domingo, janeiro 31, 2010

Meu primeiro poema.

De meu primeiro poema não restaram palavras

Ficou perdido entre os escombros

De onde escapei por um triz.

Foi escrito em papeis de pão

Entre os tremores da fome

Enquanto a comida guardada

Não era permitida pra mim.

Meu primeiro poema falava de

Amor,

tinha um aroma de relva

E a sílaba severa das coisas

Sutis.

Meu primeiro poema terminou

Com uma queda

Terminou com um choque,

Com a ruptura dos nervos

Diante das exigências do estômago.

Ninguém percebia o mal estar

Avançando,

A pestilência do afeto

E a incapacidade de seguir por completo.

Meu primeiro poema não me deixou nem

Um verso

Apenas expôs a ferida

Que iria me seguir toda vida.

Te condeno

Te condeno que me ignores
Que não me desejes
Que me consideres patético,trouxa
Ínfimo, tolo
Desastrado e sujo.
Te condeno que nem saibas meu nome
Que eu te seja invisível
Que a trama dos meus desejos
Não te diga respeito.
Te condeno que eu que eu te seja inodoro
Incolor
Inócuo
E vão.
Estarei dessa forma em teu não
Me tornarei o amante
Me isolarei do instante
Germinarei do teu chão

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Depois...Pode ser?

Agora não

Talvez depois.

Talvez anos luz

Para nós dois

Nos encontrarmos plenamente

Por enquanto

ainda não

Entendo gente

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Discussão metodológica com as sombras



Os ponteiros passaram a girar à meia noite por sobre as raizes
de nossa subtância.

"Façamos experimentações simbólicas para resiginificar o corpo e o
nosso olhar e ser olhado taciturnamente"

DIsse o artista

"Para uma desconstrução da teia de poder que corta a via, reação ao punho certo &
recontituição semântica da revolução essencial"

Disse o Sociólogo

"Dinheiro!"

eu disse;

"Uma libra de carne
Um punho
Um corpo
Uma caçada

E depois apagar as luzes
como se nada tivesse acontecido."


terça-feira, janeiro 26, 2010

Como faria Pereio - Herculano Netto

Ontem alguém me disse, em circunstâncias constrangedoras, que eu não valia nada. Não foi o xeque-mate, faltou ênfase, mas me calei -, também não me ofendi, pelo titubear da pronúncia sabíamos que não era verdade (devo valer pouco como o refugo de feira ou o jornal de ontem). A expressão “você não vale nada” é uma tendência, está na dublagem dos filmes, dos desenhos animados, em toques de celulares, em trilhas de novelas. Faz as vezes da palavra “canalha”, que já teve lugar cativo nas artes cênicas. O silabar de canalha na voz de uma musa da pornochanchada ou de uma diva hoolywoodiana ganhava contornos dramáticos, resumia tramas, despedaçava relacionamentos, fomentava paixões. Se espalhava na ferocidade do grito lancinante de Walter Franco no campo de batalha.
Canalha é uma palavra musical, sôfrega, excitante até. Fabrício Carpinejar, numa crônica famosa, diz que ser chamado de canalha por uma mulher é o domingo da língua portuguesa, é um elogio, uma agressão afetuosa. Talvez haja quem não simpatize com ofensas de nenhuma maneira, esses, certamente, não se deixaram aquecer na febre da inquietação e apanharam o primeiro paracetalmol que encontraram na gaveta, arrefecendo o devaneio, o desejo. Queria ser chamado de canalha ao menos uma vez, seria um prêmio, a certeza de que alcancei o pódio no coração de uma mulher. Queria ser chamado de canalha, soaria mais impactante, violento, vivo. Mas não se fazem mais calúnias como antigamente, canalha é uma ofensa em desuso, démodé.
Ontem, quando disseram que eu não valia nada, dei um riso cínico, irritante, como faria Paulo César Pereio.

Postagem extriada do blogg : http://herculanoneto.blogspot.com

Profundamente - Saroyan

"Tenta aprender a respirar profundamente; a saborear realmente a comida, quando comes; a dormir realmente, quando dormes. Tenta ao máximo estar completamente vivo, com todo o teu poder, e quando te rires, ri perdidamente.»

