sábado, julho 28, 2007

A morte e mais do mesmo


Tom chegou do trabalho por volta das 6 como costumava acontecer todos os dias exceto quando o movimento no açougue era muito grande e o patrão pedia horas extras. Samana, seu cachorro, veio lhe lamber as mãos e o vizinho do outro lado da rua o cumprimentou com desdém. Abriu a porta devagar e o cheiro de mofo lhe entrou pelas narinas junto com o cheiro da comida estragada na pia. Jogou a mochila com o uniforme sujo sobre o sofá e foi tirando as roupas até ficar completamente nu, depois foi até a geladeira tirou uma garrafa de vinho pela metade e começou a beber.Com os colhões em uma mão e a garrafa de vinho na outra tom sentou-se no sofá e ligou a TV, só por curiosidade. Jornais, mulheres histéricas sem bucetas, bucetas falantes sem alma, filhos da puta organizados em batalhões de homenzinhos organizados para lhe foder de qualquer maneira. Bebeu mais um gole e colocou um DVD para rodar, um documentário sobre direitos humanos que tinha apresentadoras de peitos incríveis. Tom bateu uma bronha, depois levantou, lavou a mão na pia da cozinha e acendeu um cigarro. Um vento frio lhe bateu no saco. Ele olhou para o lado, a janela estava aberta e uma mulher gorda de cara estúpida observava boquiaberta. Ele fechou a janela e ligou o rádio, Dylan tentava dar sentido a coisa toda do outro lado, era uma tentativa interessante. O telefone tocou, tom foi atender.
-Tom? Seu filho da puta!- era sua ex-mulher- Que dia vai trazer o dinheiro?
- Quando eu terminar de ganhá-lo benzinho- O cú de tom coçou e ele teve que seguraro aparelho com o ombro para satisfazer essa necessidade elementar.
-Sua filha não pode esperar que sobre dinheiro de suas orgias. Traz a porra do dinheiro ou vai se fuder !!!
-tarde demais benzinho- alguém bateu na porta- já estou fudido, aliás todos estamos.
Desligou o aparelho e foi ver quem era, no caminho pegou uma toalha, na frente lia-se a frase “Jesus te ama”. Ao abrir a porta deparou-se com a Bety. Seios fartos, negra de pele brilhante e quadris largos. Com um punhado de folhas de papel nas mãos ela o mirava com um olhar furioso.
-Pode me dizer o que significa ISSO? –ela disse jogando os papeis sobre tom e entrando em seguida. Ele abaixou, recolheu os papeis do chão, leu uma das paginas e entrou atrás dela fechando a porta.
-São alguns contos que escrevi, não estão bons mesmo, você tem razão precisam ser revistos. Ele respondeu dando outro gole no vinho.
-Conto uma porra !!! Ela levantou o dedo na direção dos papeis em sua mão- Você escreveu aí tudo que aconteceu entre a gente !!!
-Voçê está levando isso muito a sério meu bem... É só ficção. Ninguém se importa... As pessoas estão muito ocupadas consigo para prestar atenção.
-Como assim Ficção? –ela ficava muito gostosa zangada- Você reproduziu tudo que houve entre a gente a gente...até o lance com o poeta –ela enrubesceu ao lembrar do caso infeliz.
-para que ficar assim?-tom riu e deu outro gole sentando no sofá- Todo mundo faz merda, não há problema nisso.
-pouco me importa as merdas alheias,não quero ver as minhas expostas nem ficar relembrando isso.
-Lembrar é bom... Ajuda a exorcizar os fantasmas... Sabe o Freud dizia que...
-foda-se você, o Freud e sua maldita literatura...
Tom levantou com a garrafa na mão e foi em direção a janela enquanto a garota falava e gesticulava com raiva em sua direção. Na rua pessoas passeavam como robôs indiferentes. Cada um tentando ser uma coisa diferente do que era, a qualquer preço, querendo mudar, crescer, diminuir, engordar, emagrecer, esquecer, lembrar ou outra coisa qualquer. A garota continuava gritando.
