terça-feira, julho 24, 2007

Um, dia, de trabalho.

No supermercado não havia muito tempo para pensar. O ritmo louco da aréa de preparação, a marcação cerrada dos encarregados e os berros dementes dos dignissimos consumidores não davam margens a esse fenomêno irrelevante chamado subjetividade. Corriamos loucamente de um lado para o outro ou movimentando os braços mecanicamente no corte das carnes enquanto do outro lado do vidro as caras horrendas olhavam ávidas, esperando pelo pedaço de filé que lhes cabia. Os outros rapazes tentavam amortecer a consciencia cantando tolices ou fazendo piadas com a sexualidade uns dos outros, as vezes dava confusão. Todavia o gerente não interferia nas brincadeiras, ele sabia que aquela estupidez era boa para o trabalho continuar funcionando. Tudo tem seu preço e o da sobrevivencia muitas vezes é a propria vida que queremos salvar... que piada de mal gosto. Tinha um espirita que trabalhava comigo no açougue e viva dizendo;
- O sofrimento enobrece a alma, ajuda o homem a se elevar.-Ele nunca tinha ouvido falar dos casos em que ocorre justamente o contrário- A revolta é fruto da ignorancia. (santa simplicidade !)
Como já conheçia aquela ladainha não me importava muito, nem com a dos protestantes que também trabalhavam com a gente. Eu ficava na minha e deixava eles discutirem até se pegarem no tapa. Era até divertido. Somente quando me torravam muito a paçiencia é que eu largava algumas coisas do tipo:
- Se deus planejou tudo isso sem nos consultar é um escroto, portanto não venha com esse papo de "plano divino" e se ele não tem escolha e as coisas "tem que ser assim" então ele é impotente, logo tudo que voçê diz sobre Deus tá errado. E se não é uma coisa nem outra e os "misterios de deus são insondaveis"" então porque perder tempo falando disso e não de outra coisa qualquer tipo...o sexo dos anjos? e sabe do que mais? nenhum sentido faz sentido.
Mas ele não se dava por satisfeito, sabe como é essa gente, nunca larga o osso e está disposta a falar qualquer absurdo para não se dar por vencida. Ele ficava vomitando aquele besteirol sobre "causa efeito" como se a vida humana fosse uma bola de bilhar no sinuca da eternidade. Que merda. Enquanto isso a gente se afogava na lama daquele dia-a-dia caótico. As mãos doiam pelo frio e pelo esforço repetido e era comum acordar com elas inchadas.
Ao meio dia o movimento aumentava se tornando realmente insano. Uma vez escorreguei e cai com a bandeja cheia de carne na mão, fiquei uma semana sem poder escrever, compensei bebendo o dobro. quando chegava a hora do lamoço quase sempre já não tinha apetite e aquela fila de funcionarios estupidos, todos com os ganchos do patrão enterrados até a alma, falando do trabalho até qunado estavam cagando...simplesmente bizarro. Na hora da saida o sol do final da tarde estava sempre me esperando para me lembrar que eu tinha perdido meu dia de novo. O gosto do sem sentido entranhado na alma e sem um lar e uma mulher para contar o quanto tinha sido dificil.

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