deixo seguir,
serena memória de amor.
domingo, janeiro 22, 2012
Porque as ruas estavam dançando quando eu saí do espelho?
quando eu saí do espelho?
Mãe, eu que havia estado estado contigo
enquanto perdida entre os caminhos da alma
você não me sorriu
ou notou.
Cinderela costurada entre sondas
também não compreendi
seu amor.
Eu possuía apenas minhas pernas,
meu fardo, algumas moedas,
cigarros,
e um passado sem canções
de ninar.
Eu apenas andava entre os carros,
apenas tinha vergonha do choro
apenas odiava tanto a Deus
que a face da terra incomodava
minha pele.
Eu não era um homem,
eu não estava entre os outros,
havia depositado minha senha
sobre sua testa
partida.
Sobre esse estranho cuidado opaco
sobre o recipiente vazio
de onde escapam gemidos.
Eu não era um homem,
eu nunca fui um menino,
eu sempre escorreguei entre os
cantos
tentando evitar novas dores.
Eu tenho pena dos postes,
eu lamento pelo sorriso
das putas
eu me devastaria sorrindo
para aniquilar da existência
essa coisa que se perpetua
entre espasmos.
Eu pensava, soluçava e sorria
em meio a frenética rua
que procurava me conter e domar
enquanto você comtemplava
o Lobato,
Periperi,
e remédios,
tudo seguindo sem rumo, sem flores,
como um rio entorpecido no inverno.
Alguma coisa em meu peito
espera
algo aqui dentro ainda pode
partir
enquanto lhe olho e reflito
e o mistério do mundo
é solidão minha mãe.
sexta-feira, janeiro 20, 2012
Banquete
calado
me percebo entre escombros
de vida
e algumas máscaras
partidas
para esconder a carcaça.
Trago uma caixa oca
entre os braços
e um nome geralmente maldito
para um sonho
singelo
em pedaços.
Tudo que aprendi do amor
se resume em sangue
e navalhas
o aprendizado da queda
em etapas
esse banquete de exigência
e batalha.
terça-feira, janeiro 10, 2012
Eu sinto.
dias de infância,
não sinto saudade.
Das horas tristes inventando brinquedos,
do abandono no quarto onde iriam
Me arrancar as amídalas
Da visita breve da mãe
Com um carro de bombeiros de plástico
Muito mais falso que a obrigatória
Visita
Não sinto.
Não sinto saudade,
Da mocidade,
Da puberdade sem namoradas
Ou sonhos,
Da vagabundagem sem destino
Ou honra
Dos amigos fracassados e parvos
Tão decaídos que conseguiam
Me ter por herói.
Não sinto saudade.
Não sinto saudade dos arcanos,
Dos mistérios inefáveis dos anjos,
Do sentido ideal de ser pleno
Da compreensão telúrica do nada
Daquela miséria travestida de luz.
Eu
não
sinto...
Meu passado é algo que tento
inventar de outro jeito
para saber que fiz o melhor.
exceto por um breve intervalo sem tempo
tocado pela mão do acaso
iluminado pelo poder do seu riso,
pela harmonia do olhar
Do conforto infinito do abraço
Da melancolia que confortou
Meu cansaço
Eu sinto
Que de algum modo inefável
Tudo aconteceu por você.
quinta-feira, janeiro 05, 2012
Sobre a palavra.
para sintetizar uma lista imensa
de vícios feios
e fracos.
Sua pele enrijecida
haverá de resistir
seu dedicação
a guerra
deverá sobreviver.
Forte
seguro
exato
pois o deserto não
perdoa
os que esquecem
do combate.
Não há espaço na vida
dos que lutam
para o que exige
devoção
e culpa.
Toda beleza que preciso
guardarei nestes porões
vigiados por demônios de granito
rebrilhando como o infinito.
Retorno.
terminada a curta estadia
entre tormento e paixão.
As palavras duras e fortes,
as acusações criminosas
todas as coisas feias
e más
que acontecem no fim.
Existem algumas lições que
um homem cansado não deveria esquecer;
a lei das sangrentas trincheiras
e as noites amargas de luto
para enobrecer algo amargo
é preciso muito mais que
palavras.
No final existe a cerveja,
existem os poemas
existe a jornada pelo
interior do deserto
e o pequeno girassol que carrego.
No final existo somente
nesse espaço silencioso e vazio
pasmo, carregado e ferido
que denomino curiosamente
de EU.
quarta-feira, janeiro 04, 2012
Serenata e luto.
e a cor das coisas se dissolve
no painel confuso das memórias que cultivo
para não perder o que deixaste em mim
de eterno.
A deriva nesse mar de atalhos,
Combatendo nessa guerra de contrários
Com as mãos sedentas de algo sóbrio
Como a polpa do carinho que sorvi
Contigo.
A noite se estende até o oceano
Os meus livros de estudo silenciam
E eu compreendo que também não
Tenha sido
A ocasião propícia para sermos NÓS.
Mas agora que não há razões
Agora que estás distante
Agora que luz perene dos seus olhos
Me deixou
Eu sento, sem metáforas, e acendo um cigarro
De luto por mim mesmo
E vazio de tudo
Menos de ti.
terça-feira, janeiro 03, 2012
Sobre flores e guerrilhas.
E Se eu absorvesse a lição das rochas
Poderia haver compreensão
Para o sentido desses dias
e eu poderia esquecer tudo que houve
E seguir como seguia sem saber de ti.
Extático, informe e complacente
Mastigando a medula dos momentos
Para tentar sobreviver.
É certo que tens suas razões
É razoável que as estrelas queimem
que os vulcões consumam
que a substância do universo seja
furiosa.
Mas estou exausto...
E no que deveria ser e foi oásis
Não suportei encontrar mais aflição.
Pois eu cheguei inadequado, trôpego
E cansado
E você foi brisa, completude e brio
Sensação de aurora e fruta fresca
Madurês perfeita para saciar
No estio.
Mas os campos foram devastados
E minhas crianças calcinadas
Viram a madrugada aparecer em meio
A gritos.
Meu terror insone, teu peito destroçado,
Sua expectativa morta, meu pobre anelo
Enlameado por palavras de desdém.
Eu sei que me tens por homicida
Irmão de porcos, devorador,
Mas eu de ti só levo gestos soltos,
Desconexos;
Visões de mortos, luta armada,
Paz de afeto, lições de amor.
De tudo isso, não sei o que ficou
como pode a primavera suscitar vulcões?
como pode a lei das flores degolar bebês?
Pasmo eu sigo com essas questões
nessa hora fúnebre em que a luz se apaga.