As ruas costumam cantar quando chove na grande cidade. Os becos cheios de lixo e seus esfarrapados habitantes exalam um mau cheiro que parece vindo do inferno , e dos poucos cantos secos onde se encolhem esses desgraçados. As luzes dos predios onde se aconchegam os ricaços aos seus televisores piscam na escuridão , e o para - brisas da viatura se embaça com a respiração ofegante do meu parceiro de patrulha Ser policiaL nunca foi um sonho, orfão de pai e até certo ponto de mãe tambem, sem ensino tecnico...era uma maneira de conseguir dinheiro , eu achava que seria simples, achei isso até ver um colega espancando um garoto que roubava frutas num mercado sem que eu pudesse intervir por tambem ser policial. Aos poucos a violencia das ruas se entranhou em meu espirito como uma peste e sem que eu percebesse fui confundindo-me a mesma lama que sempre evitei.A convivencia o contexto ,a situação ...não condiciona o homem;o determinam .E hoje eu sou as ruas ,a sujeira ,os monturos ,a violencia...a tristeza e o desespero que nelas se arrasta e sua indiferença tambem. A viatura dobra a quinta avenida , a chuva desaba como um punho de furia sobre a cara da cidade .Uma agitação me faz olhar na direção de uma ruina a esquerda, eu peço para carlos, meu parceiro, estacionar. Nós descemos do carro. Com o colt45 numa das mãos e a lanterna na outra eu vou na frente encolhendo os ombros de frio sob o impermeavel, carlos vem depois praguejando como sempre. O vulto que vimos agora está perto, num pedaço de sacada ao abrigo da chuva, parecem duas pessoas em movimentos regulares, acompanhados de um choro abafado; Eu dou voz de prisão e as mando erguer as mãos. É um estrupo. Ao aproximar a lanterna o rosto sujo e sulcado pelo desespero ,os cabelos endurecidos pela sujeira e a pouca idade soterrada pela miseria vem a tona no rosto de uma menina de 10 anos no maximo . Seu verdugo é um produto do mesmo universo absurdo,uma obra mais acabada e perfeita talvez:um demonio magro e desdentado habitando a fronteira entre a demencia e a crueldade pura. Nós detestamos a maldade, mas onde ela começa? onde está a linha que separa o gozo permitido do crime? onde quer que se queira viver, não é imprescendivel matar? Carlo agarra o mendingo pelo pescoço e o acerta na nuca com todo peso de seus 110 quilos, o pobre diabo nem grita: cai como um pacote de ossos no chão e choraminga baixo enquanto apanha.Eu jogo o impermeavel sob os ombros da garota e saio do galpão ao seu lado, lá dentro ouço um tiro . A chuva parece diminuir, todavia a tempestade não termina nunca.
Palavras acidentais, produzidas em gesto espontâneo para desaparecer em seguida no turbilhão do nada.
sexta-feira, julho 20, 2007
uma lição de abismo
As ruas costumam cantar quando chove na grande cidade. Os becos cheios de lixo e seus esfarrapados habitantes exalam um mau cheiro que parece vindo do inferno , e dos poucos cantos secos onde se encolhem esses desgraçados. As luzes dos predios onde se aconchegam os ricaços aos seus televisores piscam na escuridão , e o para - brisas da viatura se embaça com a respiração ofegante do meu parceiro de patrulha Ser policiaL nunca foi um sonho, orfão de pai e até certo ponto de mãe tambem, sem ensino tecnico...era uma maneira de conseguir dinheiro , eu achava que seria simples, achei isso até ver um colega espancando um garoto que roubava frutas num mercado sem que eu pudesse intervir por tambem ser policial. Aos poucos a violencia das ruas se entranhou em meu espirito como uma peste e sem que eu percebesse fui confundindo-me a mesma lama que sempre evitei.A convivencia o contexto ,a situação ...não condiciona o homem;o determinam .E hoje eu sou as ruas ,a sujeira ,os monturos ,a violencia...a tristeza e o desespero que nelas se arrasta e sua indiferença tambem. A viatura dobra a quinta avenida , a chuva desaba como um punho de furia sobre a cara da cidade .Uma agitação me faz olhar na direção de uma ruina a esquerda, eu peço para carlos, meu parceiro, estacionar. Nós descemos do carro. Com o colt45 numa das mãos e a lanterna na outra eu vou na frente encolhendo os ombros de frio sob o impermeavel, carlos vem depois praguejando como sempre. O vulto que vimos agora está perto, num pedaço de sacada ao abrigo da chuva, parecem duas pessoas em movimentos regulares, acompanhados de um choro abafado; Eu dou voz de prisão e as mando erguer as mãos. É um estrupo. Ao aproximar a lanterna o rosto sujo e sulcado pelo desespero ,os cabelos endurecidos pela sujeira e a pouca idade soterrada pela miseria vem a tona no rosto de uma menina de 10 anos no maximo . Seu verdugo é um produto do mesmo universo absurdo,uma obra mais acabada e perfeita talvez:um demonio magro e desdentado habitando a fronteira entre a demencia e a crueldade pura. Nós detestamos a maldade, mas onde ela começa? onde está a linha que separa o gozo permitido do crime? onde quer que se queira viver, não é imprescendivel matar? Carlo agarra o mendingo pelo pescoço e o acerta na nuca com todo peso de seus 110 quilos, o pobre diabo nem grita: cai como um pacote de ossos no chão e choraminga baixo enquanto apanha.Eu jogo o impermeavel sob os ombros da garota e saio do galpão ao seu lado, lá dentro ouço um tiro . A chuva parece diminuir, todavia a tempestade não termina nunca.
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