“Por que escrevo? Eu não sei bem e não sei ao certo. tampouco gostaria de sabê-lo com certeza porque eu sinto que o dia em que souber de forma perfeitamente racional irei parar de escrever. Eu só sei que quando eu paro de escrever me sinto mal: decai meu animo, meu humor azeda, me invade uma tristeza infinita por saber que estou sendo desleal a mim mesmo, a meu sonho doce e cruel, o de sentir-me, um dia, ainda que distante, um escritor. Eu suspeito que eu escrevo porque é uma maneira de viver outras vidas, para viver novamente, para viver melhor. Eu sinto que a necessidade, a urgência de escrever , muitas vezes surge no meu caso, de um conflito, uma ferida do passado, um descompasso com a realidade. Para escapar da infelicidade e vingar na ficção todas as derrotas e misérias a que inevitavelmente nos condena a própria vida, alguém talvez sinta a tentação de inventar uma outra vida, outras vidas, e fazer tudo aquilo - a aventura gloriosa e pequenas traições, os excessos de amor e paixão descontentes triunfos e fracassos - que a realidade através de malabarismos complicados nos furtou mesquinhamente. (...) O ato de escrever nasce de duas feridas que nunca cicatrizam: O cinza da realidade e a certeza de nossa morte.”
Bayly, Jaime - O Deus perturbado
Um comentário:
Rapaz. Estou pasmo. Esse sacana disse absolutamente TUDO nesse recorte, escarafunchou a ferida, até mais que Henry Miller e sua honestidade absoluta(?).
Cara, por isso eu afirmo sem titubeios: se eu parar de escrever, eu me mato da forma mais rápida e sem cerimônia possível. Ou seja, escrever, para mim, é uma forma de matar-me sem ir literalmente para a cova. Ainda que eu saiba que a cova é inevitável e que a vida é uma puta da ladeira da montanha sifilítica e sem os dentes. Agora eu pergunto, por que essa insistência em continuar aí, na jogada? Vai saber..., talvez este seja o único ponto em que o Bayly não tocou, e que Dostoievski tanto conhecia: O masoquismo.
Abraço!
Postar um comentário