-não vou servir de cobaia para suas experiências- ela saiu batendo a porta com força. Depois ia voltar, provavelmente querendo dar uma trepada. Tom foi para a cama, deitou e ficou de barriga para cima olhando para o teto. A pintura estava descascando e o limo fazia desenhos bizarros na parede. O sono o abraçou e ele dormiu.
Parte 2
Tom acordou algumas horas depois com muita dor de cabeça. Levantou-se da cama, foi até o espelho lavar o rosto e notou Algo de diferente no reflexo. Uma nuvem cinza lhe cobria a cabeça . Molhou de novo o rosto e quando se olhou novamente a nuvem tinha desaparecido. Vestiu seu uniforme pois acreditava que estava na hora de ir trabalhar. Passou manteiga em uma fatia de pão, mas quando a mordeu não sentiu gosto algum. Uma voz o chamou derrepente, vinda do quintal.
-Tom- A voz era suave, mas masculina- Tom Lewis?-A voz repetiu.
Tom levantou-se e procurou a direção da voz. Vinha da porta dos fundos. Foi em sua direção e ao girar a maçaneta e abri-la o que seus olhos encontraram, todavia não foi o quintal imundo com samana deitado no lixo e sim um homem de paletó branco e cabelo cortado escovinha, tipo apresentador de telejornal com os braços complacentemente cruzados atrás das costas.
-Olá Sr tom Sawyer- o sujeito falou, sua parecia ter eco e uma luz clara e ofuscante o envolvia e espalhava-se por toda parte. Não se via mais nada, só o sujeito e a luz.
-que diabos é você???- Tom bradou estupefato dando um passo para traz.
-Modere sua linguagem Sr Sawyer. Isso pode complicar sua vida por aqui.
-Perai, quem é você e que merda de lugar é esse?
-chamam de muitos nomes... purgatório, umbral , valhala...
-quer dizer que morri? Acabou? the end ?
-Bem sim e não,morrer você morreu mas isso não é o fim- Dizendo isso o sujeito deu um largo sorriso branco como a neve .
-Quer dizer... Que tem mais? Que piada de mau gosto.
-seu cinismo não ajuda
-tá,ta, tá. E agora? Vou falar com o chefão, rolar pedras morro acima, ser cozido em fogo brando-tom passou as mão nos poucos fios de cabelo que lhe restavam- como as coisas ficam?
-vai trabalhar em um hospital.
-Aqui também têm doentes? Espero que não tenha telenovelas também.
-você começa agora mesmo- O sujeito apenas gesticulou e tom foi miraculosamente coberto por um uniforme todinho branco.
-E quanto as explicações..sabe a polêmica... não faz sentido morrer e não ter respostas. Existe o tal de livre arbítrio? A linguagem expressa a realidade? Deus é onisciente?
-Sinto muito tom. - o sujeito balançou a cabeça- Também não tenho essas respostas, e duvido que alguém tenha, elas não nos interessam- Deu um tapinha amigável no ombro de tom que instantaneamente se viu adentrando os portais de um prédio imenso.
-Aqui o mais importante é seguir em frente, conhecer é secundário e em certa medida prejudicial.
-Mas... - tom balbuciou tentando objetar, sentia-se traído, mas foi interrompido.
-Ali estão os seus pacientes- varia camas alinhavam-se no salão imenso
Tom dirigiu-se as camas decepcionado. Tinha saído de uma ratoeira e caído em outra. Ao aproximar-se de uma das camas um dos pacientes lhe segurou o braço e ao voltar-se para olhar tom percebeu que tinha EXATAMENTE O MESMO ROSTO QUE ELE. Tom acordou suado e com o peito em pedaços. A casa parecia maior e sinistra. Levantou, não tinha mais vinho na geladeira. Olhou para a estante alguns comprimidos com o rotulo “TRIPITANOL 25” Lhe sorriram. Ele destampou o frasco e tomou um. O sono dessa vez veio sem culpa.

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