terça-feira, outubro 02, 2007

o silêncio e as coisas

A praia era distante e suas dunas de areia alva erguiam-se por toda orla até sumir-se no horizonte onde começava a cidade e sua loucura. As pequenas montanhas, encimadas por coqueiros e cobertas em alguns pontos de vegetação rasteira, separava o mar de um longo e estreito rio com águas escuras e do alto era possível ver seu caudaloso percurso, quase se perdendo no infinito. O som do mar era a soma do ruído de todas as ondas, grande e pequenas, rebentando-se nas pedras.
Ouvindo-as atentamente separando o som aparentemente uniforme em suas partes integrantes a beleza se fazia presente, e o pensamento e suas inquietações silenciava-se, punha-se apenas a observar. Em um ponto do rio as pessoas, turistas e nativos, banhavam-se e faziam barulho perturbando a harmonia do local com seus estridentes gritos, porém em meio à imensa beleza daquela paisagem eles eram meras exceções, um pequeno tanque de confusão em meio ao imenso reservatório da paz e do silêncio.
Em constante relação com o meio social, e dele retirados todas as premissas de satisfação
as pessoas tornam-se cegas para tudo que ocorre fora de sua estreita esfera de interesses, e por isso o mundo se resume em adaptação e luta, permeados da frivolidade que atenua a tensão de se estar constantemente tentando condicionar a experiência. Todos, num nível maior ou menor, vivem dentro de um mundo subjetivo de temores e desejos e a comunicação só se faz possível muito imperfeitamente através dos símbolos que são as palavras e é nelas, na comunicação verbal, na relação social que se tenta diminuir a angústia de sentir-se só e incomunicável dentro do próprio mundo.
Nessa comunicação está alicerçada a maioria das premissas de satisfação humana.
Por causa das características dos mundos pessoais de cada um daqueles indivíduos o lugar de sua reunião tornou-se tão barulhento era talvez uma reação ao silêncio da natureza e o efeito que ele produzia em suas mentes sofridas e angustiadas.
A tarde foi descendo lentamente por sobre as dunas e o horizonte que agora trocava o azul celeste pelo manto rubro do entardecer. Cansadas de tanta agitação as pessoas retornavam aos seus lares para contar aos amigos suas aventuras. A noite aconteceu em silencio e as coisas ficaram em paz.

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