segunda-feira, outubro 15, 2007

Carta a mãe (parte ll)

Com um salmo rubro de aflição
e desespero
eu quero estabelecer um ponto de retorno,
para ver tua chegada a um tempo ensandecido,
com tua mãe louca e suas visões de mortos,
com tua mãe estraçalhada em um leito abandonado
pelo pai ausente e suas prostitutas.
oh, mãe ! Eu conheço !
A mão que te talhou para a desgraça
e a bruma confusa na qual tentaste achar caminho.
Mas, ainda assim, te amo.
Pela dor sagrada
da cegueira que sofremos,
pelas setas dirigidas ao seu corpo atrofiado
e por aquelas ataduras que envolveram
os teus cancros de vergonha.
vergalhões enferrujados enterrados
na pele fina da consciência de si mesma.
Oh mãe, perdoa !
perdoa e vamos conversando até o ultimo portão
onde saltaremos de mãos dadas tulipas furiosas
desdenhando do descanso e da felicidade
até que o universo cesse esses espamos
que empapam teus cabelos de lagrimas sozinhas.
"todos a postos no ônibus do horror"
"paranoides olhos claros se esgueiram abaixo da mentira"
o principe chegou silencioso em seu brio inevitavel...
ele amou a tua chaga? ele tocou a dor da tua dor?
oh mãe, o que o fez chegar? para depois perecer em meio a calafrios
e delirios com demonios de fogo consumindo o infinito
para te abandonar na treva com uma pobre flor pequena
e a semente do que seria eu
triste entre fezes, morto entre vivos.
Mas, ainda assim, te amo.
E deixo esta oração como uma lápide
por sobre a podridão de nossa piedade.
doravante te amarei sem metáforas e vermes,
e o céu será azul a não haverão noites escuras
e as tempestades cantarão lindas canções de afeto
e habitaremos juntos os bosques do amor.

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