A coronha do revolver estava espremida entre os meus dedos enquanto eu atravessava a favela. Ouvimos tiros vindo do alto do morro, provavelmete os traficantes estavam resistindo a nossa invasão. Era somente mais um dia de trabalho. Mais um maldito dia de trabalho que poderia ser de qualquer outro trabalho. Qualquer trabalho, em qualquer parte do mundo: seria a mesma merda de luta, as mesmas pessoas se chocando, querendo, querendo e querendo; Não importa o quê. Só esse movimento louco importava. Os rapazes do meu batalhão agora capturaram um pobre infeliz com uma arma enferrujada e alguns papelotes. Provavelmente deve ter tido sua glória e seu heroismo como um soldado do tráfico. Mas e agora? Em poucos minutos as coronhas dos rifles descem sobre seu rosto e ele é só mais um saco de sangue pisado e ossos quebrados. E é somente isso que somos? As vezes gosto de imaginar que estou me afastando, e então ficar apenas olhando. Olhando a crênça cega na vida e no seu beneficio, no prazer desejante e na fome de ser algo diante dos olhos de alguém. ondas e ondas imensas de pesoas se rasgando, mordendo, beijando...Querendo permanecer acima de tudo. Eu consegui mirar na cabeça do sujeito que se acreditava escondido no alto de uma laje. O tiro foi certeiro. A mulher e os filhos daquele traficante iriam chorar naquele dia.
2 comentários:
Caceteeeeeee man, que porra é essa ????!!!! essa é a escrita dos Filhos de Caim, leitores do mundo do sub-mundo perfeito man, perfeito...
Da segunda vez que dei um tiro, lembrei q já tinha morrido.
Entrei nessa profissão não por alma, mas por fome.
Queria mesmo era ter sido artista, ou salva-vidas...
Ser poeta e ser dentista pros índios na Amazônia.
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