A decisão de escrever é uma atitude louca, uma tentativa desesperada de conseguir contornar o precipício. Poucos conseguem. Atravessamos, na maioria dos casos, o deserto sozinhos e somente na narração dessa história alguém caminha conosco. Acenamos com nossos gestos e com nossas palavras, alguém nos retorna outros gestos e outras palavras e a necessidade de fugir ao fato cruel de nossa solidão transforma esses acidentes em união, mas estamos sempre sozinhos. Imploramos para que leiam nossos poemas, desejamos ser amados por nossos corpos ou nossas escolhas e tudo isso não mais é que a fuga desse isolamento que não queremos. E o motivo pelo qual não queremos não importa, não modificaria em nada essa ânsia sabê-lo. Eu não me arrependi de atirar no traficante ontem a noite, ouvi depois o choro de sua familia, era só mais um trabalho. Creio que também não guardaria magoa se fosse ele a me atingir. Creio. Ambos os lados compõem um jogo, uma dança cujo propósito, se é que existe algum, desconhecemos. O capitão quer me condecorar pela ação, tentei faze-lo entender que isso não me interessa, que não me diz respeito e que o sucesso e a vitória são tão acidentais quanto contrair uma gripe. Todavia, ele tem seus próprios motivos. Noite de folga, a mulher fala em sair e ir a uma festa com amigos de trabalho, mando ela ir sozinha e fico em casa bebendo, ouvindo Stravinsky e fumando uns cigarros. A rua lá embaixo está agitada todos procuram alguma coisa e eu apenas reajo e espero. Um novo confronto haverá de chegar.
2 comentários:
rsrsrs, é isso mesmo man, sem chance
Da primeira vez q dei um tiro, morri junto àquela traficante.
Sua vida presa, marcada, me fez enxergar minha fragilidade, meus princípios, meus ideias, minhas
verdades conflitantes.
Eu fui condenada em seguida. Pela tropa, pela comunidade, pelos meus comandantes.
É sangue escorrendo à toa dos dois lados do confronto... Morrer por uma droga de vida não é gratificante.
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