Instâncias do caos

Porque nos surpreendemos ainda diante da desgraça? Não estamos todo o tempo expostos a sua intervenção? EU estava em casa me preparando para ir trabalhar quando minha ex-mulher ligou. O diagnóstico da Agni, minha filha, havia chegado e não era dos melhores. O risco de uma parada cardiaca era iminente. Uma nova carta tinha sido posta a mesa e mais uma vez a roda era colocada em movimento por motivos que eu desconhecia. Uma nova frente de batalha da vida, da esperança, contra a morte e o desespero. Uma batalha às cegas e sem saber quais eram as chances de sair vencedor. Quem tira proveito disso tudo? Em que consiste exatamente (e não me venham com metáforas piedosas para manter as vossas ilusões) essa trajetória de sangue, de suor e de loucura? Só me resta sustentar o combate sem perder de vista os motivos pelos quais eu luto e o momento certo para entregar os pontos.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Carta para uma mulher.

Esta noite eu poderia oferecer um toque de fogo

E apaziguar a tempestade em teu seio.

Eu traria a desenvoltura dos rios

Para lamber as aflições de tuas horas

Sozinhas.

A manhã é triste e sangra,

toda noite chegam

Outros presságios...

Eu estaria cego se não soubesse

Mulher

Que a estrada deixa marcas e confusões,

que todos sentimos o medo nos ossos,

que a luz infinita do teu olhar,

nada pode diante da dor.

Mas, olha, esta noite

Apenas esta noite

Eu posso oferecer um toque de fogo

E apaziguar a tempestade em teu seio.

em teu seio forte e cansado

Onde tenho me debruçado

na procura inevitável de esteio.

sábado, janeiro 23, 2010

Manual de auto destruição do passageiro

Não posso assumir as consequências por este escrito. Ele foi encontrado por mim em condições que infelizmente não posso citar. Todavia devo dizer que suas palavras me pareceram muito honestas e por isso resolvi publicá-las. Você irá ver as janelas de ônibus com outros olhos depois delas.

Manual de auto destruição do passageiro

Prg.1 Seção - A

"Você alguma vez já se pegou mapeando os rostos humanos enquanto transita de ônibus de um ponto a outro de vosso destino? Já observou que em cada expressão se pode obter uma resposta diferente acerca da pressão aleatória do mundo? Pois cada traço, cada sulco, cada sorriso imposto na faces que observares te dará uma diferente estratégia para se virar com as coisas.
E ao desenvolveres esse hábito curioso perceberás também em ti mesmo coisas obscuras que não gostarias de notar. Irás ver as esquivas desculpas que usas para obter aprovação de ti mesmo, por exemplo. Também ficarás mais frio. Irás ter com os seus iguais munido de uma séria desconfiança, de uma suspeita de tudo que parece simples e impessoal. Talvez te esquives desse caminho da observação antes de sentires suas consequências. Mas se persitires nesta arte maldita chegarás a premeditar os atos alheios, a saber qual a proxima crueldadezinha que a dor de uma vida irá fazer cometer. Terás um poder imenso em suas mãos. Poderás desprezar jogo engendrado por tais seres doloridos, como tu, ou tomar em suas mãos o ancinho e o chicote para exigir sua cota de sangue. Mas será um poder inutil. Será um poder em um mundo onde o poder perdeu toda glória. Um mundo no qual o poder é meramente um espasmo. O mundo da superficie dos rostos. Dos rostos parados, arrancados de seus contextos . Enquanto você transita de ônibus."

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Por que escrevo?

“Por que escrevo? Eu não sei bem e não sei ao certo. tampouco gostaria de sabê-lo com certeza porque eu sinto que o dia em que souber de forma perfeitamente racional irei parar de escrever. Eu só sei que quando eu paro de escrever me sinto mal: decai meu animo, meu humor azeda, me invade uma tristeza infinita por saber que estou sendo desleal a mim mesmo, a meu sonho doce e cruel, o de sentir-me, um dia, ainda que distante, um escritor. Eu suspeito que eu escrevo porque é uma maneira de viver outras vidas, para viver novamente, para viver melhor. Eu sinto que a necessidade, a urgência de escrever , muitas vezes surge no meu caso, de um conflito, uma ferida do passado, um descompasso com a realidade. Para escapar da infelicidade e vingar na ficção todas as derrotas e misérias a que inevitavelmente nos condena a própria vida, alguém talvez sinta a tentação de inventar uma outra vida, outras vidas, e fazer tudo aquilo - a aventura gloriosa e pequenas traições, os excessos de amor e paixão descontentes triunfos e fracassos - que a realidade através de malabarismos complicados nos furtou mesquinhamente. (...) O ato de escrever nasce de duas feridas que nunca cicatrizam: O cinza da realidade e a certeza de nossa morte.”


Bayly, Jaime - O Deus perturbado