segunda-feira, março 02, 2009

Duas histórias de externalismo

Katia era unanimidade em nossa rua. Quando ela saia de casa no final da tarde para comprar pão ou ir ao mercado fazia os pobres fedelhos que jogavam bola na esquina tremer em suas bases, mas Katia não lhes dava a miníma. Orgulhosa, de andar altivo que impunha um certo respeito a molecada do suburbio mantendo-a a distância, Katia era assunto recorrente em nosso imaginário. Ela dispensava os estudos, afinal para que estudar quando o mundo inteiro parece abrir as portas quando ela passava rebolativa e se como exemplo de feminilidade ela não via nada para além dos horizontes românticos cantados nas novelas e rerpodzido por sua mãe e amigas? A Tania era diferente, sempre levada e sapeca, embora não menos formosa, ela misturava-se aos moleques na maioria das brincadeiras e não disfarça um certo atrevimento nas roupas que usava e no vocabulário que empregava. Tania identificava-se com as fêmeas aventureiras, fatais e sedutoras que via estampadas nas capas de revista masculina e nos vidéo clipes. ELa também tinha pouco a fazer na escola além de ensaiar seus artificios sedutores e namorar. As duas cresceram e se tornaram mulheres deslumbrantes. Diante da apreciação masculina Katia descobriu uma estrada para a construção de si-mesma. Cedeu as cantadas do rapaz mais possesivo e laborioso do lugar. Seu primeiro e ultimo namorado, o Paulo César era cobrador de ônibus, o que para os padrões da periferia era grande coisa. Ela tornou-se a sua esposa com 16 anos, sobre os protestos do pais, claro, e daí em diante a história de suas dores, alegrias e futuro confundiu-se com a história de Paulo Cesar, e para ela, essa fusão não foi muito vantajosa. KAtia, como era, brilhante e luminosa, em menos de 10 anos converteu-se em uma matrona ressentida, imensa, fofoqueira e permanetemente atormentada pelo ciúme.
A Tania, por sua vez, não casou-se. Transou pela primeira vez com 13 Anos e como sabemos, garota que transa fora de um relacionamento "estavel" na pereiferia fica "falada", foi o que aconteceu e Tania nunca mais teve o que chamamos de namoro "sério". Teve várias experiências afetivas e sexuais, com jovens deliquentes, motoristas de ônibus, Traficantes perigosos até virar mãe solteira aos 18 anos pela primeira vez, aos 20 pela segunda e com 25 já tinha 04 filhos. Cada um filho de um pai diferente, o resultado de um diferente insucesso. Aos 26 Tania converteu-se a uma igreja Protestante radical, a mesma que frequentava a matrona chorosa chamada Katia. Tornaram-se irmãs de culto e amigas e inventaram muitas justificativas para o sucesso dessa amizade erigida com os destroços de um imenso fracasso.

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